tomei um banho quente longo, daqueles que tentam lavar o tempo. A água escorria pesado, e por um segundo pensei que podia derreter os ossos do que eu era. Saí do chuveiro, enrolei a toalha na cintura e peguei o celular. O Instagram tava um caos: mensagens demais, pedido de atenção, várias querendo ser a fiel do morro a oferta velha de afeto por dinheiro, a liquidez barata do carinho.
— Preciso desestressar — falei pra mim mesmo, rindo curto. E chamando pelo nome de sempre: uma que tava marcada no app como Andressa. Qualquer nome serviria, era só um intervalo. Fechei o punho, marquei o endereço e fui.
No caminho passei pela casa da tia Bia. Ela tava com a Jennifer na varanda , casadas há quatro meses, um par que o morro olhava com mistura de espanto e respeito. Bia me viu primeiro e fez aquele aceno com a mão, apontando a esposa com orgulho:
— Vai com calma, seu monstro. — disse Bia, rindo.
— Parabéns pra vocês, viu? — Jennifer sorriu, me cumprimentou como família.
Aquele calor me fez bem. Entrei na casa de Andressa e ela já tava lá, olhando pra porta como se soubesse que eu viria. O silêncio entre a gente era rotineiro, quase uma conversa sem voz. A gente se deu o que precisava nada de sentimental, apenas uma troca pragmática de calor
não precisei falar muito, ela já se ajoelhou na minha frente. Abaixei minha calça e meu pau logo pulou pra fora.
senti a língua quente dela passando pela cabecinha do meu pau ,soltei um gemido abafado movimentando a cabeça dela com as mãos.
— era disso que eu precisava.
e quando ela términou,joguei um maço com notas no colchão, sem palavras. Ela limpou a boca, falou baixo:
— Dorme aqui se quiser. — oferta simples, profissional.
Eu nem respondi. Sai antes do sol chegar ao meio, sentindo o peso do corpo mais leve por um segundo. Me dirigi pro alto do morro, subi as ruelas suadas e parei um tempo olhando a favela inteira abaixo. O morro é um organismo: vibra, late, respira medo e esperança. Segurei a visão por alguns segundos e sussurrei pra mim mesmo:
— Agora vocês vão conhecer o dono de verdade. Essa favela vai vibrar quando isso acontecer.
Voltei pra casa, dormi com os sonhos cortados em pedaços como sempre e acordei tarde, com o barulho vindo da boca de baixo. Era o Natazin que tocava a boca, trazia novidade: caixa de pó novo, entrefolha de novidade que ia fazer cliente salivar. Natazin é o mais doidinho dali não tinha medo dos próprios perigos, mas era gente boa no fundo.
Cheguei chegando e vi o pacote. Ele tava com o olho arregalado de criança achando brinquedo novo.
— Que porra é essa, Nat? — perguntei, tirando o invólucro da mão do moleque.
— Mano, essa é da boa, é novidade que chegou, tá ligado? — ele falou, quase babando.
Dei um peteleco na lateral do rosto dele, como se fosse bronca de pai.
— Isso aqui é pros clientes, porra. Não é pra tu ficar cheirando — falei seco. — Limpa esse nariz e aprende a dividir lucro.
Ele obedeceu com cara de moleque, limpando o rosto com a manga, rindo nervoso. O Natazin podia ser doido, mas era leal; e lealdade aqui vale quase ouro.
Enquanto eu ainda checava a movimentação, lá veio Lua descendo a viela com a mãe, dona Helena, e o pai, seu Sebastião. Ela tava de calça e blusa de alça, simples e bonita, segurando uma Bíblia com as duas mãos como quem guarda talismã. Ao lado dela, Mirela irmã que não negava o sotaque da rua caminhava de cabeça erguida. Ver a família deles me trouxe algo que não sei se era culpa, nostalgia ou um soco de calor no peito.
Fiquei na sombra observando, a mente pesada. O morro não perdoa distração. E eu já tava ficando cansado de ser o homem que só responde com punho queria também controlar, pensar, planejar. Martins tinha dito que me passaria tudo, mas um trono não se herda por costume: se toma com atitude.
A rua seguiu. O cheiro do pó novo ficou nos cantos, o Natazin foi embora resmungando promessas, e Lua passou segurando a Bíblia como escudo. Vi o sol tremeluzir nos cachos dela e senti uma vontade louca de proteger aquilo que me puxava pro passado. O problema era que proteção, aqui, vinha com preço. E eu já sabia quanto custava.
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Atualizado até capítulo 42
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