Capítulo 16

Isadora

-Você acha que ele já foi embora? -pergunto segurando o braço de Maurício.

Um arrepio sobe por minha coluna, mas me contenho.

-Talvez sim, talvez não. Mas não podemos ficar a madrugada inteira por aqui. Teremos que arriscar.

-Concordo. Minhas costas já estão doendo de tanto ficar nessa posição há quase uma hora.

-Vem. -ele me ajuda a levantar do chão e seguimos cautelosos até o início do beco sem saída por onde havíamos entrado.

-Parece que não tem ninguém nessa rua, vamos voltar para o hotel, arrumar nossas coisas e partir na primeira hora do dia. - ele comenta. -Não estamos mais seguros aqui. Não faço ideia de como conseguiram seguir nossos rastros mesmo depois de todo aquele trabalho em despista-los, mas uma coisa é certa, eles descobriram nosso paradeiro.

Maurício coçou a lateral da cabeça nervoso e olhava para os lados sempre desconfiado. A tensão que ele emanava era quase palpável. Paramos do outro lado em que ficava nosso hotel, observei as poucas pessoas que transitavam àquele horário por ali e senti que dessa vez nós tínhamos nos livrado do perseguidor que estava em nosso encalço.

-Temos pouco tempo, Isa. Vamos subir e acabar logo com isso. Precisamos deixar esse lugar o mais rápido possível.

-Certo. -respondo e logo estamos dentro do hotel subindo pelas escadas de emergência, evitando sermos vistos pelos demais hóspedes e funcionários.

-Jamais pensei que seria uma dessas pessoas práticas que carregam apenas o essencial em uma mochila e pronto. -faço piada enquanto junto meus pertences espalhados pelo banheiro e coloco tudo de qualquer jeito dentro da mochila.

-Praticidade e Isadora em uma mesma frase nunca fez ou fará sentido algum dia. Você é tudo menos prática, Isa, sejamos francos. -Maurício rebate irônico de algum lugar do quarto. -Você adora complicar as coisas e...

Ouvimos algumas vozes sussurradas no corredor e logo ficamos em alerta. Corri para onde Maurício estava, na entrada do quarto. Ele fez sinal para que eu ficasse em silêncio enquanto ele ia até o olho mágico conferir o que estava acontecendo. A maçaneta da porta girou uma vez e eu engoli em seco. Como não abrira de primeira, foi forçada uma segunda e terceira vez. Reconheci a voz masculina daquele beco sem saída exclamar furiosamente alguns palavrões e socar a porta em seguida.

-Se esconda! -Maurício manda enquanto tentava achar um lugar para camuflar nossas mochilas. -Agora, Isa! -ele brada nervoso e tudo que consigo fazer é me enfiar no primeiro lugar que vejo pela frente. Um rack que servia de suporte para TV e ficava ligeiramente virado para a saída do quarto.

Maurício apenas teve tempo de entrar no closet do lado oposto do cômodo fechando as portas silenciosamente e logo o quarto foi invadido por dois homens. A porta não fora arrombada, o que significava que ao menos um deles tinha posse da chave para destrancar o local.

-Você disse que os dois estavam aqui, seu imprestável! Então cadê eles? -nosso perseguidor grita com o outro homem que o acompanha.

-E-eu disse... q-que tinha visto eles nas câmeras de s-segurança e que eles poderiam... e-estar no quarto. -o outro responde gaguejando, o medo fazendo seu sotaque espanhol se destacar ainda mais em meio as palavras.

-Inútil! Eu deveria te matar agora mesmo. - ele rosna.  -Saia da minha frente antes que eu acabe cedendo a vontade que estou de te meter uma bala nessa cara.

Meus olhos quase saltaram das órbitas quando pelas frestas do móvel, vejo quem era o homem que o acompanhava e havia se colocado de lado enquanto o outro vasculhava cada canto do quarto a nossa procura.

Filho da mãe!

Nosso perseguidor já tinha olhado debaixo da cama, ido até o banheiro, procurado em muitos lugares e ainda não tinha nos achado, entretanto era só questão de tempo até que isso acontecesse. Com os nervos a flor da pele, ele voltou ao quarto com uma arma na mão e o semblante transtornado.

-Olha aqui, seu merda, eu tô perdendo o resto de paciência que eu não tenho. Me diz logo aonde estão. Se eu souber que você está mentindo para mim e escondendo-os... Não sei do que sou capaz de fazer.

-E-eu juro que não sei...

-Tem que saber. -ele se revolta revirando os lençóis da cama, jogando-os no chão e dando uma volta pelo quarto, começa a derrubar com raiva os objetos de decoração pelo caminho por onde passa.

Ele estava fazendo uma verdadeira bagunça e infelizmente se aproximando de onde eu estava escondida. Enfim ele iria me achar e esse seria o meu fim.

Já estava me preparando para o momento da grande explosão, porém sou surpreendida com a aparição de Maurício que naquele instante pulou para fora do closet . O homem que também se surpreendera com a cena por um ínfimo segundo, logo recobrou a postura  sacando a arma em sua direção.

Maurício era um irresponsável mesmo -penso comigo. -pois sabendo que onde eu estava escondida seria descoberta em breve, tomou uma atitude impensada e perigosa só para me tirar do foco daquele louco. Ele havia feito aquilo para salvar a minha vida, mesmo que isso significasse colocar a sua em risco.

Maurício só podia ser muito estúpido... e um altruísta de coração mole.

-Parado aí, cara! Cadê a garota? -o homem berra com a arma ainda em punho.

-Você não tem escrúpulos nenhum. Que decepção. -Maurício acusa o homem parado ao lado daquele louco. Louco e armado, diga-se de passagem.

-Me desculpa, eu não queria entrega-los, mas eu tenho uma família para proteger e sustentar. -Santiago se desculpa com remorso e em seguida vai embora deixando o cara com a arma apontada na mira de Maurício.

E eu tinha plena certeza de que ele não chamaria ajuda e muito menos a polícia para resolver o problema.

-Fala logo ou eu irei estourar seus miolos! Onde está a garota? -ele questiona e desfere uma coronhada na lateral da cabeça de Maurício que cambaleia desorientado.

 Sufocando um grito de horror, observo Maurício limpar um filete de sangue que escorre do corte aberto em seu supercílio e limpa-lo na barra da camisa.

-Eu não sei onde ela e está e também não diria nada se soubesse. -ele cospe a resposta com fúria para em seguida receber um soco no abdômen.

 Mesmo se curvando de dor Maurício não me entregaria. Percebi que eu tinha de fazer algo para sairmos daquela situação com vida ou aquele louco continuaria a espancar Maurício até conseguir arrancar alguma informação útil dele, o que certamente eu acreditava que seria muito difícil de acontecer.

-Vai se arrepender de...

Então noto a existência de um flamingo de cerâmica bem ao meu lado dividindo o pequeno espaço apertado comigo. O objeto decorativo não é muito grande, de tamanho médio talvez, mas teria que servir de qualquer forma. Era a única saída. Aproveitando a distração do homem que se concentrava em gritar e ameaçar Maurício, agarro a estátua firmemente em minhas mãos, abro a portinha de correr do móvel e silenciosamente dou alguns passos me aproximando por trás do sujeito e, reunindo toda a força que havia em mim, acerto sua cabeça com uma pancada forte e certeira, fazendo-o desmaiar e cair no chão como um saco de batatas.

-Tá doida, Isadora? Ele poderia tê-la visto e eu nem sei o que teria feito se... -com a adrenalina ainda percorrendo nas veias, caminho em sua direção a passos firmes e lhe acerto um tapa estalado no rosto enraivecida.

Maurício se retrai com uma mão sobre a face em uma mistura de espanto e confusão diante de minha atitude, porém não lhe dou tempo para que pense mais a respeito do assunto.

-Nunca mais faça algo estúpido como se enfiar na frente de uma bala por mim, seu idiota. Você não é de ferro. -e antes que ele possa formular alguma resposta, aprisiono sua cabeça entre minhas mãos e a trago para mim, atacando seus lábios com os meus em um beijo cheio de fúria, medo e paixão.

-Nunca... -ele interrompe o beijo por um momento. -Eu sempre estarei aqui para você. Eu salvo você e você me salva, assim como acabou de fazer agora pouco. Então estamos quites e é assim que vai ser. -eu penso em retrucar, porém ele é mais rápido do que eu e avança sobre mim novamente, continuando de onde havíamos parado.

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Comments

Joelma Oliveira

Joelma Oliveira

será q vão se entender depois desse beijo ou vão continuar se alfinetando??

2022-11-20

0

Amanda Porfírio

Amanda Porfírio

Acho que foi na loja que ela cortou o cabelo pq foi citado que tinha câmeras

2022-05-19

1

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