Paulina, uma jovem de família rica, caminhava pela imponente catedral ao lado de sua mãe, cujos passos ecoavam suavemente no chão de mármore. O aroma das velas e o leve murmúrio das preces envolviam o ambiente, conferindo um ar de reverência e misticismo. No entanto, os pensamentos de Paulina estavam longe das orações. Ela se desviou do caminho principal e, com um olhar furtivo para a mãe, seguiu até os jardins que circundavam a igreja, onde uma antiga fonte jorrava água cristalina.
No jardim, onde o murmúrio da fonte parecia sussurrar segredos antigos, ela avistou Antônio, seu coração acelerou ao vê-lo à espera, a luz do sol filtrada pelas árvores desenhando sombras no chão. Ela se aproximou com passos suaves, quase hesitantes, mas seu olhar era firme e cheio de sentimentos não ditos.
— Antônio, fico feliz que veio! — Ela sussurrou, com um sorriso tímido, estendendo a mão delicada para tocar o rosto dele.
Ele segurou a mão dela, seus dedos roçando suavemente a pele antes de levar a mão de Paulina aos lábios, beijando-a com ternura. O gesto simples carregava o peso de todas as emoções que ambos tentavam esconder.
— Eu trouxe um presente para você. — Disse Antônio, puxando um pequeno broche do bolso de seu casaco. A pedra azul cintilava na luz suave do jardim, refletindo a mesma tonalidade dos olhos de Paulina.
Ela olhou para o broche com admiração, mas sua expressão logo se tornou preocupada.
— É maravilhoso, da cor dos meus olhos, mas deve ter sido muito caro para você... — Paulina murmurou, seus olhos refletindo a dúvida e o receio que sentia.
Antônio deu um leve sorriso, um sorriso melancólico que não chegou a iluminar seus olhos.
— O preço não é importante. Eu queria te dar algo para que, quando usasse, se lembrasse de mim.
A súbita seriedade na voz dele fez com que Paulina franzisse o cenho. Seu coração apertou ao perceber o tom de despedida em suas palavras.
— Por que isso soa como uma despedida? — A voz dela quase falhou ao pronunciar as palavras, um nó se formando em sua garganta.
Antônio desviou o olhar, lutando contra as emoções que o consumiam.
— Eu estive pensando no que você disse, que gosta de mim e quer ficar comigo, mas... sou apenas o filho de um comerciante. Se insistirmos nisso, posso arruinar sua vida. Você entende? Podemos continuar apenas como amigos?
Paulina sentiu como se o chão estivesse se abrindo sob seus pés. As lágrimas encheram seus olhos, mas ela tentou manter a compostura, mesmo com o coração despedaçado.
— Eu só entendo que você não me ama, é um covarde que não quer enfrentar os problemas para ficar comigo. — Ela o empurrou com força, suas palavras saindo como veneno, antes de se virar e sair correndo, deixando Antônio para trás, lutando contra sua própria dor.
Sozinho, ele suspirou, sentindo o peso de suas escolhas. A sensação de que havia feito o certo era ofuscada pela tristeza que o consumia.
— Acho que preciso desabafar com o padre de novo... — disse Antônio para si mesmo, tentando aliviar a angústia que o corroía.
De volta à igreja, ele encontrou o padre Luiz, que o recebeu com um sorriso acolhedor, sempre pronto a ouvir as confissões do jovem que tantas vezes buscava seus conselhos.
— Me conte o que houve dessa vez. Seguiu meu conselho, meu filho?
Antônio assentiu, mas o peso de suas ações era evidente em seus olhos.
— Sim, mas pelo jeito que acabou, eu me sinto péssimo. Ela me odeia agora.
O padre olhou para o jovem com compreensão, sabendo o quanto aquele coração estava dividido entre o dever e o desejo.
— Mas foi o melhor para essa moça, que você disse ser de família rica. Você não fez nada que a desrespeitasse, não é?
— Eu nem sequer a beijei. — Antônio suspirou, o arrependimento pairando em suas palavras. — Eu só conversei com ela. Já ficava feliz vendo-a falar, com o jeito dela de agir com tanta graça... Eu só não queria ter problemas, e se as coisas continuassem como estavam, poderia se tornar algo maior. E como o senhor disse, poderíamos pagar caro depois.
O padre Luiz, um homem sábio e experiente, entendia as preocupações de Antônio, mas também sabia que o coração humano era complicado, e os sentimentos não podiam ser simplesmente afastados.
— Jovem, com o tempo isso passa. Vá e faça seu trabalho bem, seu pai deve estar te esperando.
Antônio saiu da igreja, ainda com a mente pesada. No mercado, onde sua família vendia cereais e frutas, a vida continuava. Gustavo, seu irmão mais velho, lhe deu um tapa amigável nas costas, alheio ao que se passava na mente de Antônio.
— Por que demorou tanto?
— Estava na igreja, só isso. Vamos trabalhar, temos muitos clientes. — Antônio respondeu, forçando um sorriso enquanto se dirigia para atender uma senhora de voz rouca que pedia trigo.
As palavras trocadas eram simples, mas Antônio sabia como fazer os clientes se sentirem especiais. Era um talento natural, como seu pai sempre dizia, algo que o fazia ser um excelente comerciante. No entanto, seus pensamentos estavam longe dali, voltando à primeira vez que viu Paulina, desanimada, enquanto fazia compras com sua mãe. Ele se lembrava de como sua vontade de vê-la sorrir o levou a chamá-la com um truque simples, mas eficaz.
O mercado estava movimentado, com clientes indo e vindo. Entre eles, Alceu, um homem de meia-idade, estava fascinado com os temperos recém-chegados de terras distantes, e se apressava em direção a uma barraca.
— Ana, vamos comprar ali uns temperos recém-chegados de outras terras. — Ele disse, com um brilho nos olhos, enquanto Ana, sua serva, o seguia rapidamente.
Lina, outra serva, lutava para carregar um saco de sal, mas, ao esbarrar em alguém, deixou-o cair ao chão.
— Ai, não! O senhor Alceu vai me matar. O que eu vou fazer? — Ela murmurou desesperada, vendo o sal se espalhar pelo chão.
Antes que pudesse fazer mais, um jovem comerciante, sempre atento, se aproximou.
— Senhorita, eu vi o que aconteceu. Posso te ajudar? — Ele já começava a recolher o sal espalhado.
Lina olhou para ele, surpresa pela gentileza.
— Obrigada, mas sou apenas uma serva. Claro que serei punida por isso...
O jovem sorriu, balançando a cabeça.
— Eu vou lhe dar o tanto que você perdeu, assim não haverá problemas.
— Não, por favor, é muita bondade da sua parte. — Lina se sentiu ainda mais envergonhada pela sua situação, mas o jovem insistiu.
— Para mim, não vai fazer falta. Sou comerciante, e vamos rápido, ou você vai se perder do seu senhor.
Lina sentiu um alívio profundo, e por um momento, olhou para o jovem como se fosse um salvador.
— Ele é um anjo! — Pensou, seu coração acelerando.
— Aqui, acho que isso vai dar. — Disse ele, entregando-lhe um novo saquinho de sal.
— Muito obrigada! — Lina fez uma reverência, ainda surpresa pela gentileza que recebera.
Ana, que observava de longe, chamou Lina.
— Vamos, já está na hora de irmos.
Mais tarde, quando a noite caiu sobre a casa de Paulina, o jantar foi servido no grande salão iluminado por candelabros de ouro. Os pais de Paulina estavam cheios de planos para o futuro da filha, que mal prestava atenção à refeição diante de si.
— Filha, estava conversando com seu pai. Vamos fazer uma festa para que você seja apresentada à sociedade — disse Katie, sua mãe, a duquesa de Elba, com um sorriso orgulhoso.
Paulina, no entanto, não conseguiu esconder sua tristeza. Apenas consentiu com um leve aceno de cabeça.
— Vai ser a oportunidade de arranjar um bom partido para você. Já está na idade — acrescentou seu pai, o Duque Bill de Escobar, sem notar o abatimento da filha.
— Por favor, me deem licença. Eu não estou me sentindo bem, gostaria de ir deitar mais cedo. — Paulina pediu, sua voz quase um sussurro.
Seus pais assentiram, distraídos com seus próprios pensamentos. Paulina, por sua vez, subiu as escadas em direção ao seu quarto, o coração pesado. Ela sabia que, para seus pais, era apenas um peão no jogo social que jogavam, mas para ela, o breve momento de carinho que tivera com Antônio era tudo.
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Atualizado até capítulo 79
Comments
Yara Silva
esse título é muito lindo eu adorei ♥️
2022-04-22
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