Era noite quando acordei sozinha na cama, escutei barulho no banheiro e fui até lá pé ante pé. Shin estava preparando um banho de espuma quando o surpreendi pela sua cintura.
— Você estragou minha surpresa! Ia te acordar com café, para tomar um banho maravilhoso e comer pizza! O que você acha?
— Acho perfeito! Só inverteremos a ordem porque preciso desse banho agora!
Ele me abraçou forte e beijou minha testa.
— Posso me juntar a você?
Apenas essas palavras me fizeram incendiar novamente.
— Se, se comportar garoto, pode!
Mal proferi essas palavras e seus lábios já devoravam os meus, roupões ao chão, pele na pele, não sei como não quebramos a pia. Shin era intenso e carinhoso, talvez insaciável seja a palavra. Me perder e me encontrar nele era incrível, seus olhos nos meus, a respiração, o prazer em sintonia. Saciados, entramos na banheira.
— Creio que parará de me chamar garoto de agora em diante.
— Não sei, talvez, quem sabe…
— O que falta realizarmos para você ter certeza que posso ser “o seu homem”.
Embora ele tenha dito isso entre carinhos e afagos, me fez lembrar da nossa real situação. Uma viúva e seu cunhado, essa era a nossa relação, então por instinto me afastei.
— Ei! O que houve?
— Shin, sou irmã de lei (terno para cunhada), o que aconteceu não é certo, será um escândalo se alguém descobrir! Meu Deus! Sua família nunca irá me aceitar, a situação já era complicada agora se tornou impossível!
— Primeiro se acalme, segundo, você se casou pelas leis brasileiras, mas não faz parte do meu registro de família, ou seja, não é minha irmã de lei. Agora que Haneul se foi só quem pode autorizar esse registro é meu pai.
— Quer dizer que meu casamento não tem validade alguma?
— Juridicamente falando não, e conhecendo a minha família, essa questão não será resolvida facilmente e a julgar pelo seu caráter, acredito que você não irá querer esse registro.
Me senti decepcionada, como se tudo que vivi com Haneul fosse renegado e isso doeu. Levantei imediatamente da banheira e sai pingando pela casa até meu quarto. A família Kang não me receber de braços abertos era esperado, mas sequer reconhecer o casamento era absurdo.
Tranquei-me no quarto pelo resto da noite e Shin não ousou me perturbar. Melhor assim, não queria descontar minha raiva nele, chorei muito e o sono custou chegar, minha cabeça estava uma bagunça perdendo apenas para o meu coração.
Ainda estava acordada quando o sol nasceu, escutei a trava da porta, provavelmente Shin saindo para o trabalho. Decidi me levantar, meu estomago rugia de fome e embora meu humor fosse péssimo eu tinha um compromisso, precisava me alimentar.
Comi torradas, maçãs e encontrei na geladeira uns bolinhos coloridos de mel deliciosos e adicionei ao meu tradicional café preto. Estranhei minha fome, mas fiquei tanto tempo sem comer e estava tão saboroso que não me contive e ainda separei duas maçãs para levar comigo. O teste seria às dez da manhã, mas eu queria chegar cedo então comecei a me arrumar. Como não sabia o que esperar recorri ao meu bom e velho black jeans com regata, me agasalhei bem, trancei o cabelo e calcei meu tênis. Minha make sempre foi básica. Não que eu não gostasse, era preguiça de tirar. Aquele processo todo de limpar, tonificar e hidratar sempre achei um saco e nunca fazia, então para não acordar parecendo um urso panda, sempre preferi usar apenas batom vermelho e uma máscara para cílio incolor. Questão de praticidade, admiro quem acorda cedo, escova ou chapa os cabelos e faz aquele make incrível para desmontar tudo no fim do dia.
Endereço em mãos, mochila preparada e dinheiro para o táxi, respirei fundo e sai rezando para dar tudo certo. No caminho as cores do outono tomavam forma, os tons de amarelo e laranja dançavam ao gosto do vento pelos parques ao redor do rio Han. Ao atravessarmos a ponte chegamos ao destino, Banpo. O cheiro de “croissant” saindo do forno e café me despertaram os sentidos, um pedaço da França escondido em Seul, as padarias e cafés de tijolos a vista, janelas em madeira talhada, arabescos em gesso, fiquei boquiaberta.
O táxi parou no endereço, era uma casa azul no estilo francês extremamente requintado. O pequeno jardim era milimetricamente aparado, arbustos redondos e duas pequenas árvores exibiam o tom vermelho sangue, chamavam a atenção. Passei pelos portões de ferro e cheguei ao mármore do alpendre, a porta em madeira e vidro era imensa, só perdia para as janelas que apenas na fachada eram nove. Aquela mansão não tinha cara de agência, mesmo intimidada apertei a campainha. Os sons de pequenos sinos ecoavam quando abriram a gigantesca porta e para meu total alívio era a mesma assistente que conversei no Estúdio de dança com um sorriso amigável.
O átrio em mármore branco contrastando com a tapeçaria em tons avermelhados. Uma escadaria rica em detalhes de madeira maciça envernizada levavam ao segundo piso. Colunas, lustres e ornamentos em gesso, os móveis, praticamente tudo ali era antigo, restaurações impecáveis, o moderno e o secular em perfeita sintonia.
Fui direcionada a uma sala lateral onde estavam as outras meninas esperando junto ao coreógrafo, conversando informalmente e tomando chá, obviamente eu não entendi muito e me concentrei no meu copo enquanto a assistente estava ao telefone.
— O senhor Kang não poderá participar dos ensaios nos próximos dias, ele pede desculpas por esse
inconveniente. — Nos informou a assistente.
Imediatamente pensei em como Kang deve ser um sobrenome comum por aqui. Com este anúncio encerramos o chá e nos dirigimos ao segundo piso. Se o átrio era impressionante, o segundo piso tirava o fôlego, lustres de ferro trabalhado como flores com detalhes em cristais coloridos, o piso em madeira lustrosa, e quadros em molduras antigas. Um Estúdio particular com som de última geração, o sonho de todo artista imagino. Talvez esses detalhes passassem desapercebido por outras pessoas, mas eu adoraria fotografar esse lugar digno de uma revista de arquitetura e decoração, essa harmoniosa simbiose me encantava, o senhor Kang deve ser um homem peculiar.
O ensaio seguiu sem problemas, aquecimento, a mesma coreografia. Trabalhamos duro por quatro horas seguidas e finalmente tivemos uma pausa para o almoço. Mais tradicional impossível, nos serviram imensas porções de ttteokbokkki, bibimbap e kimchi que sem a menor cerimônia devoramos. Ji Ha, que descobri ser o nome da sorridente assistente, nos preparou um chá depois da refeição, mas fiquei surpresa quando percebi que na minha xícara havia café.
— Obrigada Ji Ha — agradeci em português, o que surpreendeu a todos.
Ela então explicou a todos que eu era brasileira e que não temos o hábito do chá e sim do café quente, principalmente após as refeições. Choveram perguntas de todos os tipos, e Ji Ha me ajudava a responder, foi estranho, mas divertido, não me senti mais deslocada vendo todos tentando se comunicar comigo em inglês. O auge da conversa foi quando perguntaram minha idade, tirando o coreógrafo eu era a mais velha e principalmente o choque ao descobrirem que sou uma fotógrafa e não bailarina profissional.
Voltamos ao trabalho com o ambiente mais leve e descontraído, trabalhando agora em duplas, eu acabei de parceira do coreógrafo. Apesar de Angel ter movimentos bem sensuais foi tranquilo, fui o mais profissional possível e dei o meu melhor. Fora mais quatro horas de afinco, quase sete da noite nos despedimos e cada um tomou seu caminho, não quis arriscar me perder então pedi um táxi.
Na volta para casa me senti grata por tudo ter ocorrido melhor do que imaginava, apenas uma coisa me incomodava, as quinze mensagens que ignorei do Shin durante todo o dia.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 57
Comments
Sheila Carlos Bezerra
só oq parecer q o professor eh o shi..
2022-10-13
2
Cida Lima
ainda não to entendedo essa história kkkkkk será que ela vai ficar com o gostosão do cunhado kkkkkk o com o cara do hotel
2022-10-12
2
Anonymous
será que ela está grávida de Hanuel ,desmaiou começou a sentir fome.
2022-09-27
3