No instante em que a vi, parada diante de mim, uma onda avassaladora de emoções me atravessou o peito como uma maré esquecida que enfim retornava à praia certa.
Ela estava ali. De verdade. Em carne, osso... e sentimento.
O coração, até então contido, disparou dentro de mim como se quisesse alcançar o dela.
Por um segundo, não consegui me mover. Apenas a encarei.
A pele clara como porcelana, os cabelos longos e encaracolados caindo sobre os ombros, os olhos verdes que lembravam os meus — e algo mais. Uma luz. Uma memória antiga que eu nunca soube que existia. Ela era tão parecida comigo... ou talvez fosse eu quem me parecia com ela.
— Eu não acredito... é você mesma? — sussurrei, quase sem ar.
Ela sorriu com ternura, um sorriso que parecia carregar anos de silêncio e saudade.
— Sim, Sophie... sou eu. Precisava ver você pessoalmente. Saber se estava bem — sua voz saiu suave, quase protetora.
Não resisti. Dei um passo à frente e a abracei com toda força que meu corpo guardava.
Ela pareceu se surpreender.
— Nossa... eu não esperava isso — murmurou, retribuindo o abraço com delicadeza.
— Eu só queria... — tentei dizer, mas as palavras se perderam no nó da garganta.
— Eu sei — ela me interrompeu com carinho. — Eu também queria muito esse abraço, desde sempre.
Nos afastamos devagar, mas ainda com as mãos entrelaçadas. Ela passou a ponta dos dedos no meu rosto com uma ternura que me desmontou por dentro.
— Você se parece tanto com a mamãe... — sussurrou. — Não só no rosto. No jeito também. Doce. Sutil. Até na maneira como tenta esconder o que sente.
Um leve brilho surgiu nos olhos dela, mas ela piscou e disfarçou.
— Ah… me desculpa. Ainda não te disse, não é?
Assenti, mesmo antes das palavras virem.
— Não precisa. Eu já sei. Você é minha irmã, Ágata.
Ela sorriu com os olhos e apertou minha mão.
— Eu só queria ter certeza de que está bem. Não posso ficar muito tempo... você entende, não é?
Eu respirei fundo. Queria implorar para que ficasse. Queria dizer que tínhamos tanto para viver ainda, tanto para recuperar. Mas assenti.
— Sim... eu entendo. Mas... essa situação toda... vai acabar em breve. Eu prometo.
— Eu é que deveria dizer isso — ela respondeu. — E prometo que vou te ver novamente. Muito em breve.
Ela se inclinou e beijou minha testa com delicadeza. Depois, me envolveu em mais um abraço — apertado, silencioso e necessário.
— Eu amo você, Sophie. E prometo… vou proteger você, custe o que custar.
Afaguei o rosto dela com os dedos e depositei um beijo suave em sua bochecha.
Em silêncio, a vi descer pelas escadas e desaparecer.
Meu peito ficou cheio. E vazio ao mesmo tempo. Mas pela primeira vez, desde que tudo começou, eu sabia — de verdade — que não estava sozinha.
Enquanto dirigia de volta para a reserva, não conseguia afastar o peso daquela breve conversa com Ágata. Entendia o risco de permanecer próxima a ela — a Ordem poderia nos rastrear mais facilmente — mas o desejo de conhecê-la melhor e recuperar o tempo perdido queimava em mim como algo inevitável.
No caminho, liguei para Catherine.
— Já estou subindo — avisei. Elas estavam me esperando na praça de alimentação.
Lanchamos juntas e seguimos nosso passeio pelo shopping. Algumas horas depois, retornamos para casa. Eram cerca de 18h30 quando estacionei em frente à casa. Deixei as meninas e segui para a reserva.
A lua minguante pairava acima das árvores como um olho silencioso. O céu, parcialmente encoberto, deixava escapar pequenas frestas de luz. O vento cortava com suavidade, carregando a umidade habitual de MistFalls. Curiosamente, o nevoeiro ainda não havia começado a se formar.
Morar numa cidade onde o sol é quase uma lenda e a neblina se ergue como véu constante tem seus altos e baixos. Mas, no fundo, eu sabia que não era a cidade que me prendia aqui — eram as pessoas. Ou melhor, uma em especial.
Estacionei próximo à clareira e aguardei. Alguns minutos se passaram até que risos quebraram o silêncio da floresta. As vozes se aproximavam, e com elas, os pensamentos.
— Senti falta disso, Trevor — disse Maya, com um tom leve e nostálgico.
Apertei os lábios.
— Você continua ótima, Maya. Ainda consegue me vencer às vezes — respondeu Trevor.
— Às vezes? Quando foi que você ganhou de mim, bobinho? — ela retrucou.
— Dá pra vocês pararem com essas criancices? Sophie já chegou, apertem o passo — resmungou Caio.
Sorri. Sempre admirei o senso de responsabilidade de Caio, seu espírito protetor. Às vezes, ele parecia mais um irmão mais velho — mesmo tendo apenas um ano a mais que eu.
Logo os quatro surgiram na trilha: Trevor, Maya, Caio e Ruby.
Maya, em sua forma lupina, exibia uma pelagem cinzenta quase prateada. Os olhos vermelhos — traço comum entre os alfas — destacavam-se em contraste com sua pelagem clara. Era, de fato, uma loba imponente. Linda. Feroz.
— Graças aos céus você chegou — disse Ruby, revirando os olhos. — Já não aguentava mais esses três.
Desde os acontecimentos com o vírus mágico, minha relação com Ruby havia mudado. Estávamos mais próximas. Talvez ela nunca tenha superado seus sentimentos por Trevor, mas soube respeitar a escolha dele — e a minha presença ao lado dele.
— Aqui estou. Embora não tenha certeza se vou conseguir me transformar esta noite.
— Relaxa. E, como sempre, arrasa — disse Caio com um sorriso confiante.
— Confie nos seus instintos, meu amor — acrescentou Trevor.
Assenti, determinada. Comecei a tirar as roupas, mantendo apenas a lingerie, e respirei fundo.
“Agora ou nunca.”
Meus olhos encontraram os de Trevor, e naquele instante, como sempre acontecia quando estávamos conectados, a transformação se deu com naturalidade. Fluida. Instintiva.
— Consegui... — sorri, ainda maravilhada.
— Grande coisa — resmungou Maya.
— Para mim, é sim. Eu não possuo o espírito de lobo como vocês. Cada transformação exige mais de mim.
Maya se aproximou com expressão tensa.
— Como ousa entrar na minha mente? Eu bloqueei minha conexão. Como conseguiu me ouvir?
— Não importa como ouvi. Apenas tome cuidado ao se aproximar de mim. Eu não sou como os outros.
Trevor interveio:
— Sophie está certa. Quando um lobo bloqueia sua mente, ninguém deve conseguir acessá-la... a menos que ele baixe a guarda. Mesmo entre alfas, isso é raro.
— Mandou bem, garota — disse Ruby, encarando Maya com sutileza. — Confesso que me surpreendeu. Eu, sinceramente, não esperava muito de você.
— Não sei como fiz isso. Apenas... fiz. Mas temos uma patrulha a cumprir, e a névoa logo tomará conta da floresta.
— Concordo — respondeu Trevor. — Vamos em frente.
Partimos em disparada, e eu rapidamente me posicionei ao lado de Trevor. Percebi, com certa satisfação, que Maya recuava, ficando atrás de nós.
— Maya, pode cobrir a retaguarda do grupo, por favor — pediu Trevor.
— Mas... a posição de um alfa é à frente — rebateu ela, contrariada.
— Aqui fazemos diferente. Eu lidero a frente, Sophie cobre a retaguarda. Como você escolheu participar do meu grupo, e não do grupo do Robin, peço que siga atrás.
Houve um momento de hesitação.
— Tudo bem — respondeu Maya, embora a tensão em sua voz fosse clara.
Conduzimos a ronda pela reserva com disciplina. Tudo parecia em ordem. Ao retornarmos à clareira, Robin nos aguardava com expressão orgulhosa.
— Essa é a nossa protetora. Tenho orgulho em dizer que temos uma alfa à altura da Marve — disse ele, batendo palmas.
Voltei à forma humana ainda em movimento, permitindo que minha transformação se encerrasse em grande estilo.
— E posso dizer que me orgulho de fazer parte dessa família — declarei. — Mas vamos deixar os super-heróis para os quadrinhos. Estou bem longe disso.
Peguei minhas roupas e comecei a me vestir.
— Já vi que perdeu a vergonha de ficar nua perto da gente — brincou Luara.
— É bobagem esconder o corpo quando todos aqui são como uma família.
— Concordo. Não há por que ter vergonha — completou Ruby, lançando um olhar sugestivo em direção a Maya.
Encostei-me à moto de Robin, ao lado de Luara. Ruby se aproximou mais uma vez.
— Sem falar que você tem o corpo mais bonito do grupo — disse, sorrindo. — Não tem por que esconder.
A provocação foi clara. Ruby não fazia questão de esconder o incômodo que sentia em relação a Maya.
— Sophie é completa — comentou Caio, se aproximando com um sorriso debochado. — Bruxa, ninfa, loba, linda, poderosa... e ainda uma alfa. O que mais se pode pedir?
Antes que eu respondesse, Trevor surgiu por trás, ainda sem camisa. Tirou o braço de Caio do meu ombro e me puxou com leveza, mas firmeza.
— Só que ela já tem um parceiro — disse, lançando um olhar afiado para Caio. — Então, nada de brincadeiras com a minha garota.
Maya, encostada na caminhonete, cruzou os braços e mordeu os lábios, contendo algo que parecia queimar dentro dela.
E eu... apenas respirei fundo, sentindo que aquela noite ainda guardava muito mais do que parecia.
— Ei, eu amo a Sophie, cara. Mas como uma irmã mais nova. Não viaja — respondeu Caio, rindo sem graça.
— Sem falar que você já está ratiando pro lado da Diana, não é? — provocou Vitor, com um tom de deboche.
— Diana? Aquela das líderes de torcida? — Robin ergueu uma sobrancelha, curioso.
— Ela mesma. Eu vi ele dando em cima dela na festa. Teve até uns amassos no jardim — completou Vitor com um sorriso maroto.
— Ah, cala a boca, seu virgem — retrucou Caio, empurrando o ombro do irmão.
— E você acha que engana alguém? Você também é, e eu sei disso — rebateu Ruby, cruzando os braços com um olhar afiado.
— E daí? Isso muda o quê? — Caio deu de ombros, tentando manter a pose.
Sefe passou um dos braços ao redor de Caio e declarou com naturalidade:
— Relaxa, cara. Eu também sou. E nem beijo eu dei ainda.
— Aí já é humilhação, né, Sefe? Você acabou de fazer quinze anos e eu tenho dezessete — reclamou Caio, soltando uma risada contida.
Luara revirou os olhos, divertida.
— Meninos, talvez fosse melhor vocês guardarem esse tipo de conversa para quando estiverem entre garotos. Honestamente.
— Concordo completamente — disse Ruby. — Nenhuma de nós tem interesse em ouvir os detalhes da vida amorosa — ou da falta dela — de vocês.
— Eu e Luara vamos nessa — disse Robin, dando dois tapinhas nas costas de Trevor. — Tudo tranquilo no lado leste. Vamos aproveitar o resto da noite enquanto ainda podemos.
— No lado oeste também está tudo em paz. Qualquer coisa me liga, certo? — Trevor olhou para mim com um sorriso. — Agora quero aproveitar a noite com a minha bruxinha aqui.
Ele beijou minha cabeça com carinho, e eu encostei no peito dele, sentindo o calor de sua pele e a tranquilidade do momento.
— Eu vou pra casa com Caio, já que não tenho mais nada para fazer — comentou Ruby, lançando um olhar breve para Maya.
— Você pode deixar Maya em casa? — perguntou Robin, voltando-se para Vitor.
— Claro. Eu e Sefe vamos dar uma volta. Se ela quiser ir com a gente, pode vir — respondeu Vitor com naturalidade.
— Não, muito obrigada. Prefiro não ir. — disse Maya, com a voz firme e o olhar distante.
— Nossa, está mudada, hein? Arrogante até — soltou Vitor, surpreso com a resposta seca.
— Apenas disse que não estou com vontade. Se puderem me levar, agradeço — ela completou, séria.
— Qual é, Maya... vai se distrair um pouco com os meninos — incentivou Trevor, tentando aliviar o clima.
— Vamos passar no Moo e depois subir até o mirante. Vai ser divertido — insistiu Sefe, animado.
— Já disse que não. Por favor, só me deixem em casa — ela respondeu, desviando o olhar, mais rígida do que nunca.
— Não insista, Sefe. Vamos. Entra aí, Maya — disse Vitor, abrindo a porta da caminhonete com um suspiro.
Quando todos começaram a se dispersar, virei-me para Trevor com um sorriso provocante.
— Vamos também, amor. Tenho uma surpresa esperando por você lá em casa.
— Ah, é? E o que seria? Porque o que eu quero está bem aqui — ele respondeu, com aquele tom rouco que sempre me arrepiava.
Antes que dissesse mais alguma coisa, puxei-o pela gola da camisa e o beijei. Um beijo intenso, quente, cheio de intenção. Senti o olhar de Maya cravar em mim como uma adaga, e confesso que não fiz questão de disfarçar.
— Ei! Esperem pelo menos chegar no quarto! — gritou Vitor, aos risos, antes de arrancar com o carro.
Trevor me olhou com um sorriso enviesado, olhos brilhando de cumplicidade.
— Você fez isso de propósito, não fez?
— Será? — pisquei para ele. — Está tão óbvio assim? Claro que fiz. Você acha que não percebo o jeito como ela ainda olha para você?
Ele balançou a cabeça com um sorriso terno e puxou minha mão.
— Não me importo com o jeito que ela me olha. Só me importo com a maneira como você me vê... e com o que eu sinto por você.
Entramos no carro, e antes que ele ligasse o motor, eu o provoquei mais uma vez:
— E você fez o mesmo no jogo outro dia. E eu fiquei quieta, lembra?
— Pegou no flagra, hein? — respondeu ele, rindo, enquanto saíamos juntos pela trilha.
Seguimos em direção à casa dele, com aquela sensação silenciosa de que, por enquanto, tudo estava em equilíbrio — mesmo com as sombras pairando por perto.
Meus amores não esqueça de deixar seu like e seu comentário!Bjs no coração 💋♥️🥰 e uma ótima leitura!
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 81
Comments
Priscila Silva
Agatha e linda
2023-11-28
0
Elloá Vitória Assis Araújo
Ágata é muito bonita, eu até que gostei da aparência da Maya, por causa dos olhos puxadinhos, eu gosto do povo coreano, mas enfim eu prefiro Ágata ela é muito bonita, e sério Maya é muito irritante kkkk 🤣
2023-11-24
0
Larisa Silva
gente estou amando , a história está cada vez mas interessante , continua no ritimo
2023-04-17
2