Episode 4 - Coração Complicado

*Kaname Mizuki narrando*

Aquele beijo parecia não ter fim, mas por incrível que pareça sabia… bem…parecia ser o certo... mas o idiota tinha tirado o meu primeiro beijo! Estúpido! Idiota! BAKA!

  -Boa noite meus senhores e minhas senhoras. – Disse o Hotaru-san a entrar no quarto de repente com uma faca de cozinha enorme cheia de sangue de animal (ou não) com um enorme sorriso de orelha a orelha.

  A entrada repentina dele fez o Akagame-senpai parar e olhar para Hotaru, da qual desviei o olhar por medo daquela faca, e de vergonha daquela cena, sentia o meu rosto vermelho, porquê estava todo vermelho?! E ele também! Alô! Foste tu que me beijaste baka!*

  -Eu… eu… com licença… - Disse conseguindo sair debaixo de Akagame-senpai, e corri para a porta onde se encontrava o louco com sua faca.*

   -Olá novo brinquedo, vamos brincar? – Perguntou-me Hotaru-san baixinho enquanto eu saía, falava com uma voz e um olhar… psicopata.*

 Eu fiquei ainda mais assustada e corri por aquela mansão toda, até ficar esgotada. Uma senhora acabou por me ajudar a ir até ao meu quarto e a me deitar. Uma coisa boa pelo menos… dormir após um dia horrível.*

*Akagame Yoshiro narrando*

  -Que raio… foi aquilo?! – Perguntou-me Hotaru confuso mas com um ar muito divertido.*

  Estava furioso por ele interromper aquele momento! Por isso… sentei-me e respirei fundo antes que lhe desse um soco e falasse alguma coisa que eu me arrependesse.*

  -Que raio fazes com essa faca? – Perguntei desviando o assunto e preocupado com o sangue que vi naquele utensílio.*

  -A minha resposta primeiro! – Pediu-me com insistência divertido comigo e eu suspirei.*

 -Um beijo… - Disse olhando para o lado vermelho.*

   -Isso percebi eu! Mas que raio se passou para acabar assim?*

  -Coisas… e parece que arranjei sarilhos com antigos mercenários… é a vida. E agora, porquê essa faca?*

  -Por falar nisso...Queres os mercenários cozinhados como? Cozidos? Assados? Talvez grelhados? – Perguntou-me enquanto lambia a faca.*

 Eu ri, quer dizer… aquele sangue não seria deles pois não… ou talvez sim… ele sabia o local onde estavam… OH MEU DEUS!*

 Eu corri para o porão de minha casa, onde os vi aos três mercenários que tinham levado a Mizuki-chan, mais cedo, algemados e com vários cortes e Hotaru apareceu por trás de mim, com a faca a brincar.*

  -Estás doido? Precisas de um médico urgentemente! – Berrei em descrença do que via.*

  -Hai hai! Então depois cozinho após saber informações que os meus contactos não sabem e não consigo descobrir pelo computador e as minhas manias “de perseguição ou de psicopata”. – Disse-me a sorrir de forma de gozo. Não era hora de brincadeiras agora!*

  -Que tipos de informações? – Perguntei tentando colocando a minha mente no lugar. No que raio me tinha acabado de meter? No que raios virou o meu porão?! Se meus pais... Ai me Deus...*

  -O assassinato do Senhor Kaname! E o que querem de Mizuki-chan! – Disse-me com um ar inocente e eu fiquei em choque com a revelação, afinal era mesmo assassinato.*

Virei as costas e ele sorriu como se percebesse o que eu queria… queria aquelas informações e o bico dele calado! Queria que nem a pequena e frágil Mizuki soubesse do que se passava!*

 Fui até ao jardim onde a grande lua cheia se refletia na fonte do jardim, brilhante e viva, e ao mesmo tempo tão triste e solitária. Talvez… como eu. Não consegui evitar de sorrir.*

 Dirigi-me ao quarto, onde deitei-me na minha cama onde antes tinha estado a beijar a Mizuki, tão frágil e indefesa. Diferente de outras, ela… me fazia sentir preocupado, com medo, receio. E continuo sem perceber o porquê de ser ela! Eu que gostava de todas e nunca ser de uma rapariga só!*

 Demorei a adormecer, pois ainda sentia o medo de a perder, a ânsia, e o desejo de a ter ao meu lado, a abraça-la, algo que nunca me acontecera… será… destino? Amor? Amor à primeira vista? O meu primeiro amor verdadeiro? Por fim… depois de tanto tempo… adormeci.*

*De manhã / Kaname Mizuki narrando*

Acordei quando senti o sol a me bater nos olhos, apesar de ser uma bela manhã, estava gelada, vesti o meu uniforme, que estava já lavado, e a cheirar a rosas e desci as escadas, seguindo o cheiro do pequeno-almoço, fui até ao salão onde comia o Akagame-senpai, sozinho.*

 Ao olhar para ele, meu coração acelerou e fiquei corada! Não sabia como agir! Parecia uma criança… Mas… só havia comida para dois… E a sua família?*

 Sentei-me deixando os pensamentos de lado.*

 -Ohayo… bom apetite - Falei baixinho começando a comer.*

 -Ohayo… - Respondeu-me sem olhar para mim e sem mais uma palavra.*

Ontem beija-me e salva-me, hoje não me fala. Juro que não entendo este playboy rico e convencido! Cada vez o odeio mais!*

 -A tua família? – Perguntei para quebrar aquele silêncio.*

O olhar dele pareceu ficar vazio, distante, frio talvez.*

 -Não sei. Devem estar noutra viagem de negócios. – Respondeu ele com um sorriso irónico.

 -Como assim, “Devem”? – Perguntei.*

 -Praticamente só passam três dias em casa ao ano. Já nem quero saber. Famílias não servem para nada. – Disse-me parando de comer, saindo da mesa e sentando-se no sofá da entrada. – Acabei.*

 Talvez seja por isso que sua personalidade seja tão... estúpida? Mas ainda assim... não o suporto, não sei porquê! Talvez por me colocar tão confusa? Primeiro beija-me e depois nem me olha? É só isso que faz? Baralha  as mentes das raparigas e depois deixa-as, só para ter mais fãs? É isso que quer fazer comigo?! Lamento, mas não! Eu sou Kaname Mizuki! Não sou igual ás vacas de duas patas!*

  -Famílias… todos têm o seu mal e se uma família é boa ou má, depende de cada uma. – Disse enquanto comia e levantei-me ao acabar, ele ficou à minha espera na porta do salão. – Que tal irmos de metro?*

Ele não disse nada, simplesmente começou a andar, pegou nas minhas coisas e deu-me, e depois nas dele, e fomos até ao metro… ele estava… estranho!*

 Entramos no metro, e na paragem seguinte, ficou cheio demais! Eu procurava desesperadamente a mão do Akagame-senpai.

 -Akagame-senpai?! Akagame-senpai?! – Perguntava desesperada, e de repente senti uma mão a puxar-me para perto.

Era o Akagame-senpai que me puxava e depois abraçou-me, ficando ambos vermelhos, ele com uma mão segurava-se a algo para não cair, e com a outra segurava em mim. Aquele abraço era aconchegante e quente após a manhã toda a ser ignorada e após o dia anterior. Sabia bem algo quente como aquilo.

 -Não te separes de mim. – Disse ele a abraçar-me mais forte e a me dar um beijo na testa. – Vamos! – Quando chegamos à nossa paragem ele pegou na minha mão e fomos a correr para fora.

 -Conseguimos! – Exclamei. – Nunca mais venho de metro!

 -Eu quero repetir, estar bem junto a ti de novo, como ontem… ou agora… - Disse-me ao ouvido e nós ainda de mãos dadas.

 Eu lembrei do que acontecera no dia anterior e dei-lhe um murro na cara e ele colocou a mão à cara.

  -Sabias que eu não iria querer a tua ajuda para andar, sabias que não ia querer estar em tua casa, e ainda assim me levaste! E depois me ignoras a manhã inteira! Afasta-te de mim! – Falei-lhe.

    -Au! É a primeira vez que uma rapariga tem a coragem de me bater. – Disse ele com um ar impressionado levando a mão ao seu rosto enquanto eu começava a andar para a saída mas logo depois ele veio a correr e agarrou a mão. me fez virar  para si e beijou-me de novo mas desta vez afastei-me logo, soltei a mão e continuei a andar.

  -Deixa-me!

-Que fiz? – Perguntou vindo ainda atrás de mim.

  -Claro, o menino playboy rico e convencido não fez nada, nunca faz!

  -Ainda queres que vá contigo até ao diretor?

  -NÃO! – Disse e comecei a correr até à escola, deixando-o para trás e fui até à sala do diretor.

Bati à porta esperando a autorização e entrei.

-Bom dia, Diretor. – Disse ao entrar e aproximei-me.

 -Bom dia Kaname-san, que aconteceu-lhe? – Perguntou-me.

 -Nada de preocupante Senhor, está tudo bem agora, mas não era de mim que vinha falar, mas sim algo que pode salvar a escola, algo que o Destino levou às mãos de Akagame-senpai. – Peguei no papel e entreguei.

O Diretor leu e olhou-me.

 -Inscrevam a nossa escola, o Akagame-san que a acompanhe, já que foi ele quem encontrou, e tu como presidente do conselho.

 -E quem da escola irá participar? – Perguntei.

 -Irá haver um concurso interno, dentro de três dias, todo o dia e a inscrição terá de ser feita até às 16 horas de amanhã. Fala com o conselho para a informação ser passada até às 13 horas de hoje, irei falar com os restantes professores.

-Sim, Diretor! – Respondi.

 -Estás dispensada, podes ir.

 Eu dirigi-me à saída, e quando sai, vi o Akagame-senpai!

 Fingi não o ver e fui até à sala do conselho estudantil.

 -Não iremos inscrever a escola? – Perguntou-me colocando-se à minha frente.

-Tenho de tratar de uma coisa e EU irei inscrever a escola. - Esclarei.

Cheguei à sala do conselho onde estavam todos os membros.

 -Bom dia pessoal, é para avisar que para salvar a escola, iremos entrar num concurso de dança do Japão, mas antes, haverá um concurso aqui na escola para eleger dois dançarinos, rapaz e rapariga para dançar no concurso. O concurso será daqui a três dias, será durante todo o dia. A inscrição é até às 16h de amanhã. Tenham as informações prontas nos quadros de aviso da escola e façam correr a notícia até às 13h, tem 4h, por favor, tenho que ir inscrever a escola, e a fila deve ser enorme!

-Hai! – Responderam a sorrir todos eles.

Eu sabia que poderia contar sempre com eles. Nunca me abandonaram.

 Eu saí da sala e o Akagame-senpai pegou-me pelo braço.

 -Andas a evitar-me? – Perguntou-me seriamente.

 -Não… simplesmente, não aguento olhar para essa cara de cachorro.

 -Cachorro? – Parou e ficou a pensar feito tolo e continuei a andar, mas ele voltou a si e colocou-se à minha frente. – Então porquê? Porquê és a única que não se derrete com este meu charme?

-Charme? Olha o convencido! Por essas atitudes, pelo dinheiro julgas-te o melhor, compras tudo com o dinheiro! És convencido! Deves só andar com mulheres atrás, e eu não suporto gente assim!

Ele calou-se, provavelmente, porque tinha razão e continuei a andar e ele sempre atrás de mim. Apanhamos autocarros e metros. O silêncio sempre reinava entre nós… era frustrante.

 -Porquê estás atrás de mim? – Perguntei.

 -O Diretor não disse para eu vir?

 -Estavas a ouvir?! – Perguntei indignidade olhando-o nos olhos.

 -… - Ficou em silêncio a olhar pela janela do autocarro e eu revirei o olhos.

Finalmente chegamos, era um grande edifício, entramos a correr, às 15h em ponto e sentia-me mal, sentia-me… vigiada! Câmaras! Câmaras por todo o lado!

-Quero… quer dizer… queríamos inscrever a nossa escola! – Pedi.

-Desculpe… mas as inscrições acabaram agora mesmo. – Disse a senhora de fato preto e loira.

 -Por segundos! Por favor! – Pediu o Akagame-senpai.

Ele aproximou-se da senhora e deu um beijo na mão desta que caiu na cadeira, encantada pelos olhos dele, enquanto se aproximava cada vez mais, fazia carinhos no rosto dela e sorria.

-Poderia inscrever? – Repetiu o Akagame-senpai.

Não sei o que me deu, estava a ficar furiosa! E ainda me pergunto porque o trato como o trato, ele é um cão! Um playboy rico, convencido e mimado! Ele só sabe fazer isto! Eu tinha razão em querer me afastar dele!

 -Vou… ver o que posso fazer. – Respondeu por fim pegando no telefone. – Estou? Diretor? Estão aqui dois adolescentes que querem inscrever a escola… Chamaste Kaname Mizuki certo querida?

 -S..sim… - Respondi confusa.

 -Sim senhor… e a vossa escola?

 -Yume.

  -Escola de Dança Yume. – Respondeu a senhora ao telefone.

  O Akagame-san olhou seriamente para o cartaz do concurso para a zona dos nomes.

-Ok… serão inscritos, dia 14 de fevereiro, 1ª ronda… espero que estejam preparados… preciso de vossas assinaturas.

  Eu assinei tal como ele a seguir.

   -Com a sua licença. – Disse o  Akagame-san pegando no meu braço e arrastando-me para fora rapidamente.

 -Obrigado pela gentileza, boa tarde, senhora. – Disse ao me largar dele e virando-me para trás a sorrir.

Ele me pegou de novo pelo braço e me levou para fora até ao metro, onde ele teve de me abraçar para não me perder de vista… de novo!

 -Que pensas que estás a fazer? – Perguntei já irritada. - Fazes-te a secretária e depois puxas-me para fora do nada e abraças-me! Que raio tens na cabeça?!

 O olhar dele era sério, preocupado, confuso… frio… um olhar de quem ia para a guerra.

 -Alguma coisa não está bem! Isto não cheira bem! – Disse ele baixo.

 -Ahn?

 -Nada minha pequena, nada… continua a sorrir, é o único motivo de eu continuar a viver. – Disse-me ele a sorrir tristemente.

Nesse momento só me lembro de alguém empurrar por estar tanta gente, e nossos lábios se encontrarem de novo… doce… mas senti nele algo de preocupado, sério, e frio.

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