Ao se aproximarem das terras do barão Ludovico, Vicente pede que parem a carruagem. Eles descem e se acomodam debaixo de uma frondosa árvore.
— O clima hoje está quente e agradável — comenta Vicente, respirando fundo e soltando o ar lentamente.
— Quer algo para comer? — pergunta Ana.
— Sim, já estou começando a sentir fome — responde ele, olhando para ela.
Ela lhe entrega algumas frutas.
— Por que você está me olhando como se estivesse analisando alguma coisa? — pergunta Vicente, intrigado.
— Desculpe, sei que é falta de educação, mas... — ela para de falar, hesitante.
— Agora quero saber o que é — insiste ele.
— É que você usa esse lenço na cabeça, anda meio retraída... Não perto de mim, mas de outras pessoas. Acho que deveria mudar isso.
— Nossa... — ela desvia o olhar, visivelmente desconfortável.
— Digo isso para o seu bem. Você é uma moça jovem, inteligente e de grande valor. Mas também precisa valorizar sua beleza externa, se mostrar mais confiante. — Vicente tenta encorajá-la.
Ana esboça um sorriso triste, incapaz de disfarçar sua emoção.
— O que eu disse não foi para deixá-la triste. Me desculpe... — Vicente pensa consigo mesmo: "Acho que sou muito direto ao expressar o que penso, mas já queria falar isso há muito tempo."
Enquanto o sol começa a se pôr, na praça, uma chuva repentina começa a cair, e a família de Antônio apressa-se para recolher suas coisas.
— Sol com chuva à tarde é uma bela visão — comenta Gustavo, olhando para o céu.
— Tomara que apareça um arco-íris — acrescenta Antônio.
José, o pai, manda todos apressarem o passo. Antônio fica para trás e vê, ao longe, Paulina, completamente encharcada, olhando para ele.
— Meu Deus... — ele murmura, correndo em direção a ela. Ele a envolve em seus braços e a conduz até sua casa.
Enquanto caminha, observa o semblante abatido e distante de Paulina. Quando chegam, sua mãe estranha a situação.
— Meu filho, o que essa jovem está fazendo aqui? — pergunta ela, surpresa.
— Mãe, por favor, pegue algumas roupas limpas e ajude-a a se trocar. Ela não está muito bem — responde ele, com seriedade.
— Tudo bem... — "Nossa Senhora, nunca vi meu menino falar tão sério", pensa Rosa.
— Vá com minha mãe, não tenha medo — tranquiliza Antônio, percebendo que Paulina reluta em sair de seu lado.
— Venha, querida, eu vou cuidar de você — Rosa segura a mão de Paulina, que finalmente consente em ir.
Gustavo e José entram e veem as duas subindo as escadas em direção ao quarto.
— Filho, o que está acontecendo? — pergunta José.
Antônio conta tudo sobre Paulina.
— Ela parece carregar uma tristeza profunda no coração e não está bem de espírito — comenta ele.
— Eu não sou padre para cuidar de questões do coração. Se os pais dela souberem disso, como chefe da família, terei problemas — responde José, irredutível.
— Pai, tenha um pouco de compaixão — pede Gustavo.
— Não me questione, menino — diz José, irritado.
— E como posso resolver essa situação? — pergunta Antônio, mantendo a calma.
José reflete por um momento.
— O jeito é levá-la até seus pais e dizer que agimos de boa fé ao ajudá-la. Depois disso, é só você não se envolver mais com ela.
No quarto, Rosa, que já havia preparado água quente para o banho, escolhe sua melhor roupa e a deixa para que Paulina vista.
— Querida, vou descer e preparar um chá quentinho para você, tá? — diz Rosa.
Paulina acena com a cabeça.
Na cozinha, Rosa encontra Antônio já preparando o chá.
— Como ela está, mamãe? — pergunta ele, olhando para a mãe.
— Ainda um pouco atordoada. Dá pena de ver — responde Rosa.
A chuva lá fora havia ficado mais intensa. Paulina, agora já na sala, estava junto à família, com Antônio segurando sua mão.
— Filho, é necessário fazer isso? — pergunta José, inquieto.
— Ela está assustada, pai, e se sente melhor ao meu lado — responde Antônio.
— Você é impossível! — murmura José, entre os dentes.
— O que vamos fazer, querido? A chuva lá fora parece que só vai cessar amanhã — comenta Rosa, olhando pela janela.
— Não há o que fazer — responde José, cruzando os braços.
— Senhorita, pode nos contar por que fugiu de casa? — pergunta Rosa.
Paulina olha nos olhos de Antônio, procurando permissão.
— Pode falar — diz Antônio, encorajando-a.
— Eu não aguentava mais... Meu coração doía muito — responde Paulina, quase chorando.
Ela conta que seus pais não desconfiariam de sua ausência, pois havia dito que ficaria no quarto o dia inteiro.
— Mas sua mãe não percebe quando você não está à noite? — pergunta Rosa.
— Não... — Paulina responde com um olhar triste, que corta o coração de todos.
— José, essa moça tem uma vida muito infeliz! — exclama Rosa.
— Não temos como ajudar, Rosa. Temos que ser realistas — responde José. Ele olha para Paulina e diz: — Moça, a vida é injusta com todo mundo, mas precisamos encontrar um sentido para viver e seguir em frente, de cabeça erguida. Hoje, tudo pode parecer o fim do mundo para você porque ainda é inexperiente e não viveu nem metade das dores que a vida traz. Mas, depois de superá-las, você se tornará mais forte e segura de si mesma — aconselha, com sinceridade.
Paulina se sente um pouco melhor.
Mais tarde, todos se reúnem à mesa para jantar. Paulina começa a se sentir acolhida.
Na manhã seguinte, antes do amanhecer, José permite que Antônio a acompanhe até sua casa.
— Já dá para ver a luz do dia. Como você vai entrar? — pergunta ele, ao avistar o grande portão da casa.
— Tem uma barra solta na parte de trás — informa Paulina.
Na parte de trás da casa, há um jardim de rosas que ela cuida.
— Entre comigo, quero lhe dar uma rosa — ela pede, e ele não consegue recusar.
— Não são lindas? — pergunta ela, pegando uma rosa cor-de-rosa e entregando-a a Antônio.
— Sim. São maravilhosas, como você — responde ele, segurando as mãos dela. — Quero que se cuide e não faça nenhuma besteira, está bem?
— Está bem — responde Paulina, abraçando-o e, em seguida, beijando-o nos lábios.
Ele corresponde ao beijo, sentindo muita tristeza ao ter que deixá-la.
"Eu te amo", pensa ele, sem coragem de dizer em voz alta.
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Atualizado até capítulo 79
Comments
Ana Cristina
Adoro esse tipo de história
2023-05-03
6
Samy Aragão
autora destaque as falas dos personagens (com nomes de cada um antes da fala ) ficas muito melhor para ler
é apenas uma sugestão
2022-07-20
7