Letícia estava na loja de Tia Cida, a tensão da última semana vibrando sob a pele. Desde que jogou o bilhete de desafio no peito de Coringa, ele se recusou a falar ou sequer olhar para ela. A raiva silenciosa dele era pior do que qualquer grito.
E isso a motivou. Ela precisava provar que era dona do seu próprio destino, mesmo que estivesse cercada por seguranças invisíveis.
Naquela terça-feira, a saída da escola foi o cenário de sua rebelião.
"Amiga, tenho que ir voando! O Vini está me esperando no cinema," Laura sussurrou, ajeitando a gravata. Ela e Vinícius haviam marcado o encontro em segredo.
Letícia gesticulou, com um sorriso de cumplicidade: 'Cuidado. Com. Sombra. Ele. Vai. Te. Achar.'
"Que se dane o Sombra! Eu também mereço um pouco de asfalto," Laura disse, e saiu apressadamente.
Letícia se virou e foi para o ponto de ônibus. Ela usava a mochila de Laura como disfarce. O plano era simples: fingir que iria para a loja, mas se desviar no meio do caminho.
Do outro lado da rua, escondido atrás de uma banca de jornais, um dos "vapores" de Coringa a observava. Ele estava lá para garantir que Letícia pegasse o carro de volta para o morro ou, no mínimo, fosse direto para a loja.
Letícia entrou no ônibus, e o vapor a seguiu de longe, relatando o movimento pelo rádio: "Ela pegou a linha 11. Direção ao centro, Coringa."
A Armadilha de Bruno
O ônibus parou no ponto, e Letícia desceu. O vapor pensou que ela iria para a Tia Cida, que ficava a algumas quadras dali. Mas Letícia não virou a esquina. Em vez disso, ela se sentou em um banco da praça, puxou o celular e mandou uma mensagem para Bruno: Estou na praça. Não demore.
Em menos de cinco minutos, Bruno apareceu.
Ele estava eufórico por ter sido chamado. Ele sentou-se ao lado dela, ignorando completamente o olhar feio do vapor escondido.
"Sabia que você ia vir. O que houve? Seu irmão te deu um sermão?" Bruno perguntou, a voz cheia de preocupação.
Letícia riu e gesticulou, a conversa agora fluindo em gestos adaptados, mais lentos para que Bruno pudesse acompanhar, embora ele ainda tivesse dificuldade. 'Meu. Irmão. E. Coringa. Estão. Loucos.'
"Loucos de ciúmes, né?" Bruno se inclinou, o cheiro de perfume doce o cercando. "Eu não ligo para aquele cara. Você é demais, Letícia. Você fala mais sem falar do que a galera da escola falando o dia inteiro."
O elogio aqueceu Letícia. Ela gesticulou: 'Você. Não. Tem. Medo?'
Bruno encolheu os ombros. "Medo do quê? De um cara grande? Minha mãe diz que quem deve é que tem medo. E eu não te devo nada." Ele tocou o braço dela com a ponta dos dedos, um toque leve e inocente.
O Fim da Paciência de Coringa
A cena foi capturada pelo vapor, que enviou a foto diretamente para Coringa. A imagem de Bruno com a mão no braço de Letícia, a proximidade, e o sorriso dela. Era o suficiente.
Coringa estava no Bar do Alemão, fechando negócios, quando o celular vibrou. Ele viu a foto e o mundo parou.
"Sombra! Sombra, venha aqui!" Coringa gritou, batendo na mesa.
Sombra correu, achando que era um problema de segurança. Ele olhou o celular e viu a imagem. O rosto de Letícia estava radiante, e a mão de Bruno estava... ali.
"Onde eles estão?" Coringa perguntou, a voz baixa, mas perigosa.
"Na Praça Central, Coringa. Ele desviou a rota," Sombra respondeu, a voz igualmente fria.
Coringa se levantou, jogando a cadeira para trás. "Chega. O asfalto não vai roubar ela de mim."
"Você não vai lá, Coringa. É loucura! O asfalto te conhece. Manda os vapores," Sombra implorou.
Coringa pegou a chave do carro blindado. "Não. Ninguém vai tocar nela, exceto eu. Ela é minha. E se ela quer se afastar, eu vou mostrar a ela o que é distância de verdade."
Ele saiu em disparada, deixando Sombra para trás. Ele não iria apenas buscar Letícia; ele iria reestabelecer o domínio. E Bruno seria apenas o aviso.
Letícia e Bruno estavam rindo. Ela gesticulava sobre a próxima prova da escola, quando a escuridão cobriu o sol. Um carro blindado preto freou bruscamente na beira da calçada.
Coringa saiu. A raiva era uma aura que o envolvia. Ele andava como um predador, os olhos fixos em Bruno.
O garoto, que se gabava de não ter medo, empalideceu. Letícia sentiu o pânico, mas não se moveu. Ela encarou Coringa, o desafio final em seus olhos.
Coringa caminhou até eles. Ele pegou Letícia pelo braço, não com violência, mas com a firmeza de quem reclama o que é seu, e gesticulou em LIBRAS, os sinais furiosos e rápidos, apenas para ela: 'Você. Veio. Até. Aqui. Para. Me. Desafiar.'
Ele não esperou a resposta. Puxou-a para o carro. Antes de entrar, olhou para Bruno, que estava petrificado.
"Não. Encosta. Nela. De. Novo," Coringa rosnou, a voz grave e final, a ameaça clara no ar.
Ele jogou Letícia no banco do passageiro e acelerou para longe, deixando Bruno sozinho na praça, observando a saia xadrez de Letícia desaparecer na escuridão do carro blindado.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 70
Comments