A Nova Rotina
A primeira semana de Letícia e Laura na loja de presentes da Tia Cida foi um mergulho em uma realidade que não existia no alto do morro. O asfalto tinha cheiro de perfume doce, café fresco e, acima de tudo, anonimato. Ninguém as reconhecia pelo sobrenome, ninguém sabia que elas tinham conexões com o Dono do Morro. E essa liberdade era inebriante, especialmente para Letícia.
A loja de Tia Cida era um oásis de fofura: bichos de pelúcia, canecas temáticas e bijuterias coloridas. O trabalho era simples: organizar prateleiras, etiquetar produtos e sorrir – o que Letícia fazia com os olhos e o charme que a LIBRAS a ensinava a transmitir.
Naquela quarta-feira, a tensão entre as duas amigas era palpável, mas não por causa do trabalho.
"Ele não para de me mandar mensagem," Laura sussurrou, dobrando uma camiseta com um alienígena estampado. Ela estava falando de Sombra, que estava cada vez mais intenso desde que ela e Letícia começaram a trabalhar.
Letícia estava no caixa, e com as mãos, gesticulou discretamente para a amiga: 'Ele. Com. Ciúmes. De. Vinícius.'
Laura suspirou. "Eu sei! Desde que o Vini me chamou para estudar na biblioteca, Sombra virou meu stalker. Ele me perguntou se eu estava de 'amizade séria' com um 'playboy' do asfalto."
Letícia riu, um som nasal e baixo que fazia seus ombros tremerem. Ela gesticulou: 'Responda. Sim.'
"Eu não vou! Ele me mata! E você, hein? O Bruno já te mandou cinco áudios e você não respondeu um. Coringa está prestes a explodir," Laura devolveu, apontando com o queixo para o celular de Letícia, que estava vibrando silenciosamente no balcão.
Letícia pegou o celular e mostrou para Laura a foto de Coringa no papel de parede: ele estava sério, com os braços cruzados. Ela gesticulou, com um sorriso desafiador: 'Eu. Gosto. Dele. Bravo.'
A verdade era que Coringa não apenas estava bravo; ele estava em parafuso.
A Ronda Ostensiva
Naquele exato momento, a duas quadras da loja de Tia Cida, em um carro blindado com vidros escuros, Coringa estava estacionado em um ponto estratégico. Sombra estava ao seu lado, a tensão entre os dois era quase visível no ar. Eles se revezavam nas rondas. O Dono do Morro estava violando suas próprias regras de segurança, arriscando-se no asfalto apenas para ter a certeza de que "suas garotas" estavam seguras.
"O carro de vocês vai ter que buscar elas às cinco em ponto. Não quero atrasos," Coringa ordenou no rádio.
"Relaxa, Coringa. Não tem perigo nenhum aqui. É o asfalto," Sombra tentou acalmar.
"Perigo é Letícia sem supervisão," Coringa grunhiu. Ele estava com a camisa grudada nas costas, o calor, a espera e o ciúme o consumindo.
Ele pegou o celular, abrindo o aplicativo que monitorava as redes sociais da irmã — o único contato visual que ele tinha dela. Viu uma foto recente: Letícia e Bruno, sentados na escada da escola, sorrindo. O garoto estava perto demais.
Sombra viu o olhar assassino do Dono e soube que a paciência estava no limite
"eu estou com ciúmes da minha irma Sombra. Não da sua ," Coringa tentou justificar.
Sombra fez o sinal de 'mentira' em LIBRAS, e Coringa o olhou com irritação. Sombra continuou, falando alto para o amigo: "Ela é minha irmã, mas você é o único que faz duas rondas por dia no asfalto, Coringa. Ela tá te testando. Ela sabe que esse afastamento te irrita."
O Dono do Morro deu um soco leve no volante. "Ela é muda, Sombra. Mas fala mais que qualquer um."
O Encontro com Bruno
Na loja, o sino da porta tocou, e Letícia levantou o olhar. Era Bruno.
Ele estava de calça jeans e uma camiseta branca, carregando a mochila. Ele parou na porta e acenou, falando alto: "E aí, gatas! Posso usar a desculpa de comprar um presente para a minha mãe e ficar aqui por perto?"
Laura sorriu, nervosa, e olhou para Letícia. "Ai, meu Deus, o Bruno! O que a gente faz?"
Letícia sorriu, aquele sorriso maroto que Coringa odiava. Ela gesticulou para Laura: 'Se. Sombra. Ver. Ele. Aqui. Vai. Ser. Fogo.'
Bruno se aproximou. "O que foi, Letícia? Você me deu vácuo o dia inteiro. Nem um 'oi' em sinais?"
Letícia pegou o bloquinho de notas no balcão e escreveu rapidamente, mostrando a ele:
Eu estou trabalhando, Bruno. E não posso dar ‘oi’ ou meu chefe me demite.
Bruno riu, notando a gravata no uniforme dela. "Seu chefe é o dono da loja de biju? Parece um militar."
Letícia revirou os olhos e gesticulou rapidamente: 'É. Meu. Trabalho. Eu. Tenho. Que. Fazer.'
Laura, sentindo que precisava intervir para que Sombra não aparecesse a qualquer momento, chamou Bruno.
"Vini te mandou um abraço! Ele estava perguntando de você."
Bruno se animou. "Ah, o Vini. Ele e Laura são a maior dupla, né? Ele é totalmente nerd por ela. Acho que vai rolar."
Ouvir Bruno falar sobre "Vini e Laura" fez Laura corar e Sombra se contorcer a duas quadras de distância.
Neste momento, Coringa, entediado pela inatividade, resolveu dirigir lentamente pela rua.
Ao passar em frente à loja, ele freou bruscamente.
Lá estava Letícia, encostada no balcão. Mas não estava sozinha. Bruno estava muito perto, falando com ela, e Letícia estava rindo com o rosto virado para o garoto, as mãos em movimento. A saia dela estava à mostra.
O sangue de Coringa gelou. Ele viu o braço de Bruno se esticar e, no que parecia um gesto inocente, o garoto tocar de leve o ombro de Letícia.
O Dono do Morro explodiu.
"Aquele moleque botou a mão nela!" Coringa gritou, batendo as mãos no volante. "Sombra, desce agora e resolve isso. Agora!"
Sombra respirou fundo. Ele sabia que precisava intervir, não apenas pela segurança de Letícia, mas pela sanidade de Coringa.
"Calma, Coringa. É o asfalto. É a loja da Tia Cida. Não podemos fazer cena aqui. Vou lá com calma." Sombra tentou acalmá-lo, mas a visão de Laura conversando animadamente com Bruno também o atingiu.
Sombra abriu a porta do carro e saiu, a expressão fria e a postura imponente. Ele caminhou com a lentidão de um predador, sabendo que sua presença sozinha já era um aviso.
Na loja, Letícia estava no meio de uma frase em LIBRAS para Bruno, quando seus olhos bateram na vitrine e, logo depois, na figura sombria que atravessava a rua.
O coração de Letícia acelerou. Ela viu o Sombra se aproximando com a testa franzida e soube: a liberdade tinha acabado. O Dono do Morro tinha enviado seu mensageiro.
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Atualizado até capítulo 70
Comments
Gigliolla Maria
b.o eita .esse distanciamento que ele colocou o estw matando o ciúmes
2025-11-01
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