CAPÍTULO 3

Em meio a bagunça das minhas malas me vesti o melhor possível, jeans, cacharrel, botas e meu mais grosso casaco, tudo em preto. Levei um susto quando sai do quarto e dei de cara com o Shin me aguardando no sofá, jeans, blusa gola alta e casaco de lã, tudo em branco. Até mesmo seu cabelo claro contrastava com o breu do meu, éramos como “yin” e “yang”, o dia e a noite personificados sobre a sombra de uma boca em carmim.

        Fiquei com vontade de me bater, eu realmente precisava me acostumar com a ideia de que Shin cresceu e não era mais o menino magricela que imaginei durante anos, meu cunhadinho se tornou um belo homem.

        Descemos ao saguão do prédio e aguardamos o carro sob olhares nada discretos, não ajudou muito quando o porteiro me chamou senhorita e Shin o corrigiu em alto e bom-tom como se avisasse a todos no recinto que eu era a senhora Kang. Engoli aquilo a seco e sorri, mas quando entramos no carro longe dos olhares curiosos belisquei sua costela com toda a minha força.

          -- Aiiiiiiiiiiii! Ficou louca!

          -- Louco ficou você! Agora eles vão pensar que você casou comigo seu moleque!

          -- Primeiro, eu tenho quase 30 anos, você não pode me chamar moleque. Segundo, eu

disse alguma mentira? Você é a senhora Kang!

           -- Sim, eu sei que sou! O problema é a maneira como você disse e, além disso, posso te chamar pirralho, moleque, do que eu quiser, sou mais velha que você!

        Emburrei e continuamos o caminho em silêncio até pararmos em uma loja gigante com cara de “shopping”. Não esperei ele abrir a porta do carro e fui à frente batendo os pés de raiva. Realmente a loja era imensa com vários pisos repletos de móveis de “designers” renomados, uma butique moveleira. Nenhum dos atendentes veio ao meu encontro, mas quando Shin entrou parecia que um enxame encontrara sua abelha rainha.

          -- Senhor Kang seja bem-vindo, que prazer em revê-lo! — Disse uma das vendedoras

extremamente animada.

        Fiquei pensando se era devido à gorda comissão, já que provavelmente meu cunhadinho era um cliente regular, mas talvez não fosse o caso. Shin era inegavelmente bonito, de família rica, bem-sucedido e agora único herdeiro, um bom partido eu diria, essa deve ser apenas uma de suas muitas admiradoras.

          -- Senhorita Yang, o prazer certamente é meu, mas hoje quem está escolhendo a nova

decoração não sou eu e sim a SENHORA KANG. — Me apontando com um sorriso sarcástico.

        Minha vontade era de lhe bater até aquele sorriso virar lagrimas, se a intensão era me tirar do sério Shin estava conseguindo, mas como estávamos em público apenas revirei os olhos enquanto a senhorita Yang parecia em choque.

          -- Se-nho-ra Kang, prazer em conhece-la, por favor me acompanhe.

        Apenas acenei com a cabeça e observando a reação dela confesso que achei divertido, me segurei para não rir enquanto a seguia pelo corredor com Shin ao meu lado ainda estampando seu sorriso zombeteiro. Decidida a entrar em seu jogo o surpreendi segurando-o pelo braço e sorri perversamente.

         -- Senhorita Yang poderia nos mostrar camas bem reforçadas, a última infelizmente

não resistiu ao uso severo.

        Foi a vez de Shin ficar em choque e eu simplesmente adorei ver a cara desconcertada dele, a senhorita Yang parecia um tomate de tão vermelha, mas nos guiou até as camas. Eu particularmente não gostei de nada, tudo muito extravagante e o preço exorbitante, acabei comprando duas luminárias porque realmente gostei do ‘design’. Seguindo o teatrinho não soltei o braço do Shin em momento algum, até sairmos da loja.

          -- Satisfeito, dois podem jogar esse jogo cunhadinho! — Mas me arrependi imediatamente, o sorriso irônico desapareceu dando lugar a uma expressão furiosa e Shin tirou minha mão do seu braço bruscamente.

          -- Entre logo no carro Ane. — Sua voz era comedida, como a calmaria antes da tormenta e prontamente o atendi.

         Até agora eu apenas conheci seu lado gentil e cortês de bom anfitrião, mas um novo lado estava prestes a ser-me apresentado, isso me deixou apreensiva. Permaneci em silêncio e olhando para fora com os braços cruzados quando ele finalmente rompeu o silêncio.

           -- Ane, você realmente não entendeu o meu propósito, não é? Não entendeu que no nosso prédio eu queria que você fosse respeitada pelo seu status assim como nessa loja? Você não percebe o peso do seu sobrenome?

          -- Tudo que percebi foi você tentando se livrar de uma mulher grudenta e me pregando uma peça de péssimo gosto Senhor Kang!

          -- Ane, me escute com atenção. Não será fácil meus pais te reconhecerem como nora, mas você é uma Kang e precisa começar a se impor como tal, se você mal consegue fazer isso em uma loja como pretende encarar meus pais?

         Aquelas palavras foram piores que uma bofetada. Status, sobrenome? Será que ele se lembra quem sustentou Haneul até ele conseguir se estabilizar no Brasil? Mas o que esperar de uma família que praticamente virou as costas para o próprio filho? Infelizmente meu coração não se surpreendeu, não esperava uma acolhida calorosa, mas será que eles acreditam que vim atrás de dinheiro? Isso eu não poderia tolerar.

          -- Shin vamos para casa\, quer dizer\, sua casa. — Me contive\, não poderia levar aquela discussão adiante mesmo com vontade de gritar e falar umas boas verdades\, o mortório e a cerimônia em honra aos ancestrais seria no começo do mês\, até lá eu teria que conviver com ele e teria tempo para reavaliar a situação.

        Seguimos calados por todo o caminho até o apartamento, na portaria o senhor nos recebeu com um “bem-vindos de volta SENHOR E SENHORA Kang”, o que me irritou bastante, mas apenas sorri, Shin provara seu ponto de vista. O sorriso das pessoas na recepção indicava isso e o burburinho também foi menor. Distribui alguns sorrisos e segui para o elevador quando senti tudo se apagando…

        Acordei sozinha no quarto, a noite já havia caído, apenas as luminárias da escrivaninha estavam acessas, tentava me levantar quando Shin entrou com uma bandeja.

          -- Nem pense em levantar sozinha.

          -- Por quanto tempo eu apaguei? — Minha voz saiu fracamente.

          -- Por um dia inteiro. — Seu tom de voz demonstrava preocupação.

          -- Nossa, tudo isso.

        Deixando a bandeja na escrivaninha ele correu ajeitar os travesseiros para que eu me sentasse e cuidadosamente me ajustou. Na bandeja a minha frente uma sopa fumegante, uma porção de frutas e um chá estranho.

          -- O que é isso? — Indiquei a xícara.

          -- Chá de gengibre e você deve tomar ao menos um pouco.

        Fiz careta, mas com isso só consegui que ele se sentasse na cama para se certificar de que comeria tudo aquilo e francamente eu estava sem ânimo para discutir qualquer coisa. Meu estomago roncou então comecei pela sopa enquanto ele me analisava cuidadosamente.

          -- O que foi Shin? Não discutirei com você se é isso que te preocupa. — Falei abandonando a colher na bandeja e ele rapidamente segurou a minha mão.

          -- Me perdoa Ane.

        Suas mãos estavam quentes nas minhas, seus olhos castanhos firmes nos meus, desviei o olhar, mas ele me segurou pelo queixo.

          -- Falo serio Ane, me perdoa, fui… nem sei dizer o que fui, você já passou por

tanta coisa, fiquei apavorado quando te vi no chão… me perdoa por favor.

        Eu estava magoada, mas senti a sinceridade e o medo em suas palavras, respirei fundo, tirei sua mão e comecei a falar tudo o que pensava.

          -- Primeiro deixaremos claras algumas coisas. Eu nunca fui mulher de rodeios então vou direto ao ponto. Nunca quis absolutamente nada da sua família, nem dinheiro ou status, o que for, vim para cá por ser a vontade de Haneul e apenas isso, não desejo nada, apenas seguir com a vida como eu puder, talvez até deva reconsiderar ficar aqui…

          -- Não, Ane por favor, pense mais um pouco, tentarei não interferir ou discutir. Somos família, a vontade de Haneul era que cuidássemos um do outro, não quero que vá embora na primeira discussão, isso é normal, ainda estamos nos ajustando!

       Suas palavras faziam sentido, estávamos nos ajustando, nos conhecendo. Se esse era um indicativo do que me aguardava na família Kang era melhor me preparar para uma briga bem maior.

          -- Shin, esqueceremos esse assunto por enquanto afinal preciso ficar até o mortório, depois veremos…

        Voltei a minha sopa e ele a me observar.

           -- Está se sentindo melhor? Você ainda está pálida.

          -- Estou sim, tem sido muito com o que lidar nos últimos tempos. Um boa noite de sono e estou novinha em folha, não se preocupe.

        Comi toda a sopa, mas o restante não desceu, com muito custo Shin desistiu de me alimentar, levou a bandeja e acabei dormindo.

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Comments

Ezeneide Lira

Ezeneide Lira

autora deixa ela com o cunhado

2022-10-13

1

Cida Lima

Cida Lima

eu não quero que ela fique com o cunhado quero ela com o bonitão do hotel 🏨 apesar que eu ainda não to entendedo o sentindo da história

2022-10-12

3

Maria Betania

Maria Betania

autora não deixa ela fixa com i cunhado e encontra o bonitão do hotel

2022-09-17

5

Ver todos

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