19

Helena

A noite de sábado começa tensa, mas termina da melhor forma possível. Fazer amor com Marcos pela primeira vez foi muito além do que eu imaginava. Ele foi carinhoso e paciente, amou meu corpo e minha alma, não falamos de sentimentos, mas é nítido em seu olhar e nos seus gestos que ele senti algo forte por mim, assim como eu por ele.

Dormimos abraçados, virados um de frente para o outro, minha cabeça apoiada em seu braço, sentindo o cheiro do seu peito e seu outro braço jogado sobre minha cintura, apertando de leve, me levando de encontro ao seu corpo.

Nunca em minha vida me senti tão à vontade e tão bem cuidada por um homem.

Acordo e quando abro os olhos, me deparo com seu rosto sereno. De olhos fechados, ele parece mais com um anjo, meu anjo salvador. Na verdade, tenho dois anjos, o primeiro é o meu irmão, que me encorajou a tomar uma atitude sobre minha vida. E o segundo e o que está se tornando mais importante, Marcos, que está me fazendo acreditar novamente que posso ser feliz.

Fico admirando seu rosto enquanto minha mão sobe por seu braço, fazendo um carinho leve. Beijo sua boca suavemente e me desvencilho do seu aperto. Levanto, tentando não fazer barulho, percebo que dormimos nus e vou para o banheiro, faço minha higiene pessoal e decido tomar um banho. Ligo o chuveiro e entro embaixo da água gelada, ainda são oito horas da manhã, mas aqui no Rio é assim, o sol já nasce fervendo.

Enquanto sinto a água refrescar o meu corpo, fecho os olhos e me pego pensando no rumo que minha vida está seguindo. Em um mês, eu larguei meu marido relapso e abusivo, saí de casa, ganhei um irmão e uma cunhada, e agora acho que um namorado. Será?

Eu nem me separei legalmente e já tenho outro homem na minha vida. Ele terminou com a namorada depois de me conquistar, posso dizer assim. Será que esse caminho já estava escrito ou foi uma mera coincidência o fato de nos vermos meses atrás e ele me dar o seu cartão, que ficou comigo durante todo esse tempo e agora estarmos começando algo novo?

Enquanto a água cai em meu corpo, eu tento deixar as dúvidas irem com ela, sempre gosto de pensar embaixo do chuveiro. E o pensamento que mais se repete é Tenho medo. Oh Deus! Como tenho medo! E de tantas coisas.

Tenho medo do Lucas me encontrar antes de eu estar pronta para enfrentá-lo, afinal, eu saí fugida de casa. Tenho medo de estar me precipitando com Marcos e principalmente, medo de me apaixonar novamente, o que irremediavelmente já está acontecendo e eu não sei como será daqui para a frente.

E isso me amedronta e me anima ao mesmo tempo.

Estou tão confusa com tantos acontecimentos e tão distraída, de olhos fechados com meu coração batendo descompassado acompanhando meus pensamentos confusos, que não escuto a porta do banheiro sendo aberta. Só percebo que tenho companhia quando escuto o box sendo aberto, viro meu rosto de relance e vejo Marcos nu, me observando.

— Bom dia.

Continuo de costas para ele, não quero que Marcos perceba o quanto estou perturbada, mas parece ser em vão.

— Bom dia — ele diz se aproximando, me abraça por trás e deposita um beijo em meu pescoço. — O que você tem?

— Nada — Não me parece nada, já que estou te olhando faz uns dez minutos e você sequer notou a minha presença.

Sorrio, porque ele parece me conhecer muito bem. Fico vermelha como um tomate, é tão bom e tão ruim uma pessoa te conhecer tanto assim. Não quero dizer o que me aflige, até porque nem mesmo sei ao certo. São tantas coisas e ao mesmo tempo não é nada.

— Não é nada com o que você precise se preocupar.

— Tudo o que diz respeito a você me interessa ou me preocupa — suas mãos sobem suavemente pela minha barriga e agarram os meus seios, seu rosto vai para o outro lado do meu pescoço e dá uma mordidinha de leve. — V amos fazer assim, vou fazer você relaxar agora e depois me diz o que se passa nessa cabecinha linda.

— Tudo bem.

Sussurro com a cabeça apoiada no seu ombro direito, dando mais acesso ao meu pescoço. E em poucos minutos Marcos me transporta para outro mundo.

****

Depois do banho mais demorado que já tomei na vida, porque não conseguimos parar de nos tocar e consequentemente fizemos amor mais uma vez, coloco um vestidinho florido de alcinhas e por baixo apenas uma calcinha. Me visto sob o seu olhar atento e saio do quarto antes que ele me agarre novamente.

Já na cozinha, preparo a cafeteira, faço suco de laranja, corto umas poucas frutas e faço torradas, separo uma geleia de damasco, queijo e outras coisas.

Estou colocando tudo na mesa quando Marcos chega, me abraça apertado e dá um beijo em meu cabelo. Nos sentamos sem falar nada, mas com um sorriso gigante no rosto, começamos a comer.

V ez ou outra Marcos me dá uma fruta na boca ou alisa o meu rosto. Estamos em um clima agradável.

— Então, agora vai me dizer o que está te incomodando?

— Na verdade, nem eu sei o que é — tomo um gole do meu suco.

Ele fica me olhando por um tempinho, enquanto mastiga sua torrada lambuzada de geleia. Inclina a cabeça um pouco, tentando me analisar.

— V ocê sabe sim e eu acho que está com vergonha de me dizer, mas não precisa ter, Helena. Eu vou entender o que quer que seja e vou tentar ajudá-la.

Recosto na cadeira, abaixo os olhos soltando um longo suspiro. Por onde começar?

— Ah, Marcos, não é nada, mas é tudo, sabe? É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. E na verdade, o que mais me atormenta é o medo.

— Medo? — aceno que sim. — Medo de quê, minha linda?

— De tudo — passo as minhas mãos pelo vestido. — Lucas está por aí atrás de mim, agora tem sua ex-namorada e tem nós.

— Helena, olha para mim — nem percebi que não estou olhando para ele, levanto o olhar e o encaro. — Lucas não pode machucá-la, primeiro que ele não sabe onde você está, e mesmo que ele descubra, você não está mais sozinha.

Quanto à Clarissa, ela não fará nada, pode ficar tranquila. Tudo bem?

— Aham.

— E o que você quis dizer sobre nós?

— Eu não sei — suspiro. — Eu ainda estou em processo de divórcio, com um ex atrás de mim, você terminou há uma semana com sua namorada, não sei, mas acho que estamos indo rápido demais e isso me dá um certo receio.

— Deixa eu falar uma coisa, minha linda. Não estamos indo rápido demais, tudo está acontecendo ao seu tempo.

V ocê e eu somos desimpedidos e nada, e nem ninguém vai me fazer ficar longe de você. Eu sei que dá medo quando saímos da nossa zona de conforto, mas a vida seria muito sem graça se tudo fosse fácil, certo? — ele pisca para mim e sorri, se inclina sobre a mesa e me dá um selinho. — E pode ter certeza que vou acabar com cada um dos seus medos, você vai ver. Agora vamos terminar o nosso café e sair.

— V amos para aonde?

— Para onde você quiser, doce Helena.

Depois de nos fartarmos com um pouco de tudo, lavamos a louça, arrumamos a cozinha e guardamos tudo.

Troco de roupa a pedido do Marcos e coloco um short branco, uma regata e um tênis. E de mãos dadas, saímos do meu apartamento e vamos para o apartamento do Alex. Conversamos um pouco e marcamos de almoçar juntos.

No carro, Marcos abre a porta para mim. Sorrimos, e mais uma vez ele pergunta para onde eu quero ir. Como eu não tenho ideia do que fazermos, ele toma a iniciativa e diz que faremos algo bem simples, mas muito prazeroso.

Acreditando nele, vou o caminho todo na expectativa do que faremos e morrendo de medo de encontrar Lucas.

Com o rádio ligado, vamos cantando baixinho, sempre que está com a mão livre, Marcos a coloca em minha coxa, então vou o caminho todo sorrindo e sentindo o vento no cabelo. Não levamos mais do que meia hora para chegarmos à Gávea, outro bairro carioca. Marcos para o carro em um estacionamento particular e mais uma vez, saímos de mãos dadas, dessa vez pelas ruas do Rio.

Atravessamos a rua e andamos pela orla da praia, vendo as pessoas se divertindo cada uma de uma forma, crianças fazendo castelos na areia, pais bebendo sua cerveja e mães pegando sol, os mais corajosos enfrentavam as ondas. Mais uma vez me pego sorrindo, nunca fiz algo tão simples como caminhar pela orla da praia com Lucas, ele nunca foi tão romântico. Depois de dez minutos andando e de ter bebido uma água de coco fresquinha, não aguento o suspense.

— Diz logo para onde vamos! — Dou alguns pulinhos, me sentindo uma adolescente. Marcos ri.

— Estamos chegando.

Cinco minutos depois chegamos ao outro lado da praia, onde tem uma estação de aluguel de bicicletas.

— V amos andar de bicicleta? — ele acena que sim. — Ai, que legal!

Marcos liga para a central de atendimento e aluga duas bicicletas, passa os dados do cartão de crédito por telefone mesmo e paga a fortuna de dez reais para alugar as duas. As bicicletas são desbloqueadas e cada um pega a sua. Sorrindo um para o outro, subimos nas bicicletas e começamos o nosso passeio.

E posso dizer com toda a certeza do mundo, que estar ao lado do Marcos, fazendo coisas como esta, está me fazendo enxergar que estou vivendo de verdade, e aos pouquinhos deixando o receio e as dúvidas para trás.

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Comments

Amanda

Amanda

💕💕💕 🚲🚲🚲

2023-08-15

1

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