9

Depois de horas sendo apertada por mãos habilidosas, volto para casa. E posso dizer que volto mais animada, e até mais feliz. Adentro a minha sala às seis horas, primeira vez em dias que eu sorrio sem um motivo aparente. Passo rapidamente na cozinha e aviso a Joana que já estou em casa, e peço que prepare algo leve. V olto a caminhar, mas desta vez vou em direção à escada, e assim que entro no meu quarto, pego o celular que Alex me deu, coloco no silencioso e o guardo na gaveta do criado-mudo que fica do meu lado da cama, embaixo de alguns livros que estão ali. Guardo a minha bolsa no closet e vou tomar um banho. Mesmo tendo acabado de tomar banho no SPA, o calor de quase 40 graus do Rio de Janeiro faz com que eu queira me refrescar novamente.

Tiro a roupa e entro no box, a água gelada imediatamente me relaxa.

Enquanto lavo o cabelo, fico cantarolando. Ouvi essa música no rádio a caminho de casa e agora ela não sai da minha cabeça. Aos poucos, minha voz vai se elevando, canto o refrão sorrindo.

É a única parte da música que eu lembro.

Porque eu gosto é de rosas E rosas e rosas Acompanhadas de um bilhete Me deixam nervosa...

Toda mulher gosta de rosas E rosas e rosas Muitas vezes são vermelhas Mas sempre são rosas...

De olhos fechados estou enxaguando meu cabelo, quando sinto mãos quentes segurarem a minha cintura. Meu corpo reage na hora, ficando tenso. Minhas mãos param em meu cabelo, aperto mais os olhos e minha boca começa a tremer.

Sinto sua boca beijar minha nuca e suas mãos apertarem minha cintura.

— Oi, querida.

— Oi — estou travada, não consigo dizer nada. Desde que Lucas me estuprou, que ele não encosta em mim. O máximo que fazia era me dar um beijo ou me abraçar.

— Estava tão linda distraída, lavando o cabelo — mais um beijo no pescoço. — Que não resisti e vim aqui aproveitar do que é meu.

Meu coração bate tão rápido, que falta rasgar meu peito. Não quero que ele me toque assim, não quero nada com ele. Mas Lucas parece não perceber o meu desconforto, porque continua com sua exploração. Uma mão sobe agarrando meu seio esquerdo e a outra faz o sentido contrário, parando no meio das minhas pernas. Na hora que sinto seu dedo circular meu clitóris, travo o mais forte que posso as pernas, numa demonstração clara de que não estou a fim. Minhas mãos resolvem agir também e tiram a dele que estava sob meu seio e tento me afastar, mas ele circula a minha cintura com o braço esquerdo e me aperta de encontro ao seu corpo.

— O que foi, Helena? Eu dei a você o tempo que precisava para se recuperar, mas agora eu a quero — ele força minhas pernas com as duas mãos, me fazendo afastá-las.

Tento me afastar e consigo sair de perto dele, mas quando me viro para dizer que não quero, me assusto. Ele está com aquela expressão novamente.

Rápido demais, ele vem para cima de mim e me prende de costas na parede do box. Com uma mão, prende as minhas duas acima da minha cabeça, com o joelho ele afasta minhas pernas, encaixando a dele no meio delas. E a outra mão segura firmemente o meu rosto.

— O fato de você não querer e lutar, me deixa mais excitado — beija minha boca. — Mas hoje eu não quero machucá-la. Então você tem duas opções — a mão que segura o meu rosto desce, agarrando o meu seio com força. — Ou você me dá por bem, ou vou fazer com você o mesmo que da última fez.

Arregalo os olhos. Meu Deus! O que eu faço? Eu não quero transar com ele, mas também não quero apanhar, nem ser violentada. Não quero sentir a dor que ele me fez sentir. Ai, Deus! O que eu faço? Fico tanto tempo sem ter nenhuma reação, que ele toma isso como uma confirmação.

— Isso, Helena, relaxa. Eu cuido de tudo.

Fecho os olhos, tentando levar minha mente para outro lugar.

Ele faz o que quer e depois do que me parecem horas, me lava, seca e me leva para cama. Então me beija na boca com suavidade e com um sorriso simpático nos lábios, me diz que irá para um jantar de negócios e que não devo esperá-lo acordada. Escuto a porta bater, e enfim, meu corpo relaxa.

E junto vem o choro incessante. Por quê, meu Deus? Por que eu tenho que passar por isso? Dai-me forças, Senhor, para sair desse inferno! Esse é meu último pensamento antes de dormir.

E assim meu dia que começou bem e razoavelmente feliz, termina triste e vazio.

Alexander

Amo o meu trabalho. Vigiar, vasculhar, descobrir segredos das pessoas é o que mantém minha conta bancária em um nível razoavelmente alto. E saber que tenho o poder de descobrir o que eu quiser sobre qualquer pessoa, me deixa em êxtase.

No auge dos meus quarenta anos, posso dizer que tenho tudo o que sempre quis.

Moro em um apartamento confortável no Recreio dos Bandeirantes, tenho pais maravilhosos, uma namorada fantástica, uma conta bancária recheada. Porém, nunca fui de ter muitas amizades, principalmente com as mulheres.

Quando era mais jovem, com meus vinte e poucos anos, nunca conseguia ser amigo de uma, porque simplesmente misturava as coisas. Eu sempre ficava atraído pela “amiga” e aí a amizade ia para o beleléu. Posso contar nos dedos de uma mão quantos amigos tenho, e ainda sobra. André é meu amigo de infância, esse não me largou nunca. Ele é aquele tipo de cara que basta eu estalar os dedos e ele aparece como mágica para me ajudar com o que for.

E tem também o Leandro, amizade mais recente, de uns quinze anos mais ou menos. Eu o conheci em meio a um trabalho. Ele é investigador particular como eu e logo nos identificamos, é casado e tem três pirralhinhas lindas.

E agora surgiu Helena.

Helena Montenegro, vinte e oito anos, loira, linda e extremamente infeliz.

Era para ser apenas um trabalho como qualquer outro, mas quando bati meus olhos na pequena mulher, meu instinto protetor se aflorou. Acredito que foi aquele olhar perdido ou talvez a insegurança em sua voz, o que quer que tenha sido, me fez querer protegê-la de imediato. E pode ter certeza que não teve nenhuma conotação sexual nessa proteção.

Saio do shopping com as informações do marido dela em mãos e vou direto para o escritório. Começo uma pesquisa online mesmo, para ver se gosta de badalação. A princípio não acho nada de mais, nenhuma foto comprometedora ou reportagem com insinuações. No dia seguinte, às seis e meia da manhã, eu estou em frente ao prédio onde eles moram esperando o bom moço sair para o trabalho. Fico uma hora e meia esperando e logo ele desce, impecável no seu terno escuro e sua pasta na mão, enquanto eu estou de jeans justo e camiseta branca, simples e prático. E assim passo alguns dias, como uma sombra de Lucas Montenegro.

E posso dizer que é um dos trabalhos mais fáceis que tive, ele facilitou muito a minha vida. Não esconde de ninguém o que está fazendo, a única que realmente não sabe é a Helena. Investigo um pouco da vida dela também. E juntando todas as informações, lendo-as e vendo as fotos, um ódio maciço cresce em mim por esse tal Lucas.

Nunca, em todos os meus dezoito anos de profissão, me envolvi emocionalmente com qualquer cliente.

Nunca mesmo! Mas vi nos olhos dela a apreensão, a inocência e principalmente, medo. Isso me puxou. E quando vou entregar tudo o que consegui reunir contra o marido, digo a ela que pode contar com a minha ajuda para qualquer coisa. Ali, ela estava ganhando um amigo.

Depois disso, Helena some. A princípio acho normal, já que ela disse que tomaria uma atitude em relação ao marido safado. Mas passa uma semana e ela não responde meus e-mails. Mas então passam muitos dias, aí a preocupação ultrapassa o limite.

Fabiana, minha garota, sabe de Lena e tenta me acalmar. Ela sabe que quando sinto carinho, zelo por alguém, é porque é verdadeiro, algo de alma. Estamos juntos há muito tempo, ela conhece minha índole e sabe que jamais viro as costas para quem se torna importante para mim.

Eu mando um último e-mail ameaçando ir atrás dela. E realmente farei isso, porém ela responde dizendo estar bem e que precisa de mim. Minha intuição diz que algo de ruim havia acontecido, mas ela não quis me contar por e-mail, e nos encontramos no SPA que ela frequenta.

Está tudo tranquilo, tento me manter calmo a todo instante. Mas quando ela me conta o que ele fez com ela, meu sangue ferve. Imaginar tudo o que ela passou nas mãos daquele crápula é insignificante perto da real dor física e emocional que ele proporcionou para ela. Almoçamos calados, eu quase batendo na carne imaginando ser ele ali em meu poder. Depois de mais calmos, tanto Lena quanto eu, ela me diz o que precisa.

Rapidamente, consigo um telefone para ela, de última geração, com rastreador embutido nele. Ela me dá um cartão de um advogado que ela esbarrou ano passado, e o fato de ela enrubescer quando brinco sobre o assunto, me diz que ali tem coisa. Contudo, deixo isso de lado, temos coisas mais importantes para resolver. Ela me diz também que precisa de um lugar para morar, por sorte, no prédio que eu moro ainda tem alguns apartamentos para venda ou locação.

Afirmo a ela que resolverei essas questões, que ela não se preocupe.

Brinco um pouco para aliviar a tensão que vejo em seu olhar, tocar no nome do advogado a faz sorrir timidamente. Olho no relógio e vejo que já estou atrasado para uma reunião com um novo cliente, paro em frente a ela e a olho muito sério. Quero que ela veja verdade no que vou dizer, meu coração me diz que Helena é minha irmãzinha, precisa de mim. E o mais importante, precisa acreditar que é capaz e que não está mais sozinha.

— Helena — paro bem à sua frente e a olho sério. — Não tente passar por isso sozinha. Qualquer coisa, ouviu bem? Qualquer coisa que ele fizer, me chama e eu vou correndo.

— Obrigada, Alex — seus olhos marejam um pouco. Percebo que ela não está acostumada com essa atenção. Dou um breve sorriso.

— Prometa.

Revira os olhos e sorri.

— Prometo, Alex.

— Boa menina — belisco sua bochecha e beijo a outra. — V ai lá relaxar um pouco, eu ligo mais tarde.

Eu me afasto, caminhando em direção à saída.

— Tchau, amigo.

Paro e olho para trás, ela está se abraçando, tentando se proteger. Penso que a partir de hoje, ela não precisa estar sozinha. Pisco um olho para ela e sorrio. V olto a caminhar e saio de lá com a minha irmã em meus pensamentos.

Depois de uma reunião exaustiva, vou direto para casa. Quando chego, Fabiana está na cozinha preparando o jantar. Dou um beijo em seu pescoço, conto como foi meu dia e ela conta como foi o dela. Aproveito que ela está na cozinha, peço que abra um vinho que já volto e vou tomar um banho. Chegando no quarto, coloco meus pertences em cima da escrivaninha. Tiro o celular, carteira, chaves e um cartão.

Eu o reconheço de imediato. Penso em ligar no dia seguinte, mas algo me diz que tenho que fazer isso agora. Pego o celular e me sento na cama, ligo para o seu número e depois de três toques...

— Alô.

— Marcos Assunção?!

— Sim, é ele.

— Meu nome é Alexander Bittencourt, tenho um caso para você.

Marcos

Depois de um dia exaustivo no escritório, horas no trânsito e um calor infernal, consigo chegar em meu apartamento. Banho, comida e cama.

Quero isso, nessa ordem. Assim que atravesso a porta de entrada, sinto um cheiro gostoso vindo da cozinha.

Caminho em direção à cozinha ao mesmo tempo em que vou tirando a gravata e o paletó, deixando em cima do sofá quando passo por ele. Abro os dois primeiros botões da camisa, arregaço as mangas, estou ansioso por uma chuveirada.

Assim que entro na cozinha, vejo Clarissa cortando não sei o quê. Ela está com vestido azul colado e por cima dele um avental para protegê-lo dos possíveis respingos. Fico intrigado, tentando entender o que ela está fazendo, já que nunca cozinhou na vida.

— Boa noite — eu me aproximo e dou um beijo em sua bochecha, passo por ela e abro a geladeira. Pego uma garrafa de água e um copo.

— Boa noite, amor. Como foi seu dia? — ela fala como se o fato de ela estar cozinhando em minha casa fosse normal.

— Cansativo — bebo uns dois copos de água e me viro em sua direção. — O que você acha que está fazendo?

— O nosso jantar!

— E você já fez isso alguma vez?

— Marcos, deixa de ser chato. Tem sempre a primeira vez.

Meu estômago vai sofrer hoje, penso.

Reviro os olhos, aproveito que ela está distraída com a comida e vou para o quarto. Tomo um banho gelado, depois de dez minutos saio com a toalha enrolada na cintura. Visto uma boxer, bermuda e camiseta, passo a mão pelo cabelo, colocando-o no lugar. Clarissa grita, me chamando.

Chegando à cozinha, a mesa já está posta, o cheiro realmente está maravilhoso, espero que o gosto esteja também. Sento-me à sua frente e pergunto o que é aquilo.

— É risoto de camarão, amor — olho para aquilo e com certeza não é um risoto. — Experimenta, amor — ela começa a comer e na primeira garfada, faz uma careta.

Quando vou começar a comer, meu celular toca. Graças a Deus.

— Não atende, Marcos. Quase não temos um tempo para nós dois.

— Tenho que atender, Clarissa. Um minuto.

— Alô — atendo e levanto da mesa, me afastando e indo para a varanda.

— Marcos Assunção? — o homem do outro lado pergunta.

— Sim, é ele.

— Meu nome é Alexander Bittencourt, tenho um caso para você.

— Como conseguiu meu número pessoal? — fico curioso com esse fato.

Apenas algumas pessoas têm esse número. Fiz dois cartões distintos, um com meus dados profissionais e no outro acrescentei meu número pessoal, mas esse segundo não dou a qualquer pessoa.

— É uma longa história, o que posso dizer agora é que você o deu para a minha irmã.

— Hum — fico intrigado, quem será a irmã dele? — Então, Alexander, o que posso fazer por você?

— Minha irmã está precisando de um advogado. Ela quer se divorciar e o marido não aceita. Na verdade, a história é mais complicada, mas agora estou sem tempo para detalhar.

— Certo. Ela pode ir ao meu escritório amanhã, por volta das quatro da tarde? Assim, ela pode me contar pessoalmente.

— Não tenho certeza se ela poderá amanhã, vou falar com ela e respondo na parte da manhã. Mas caso ela aceite, vou ao seu escritório primeiro, sozinho.

— Tudo bem. Aguardo você amanhã, pode ser às dez?

— Claro, até amanhã. Boa noite, Marcos.

— Boa noite.

Desligo e guardo o celular no bolso.

Isso me deixa curioso e intrigado. Por que raios o irmão quer falar comigo a sós? V olto para dentro do apartamento e não vejo Clarissa. Ela retirou os pratos da mesa, deve ter ficado com raiva. Não vou deixar de atender meu telefone porque ela não quer.

Graças a Deus a ligação me salvou de comer aquele risoto estranho que ela fez, porém, continuo com fome. Abro a geladeira e pego uma lasanha, tiro da caixa e coloco no micro-ondas.

Enquanto a comida esquenta, vou à procura de Clarissa. Não a vejo em lugar algum. V ou ao meu quarto e ela está lá deitada, com uma camisola sexy, fingindo dormir e deitada de lado.

V olto para a cozinha, pego minha comida e uma cerveja, e me sento à mesa. Enquanto como, fico imaginando quem será a irmã desse tal de Alexander. E o porquê de ele entrar em contato comigo e não ela. Depois de comer, limpo o que sujei e vou dormir com a cabeça na tal mulher.

**** Clarissa me acorda às seis da manhã para discutir, reclamando que não dou mais a mesma atenção de antes para ela, que só penso em trabalho e por aí vai.

Fica um tempão reclamando e tenho que calá-la. Beijo sua boca para ela ficar quieta, mas não paramos por ali.

Transamos e depois ela parece se acalmar, até esquece do que estava reclamando. Tomamos café juntos e a deixo em casa antes de ir para o escritório.

Chego às oito horas em ponto, Munique já está em sua mesa digitando furiosamente. Está tão concentrada, que nem percebe a minha aproximação.

— Bom dia, Munique!

— Ai, que susto! — Ela salta da cadeira, põe a mão no peito e me olha com os olhos arregalados. — Quer me matar?! Puta que pariu!

Sento-me na beirada da sua mesa e cruzo os braços.

— Isso que dá dar confiança aos subordinados — falo com deboche, sorrindo para ela.

— Só não o mandarei sabe para onde, porque estamos no trabalho. Mas se me assustar assim de novo, não pensarei duas vezes — sorri para mim.

— Bom dia, Marcos.

— O que temos para hoje?

— Hoje seu dia está bem calmo.

— Certo. Às dez horas, um homem chamado Alexander Bittencourt virá me procurar. Assim que ele chegar, me avise — ela balança a cabeça confirmando. — E não marque nada para às quatro horas da tarde, parece que a irmã dele virá nesse horário.

— Tudo bem.

Pisco para ela e vou para a minha sala. As duas horas seguintes são tranquilas, reviso alguns casos e faço algumas ligações. Às dez em ponto, o telefone da minha sala toca. É Munique me avisando que o senhor Bittencourt está à minha espera. Peço a ela que aguarde cinco minutos e depois o mande entrar.

Guardo os papéis que estou analisando, passo a mão no cabelo e me levanto no exato momento que a porta se abre e Munique entra antecedendo o homem alto e forte. Abotoo o meu paletó e ando até o meio da sala para cumprimentá-lo. Munique fica parada na porta admirando o homem, e eu rio da sua cara de admiração por ele.

— Bom dia, Alexander — apertamos as mãos.

— Bom dia, Marcos — indico a cadeira para ele sentar e assim ele o faz, dou a volta na minha mesa e me sento.

Munique ainda está lá em pé, admirando Alexander. Sorrio de leve.

— Munique, traga café, por favor — ela pisca, saindo do transe em que está.

Quem vê a cena, até pensa que ela está solteira.

— Claro, só um minuto — fala e sai da sala, fechando a porta.

Alexander está alheio a isso, seu rosto muito sério. V olto a minha atenção a ele.

— Então, Alexander. Fiquei intrigado, quando foi que dei o cartão para a sua irmã.

Ele sorri e fica me olhando, parece que contei alguma piada.

— V ocê entregou há uns oito meses.

— Qual é o nome dela?

— Helena Montenegro.

— Ainda assim, não me lembro. Mas se dei o cartão, deve ter sido por um bom motivo.

— Ah sim, foi — sorri mais ainda.

— V ocê até parou o ônibus que ela estava para dar o cartão.

Lembro imediatamente de quem ele está falando. Helena. A linda loira que vi quando saía de uma reunião de trabalho. Segui o ônibus e dei o cartão para ela. Nossa! Como o mundo dá voltas, já tinha perdido a esperança de revê-la e agora isso vai acontecer. Mas lembro imediatamente o motivo de ter que encontrá-la.

— Agora me lembro dela — tento manter a empolgação dentro de mim, mas Alexander percebe e continua sorrindo.

Munique entra na sala com uma bandeja na mão, coloca em cima da mesa e me pergunta se preciso de mais alguma coisa. Pergunta olhando para o irmão da Helena, ele percebe e sorri para ela. As bochechas da Munique ficam quase roxas de vergonha, algo difícil de se ver. Digo a ela que não preciso de nada e ela sai da sala, quase correndo. O que é que deu nela hoje?

Mulher pirada.

— Então ela é casada? — não lembro de ter visto uma aliança na mão dela, mas foi tão rápido e me concentrei em seu rosto, que não olhei mais nada.

Mesmo sabendo que ela quer se divorciar, o desânimo bate ao saber que ela é casada.

O sorriso no rosto de Alexander some e me preparo para ouvir o que tem a dizer.

— Sim, ela é. Com um filho da puta dos infernos — agora ele tem minha total atenção. — Nós nos conhecemos a cerca de um mês quando ela me procurou e me contratou para investigá-lo — franzo o cenho na hora. Ele não disse que era irmão dela? — Ele a trai com várias mulheres, vigia e não a deixa fazer nada. E para piorar a situação, ele a espancou e estuprou quando ela o confrontou com as fotos que eu tirei.

Fecho os olhos com força, tentando não imaginar as coisas que ele me fala.

Como ela conseguiu suportar isso, sozinha?

— Você me disse que é irmão dela — ele acena que sim. — Mas você acaba de dizer que se conhecem há um mês.

— Sim. Eu tenho um instinto protetor com ela, sinto como se Lena fosse minha irmã mesmo.

— Entendi.

— Depois que ela a surrou, se tornou muito mais possessivo, a controla de todas as maneiras. Não sei como ela vai conseguir, mas confirmou que virá mais tarde.

— Certo. Estarei esperando-a.

— Eu vou voltar com ela. Lena está insegura e traumatizada, sente vergonha do que aconteceu com ela, por isso estarei dando apoio no que eu puder.

Balanço a cabeça, concordando. Ele se levanta e eu também, apertamos as mãos mais uma vez e saímos da sala. Eu o acompanho até o elevador, ele acena para Munique, que fica toda sorridente.

— Até mais tarde, Marcos.

— Até.

Assim que ele sai, eu me viro para ela.

— O que deu em você, hein, dona Munique?

— Em mim? Nada, por quê? — ela disfarça e volta a mexer na agenda.

— Sim, em você mesmo. Nunca viu um homem bonito, não? Deixa o Gustavo ficar sabendo como você ficou quando viu o Alexander — fico rindo da sua cara, seus olhos arregalados estão hilários.

— Vá catar coquinho, Marcos! — Ela se levanta e sai batendo o pé.

Entro na minha sala, rindo da minha secretária e dou continuidade ao meu dia, porém, em nenhum momento o nome Helena sai da minha cabeça.

****

O dia demora a passar, meus pensamentos se embaralhando em minha cabeça, fico ansioso o restante do dia.

Almoço no escritório junto com Munique, que me faz rir o tempo todo.

Essa mulher é doida de pedra.

Depois do almoço, tenho que ir ao fórum, e quando volto já são três e meia da tarde. Fico inquieto a meia hora restante. Ajeito a gravata azul umas trezentas vezes e perco as contas de quantas vezes passo a mão no cabelo.

Uma ansiedade sem fim toma conta de mim minutos antes da Munique ligar para a minha sala e me dizer que a senhora Montenegro está me aguardando.

Respiro fundo umas três vezes e peço para Munique os acompanhar até minha sala. Levanto-me da cadeira e abotoo o paletó. A porta é aberta e como mais cedo, Munique entra antecedendo Alexander. Ele olha para trás, incentivando-a a entrar, e assim ela o faz.

A lembrança que eu tinha dela não faz justiça com a beleza que ela possui.

Helena está elegante em uma regata branca, com um blazer azul claro por cima. V este uma calça jeans justa e nos pés sapatos de salto alto preto. Linda demais. Mas o que me deixa hipnotizado é o seu rosto, mesmo com uma sombra de tristeza em seu olhar. Pouca maquiagem, até porque ela nem precisa disso, é naturalmente bonita.

Sorri timidamente para mim e abaixa a cabeça. Aí me dou conta que estou parado a encarando, olho para Alexander que está tentando esconder o sorriso e depois para Munique, que me olha com uma sobrancelha erguida. É, fui pego fazendo o mesmo que ela.

— Boa tarde, senhora Montenegro — estendo minha mão para ela. Ela levanta os olhos e encontra os meus, ávidos por mais do seu lindo rosto.

— Apenas Helena, por favor. Boa tarde, Marcos — sua voz de seda enche meus ouvidos.

Mas é quando unimos nossas mãos em um cumprimento, que sei que estou ferrado. Um formigamento sobe pela palma da minha mão, passa pelo meu braço e se alastra por todo o meu corpo.

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Comments

Amanda

Amanda

Agora que a brincadeira vai começar 😜

2023-08-14

4

Susana Sousa

Susana Sousa

história fantástica!!

2023-08-08

0

Maze Maze

Maze Maze

estou amando essa história ,

2023-08-06

0

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