Avery
Eu o encarei sem piscar, como se meus olhos pudessem encontrar um erro escondido nas palavras dele. Não encontrei.
Apolo Darko não parecia estar blefando. Ele simplesmente… decretou.
— Eu… — minha voz saiu fraca, um sussurro perdido no mármore e no vidro do escritório — eu não entendi. Quer dizer, eu entendi… mas não entendi. Pode… pode repetir? Do começo.
Ele recostou na cadeira, calmo, como quem dita contratos todos os dias antes do café da manhã. O rosto dele não mudava. Os olhos eram frios, porém atentos, e tinham uma paciência perigosa. Ele me olhou como quem avalia um diamante com rachaduras.
— Será um casamento com um contrato de três anos. Você terá tudo de mim. Luxo, conforto, segurança... seus pais terão de volta a vida de antes. Vou recuperar a empresa da sua família, deixar no meu nome até o último dia do contrato e entregar a você no divórcio. Você não me faz perguntas. Você não me cobra explicações. Você não se mete na minha vida. É isso.
As palavras cortaram o ar. Eu ouvi. Eu entendi. E ainda assim meu corpo continuou parado, como se o mundo estivesse dois passos adiante de mim.
— Três anos… — repeti, sem perceber que estava repetindo — luxo, conforto, segurança…
— E sem perguntas. Silêncio. — ele completou — O seu, não o meu.
Eu ri. Foi um riso feio, quebrado, o único som que meu corpo conseguiu produzir para não desabar ali mesmo.
— Eu cresci acreditando que eu iria me casar por amor. — falei, com a garganta seca — E agora o senhor está me dando um contrato.
— Você cresceu acreditando que a vida sempre seria justa. — respondeu, sem rudeza, só firme — Não é.
— E se eu… — respirei fundo — e se eu não conseguir seguir as regras? Se eu quebrar alguma?
— O contrato é claro. — ele responde, e vi o músculo do maxilar endurecer — Quando alguém quebra regras no meu mundo, paga com o que tem de mais caro.
Eu entendi antes que ele dissesse. Ainda assim, forçou:
— Sua vida.
Não houve grito. Não houve cena. Só um frio inteiro atravessando minhas costelas, chegando à coluna, subindo até a nuca.
Minha vida.
Era isso que eu estava concordando em colocar no centro da mesa.
Minhas pernas cederam por dentro. Eu forcei o corpo a andar, a obedecer, e só então me sentei na cadeira diante dele, como uma pessoa normal, num encontro que jamais seria normal. As mãos tremeram no colo. Respirei três vezes, longa, lentamente, para não chorar.
— Você vai matar minha família se eu disser não? — perguntei, sem conseguir encarar os olhos dele por dois segundos seguidos.
— Eu disse que perdoo a dívida… — ele falou, pausado — se você se casar comigo. Se você disser não, o contrato não existe. E a dívida volta a existir.
— E a dívida mata. — sussurrei, completando por ele.
— Dívida não paga mata. — corrigiu, objetivo — Sempre matou.
Fiquei muda. Lembrei da minha mãe na sala, do meu pai com o rosto pálido, das rosas negras no pescoço daqueles homens. Lembrei de mim mesma, em tantas viagens, tantos jantares, tantas risadas… tudo isso pago com um dinheiro que não nos pertencia. Uma vida brilhante por cima de um buraco.
— Você já decidiu… — ele disse, como quem lê pensamentos — só está adiando o momento de falar em voz alta. Do contrário, já teria saído daqui batendo a minha porta.
— Eu… — olhei para a janela. A cidade lá embaixo parecia outra coisa, um tabuleiro, uma maquete — eu pensei em me casar por amor. Em escolher um vestido por amor. Em dizer “sim” por amor.
— Então pense que isso é amor. — ele respondeu, e aquilo me cortou por um ângulo que eu não esperava — Não por mim. Pelos seus pais.
Foi como se uma mão empurrasse meu coração para dentro do lugar certo. Eu podia odiá-lo. Eu podia temê-lo. Mas eu conhecia o amor. E o meu amor tinha o rosto dos meus pais.
Apertei as mãos, firmei o queixo. Quando levantei os olhos, eu mesma me reconheci, eu não estava brincando de ser corajosa. Eu era. Talvez por eles. Talvez apesar de mim.
— Está bem. — falei, com um nó na garganta e no peito — Eu aceito.
Ele assentiu, sem surpresa.
— Assinaremos hoje.
Um estalo dentro de mim. Hoje.
— Agora?
— Uma hora. — ele respondeu, erguendo a mão. Um dos homens surgiu, como se tivesse brotado da parede — Tragam o contrato.
— Sim, chefe.
“Chefe.” A palavra me fez engolir seco. Eu tinha acabado de aceitar ser esposa do demônio frio que comandava o submundo da cidade.
Ele começou a falar com o advogado, com o secretário, com alguém no telefone. Nomes, cláusulas, prazos. Eu continuei sentada olhando para a mesa onde, em poucos minutos, eu assinaria o fim da minha vida antiga. E talvez o começo de outra que eu não sabia nomear.
Durante a espera, ele se calou e me observou. Eu também o observei, com a coragem que sobrou.
— Por que eu? — perguntei, quando o silêncio ficou grande demais — Entre tantas mulheres da cidade… por que eu?
— Porque você entrou aqui. — ele respondeu, simples — E não mentiu.
— Eu menti sobre estar com medo.
— Medo não é mentira. Medo é verdade.
Pela primeira vez, os olhos dele pareceram… menos frios. Não quentes. Só menos de ferro.
O contrato chegou. Grossas páginas, letras pequenas, cada parágrafo um tijolo de uma prisão que eu mesma estava escolhendo construir. O advogado explicou termos que eu mal ouvi. Eu só peguei a caneta quando Apolo falou:
— Leia com calma.
— Se eu ler devagar, eu desisto. — respondi, honesta.
— Então assine. — ele disse.
Assinei. Meu nome de sempre. Minha letra bonita, treinada em cartões de agradecimento e listas de convidados. “Avery Masi.” Uma vez. Duas. Três. Quatro.
O advogado assinou. Apolo assinou. E algo no ar mudou. Eu me tornei “algo” na vida dele. Não esposa ainda. Mas uma peça escolhida. Uma ponte construída. Uma sentença escrita.
Quando terminei, minhas mãos estavam frias.
— O casamento será em uma semana. — Apolo falou, como quem dá o horário de um voo — Haverá um vestido, um anel, fotos. Você terá uma equipe à sua disposição. O resto é comigo.
— Minhas… minhas irmãs… — ousei — elas moram fora.
— Se quiser convidá-las, convide. Se não quiser… não. É um assunto seu.
— Meus pais…
— Seus pais terão a vida de volta. Hoje ainda. — Ele pegou o telefone — “Providenciem. Contas, carros, segurança. Tudo como antes.”
Ordenou ele a alguém na linha.
“Tudo como antes.” O gosto dessa frase me fez arder os olhos.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 40
Comments
Flor De Liz Soares Souza
Vc tá reclamando de barriga cheia,porque vc não tá perdendo nada disso.Vai poder continuar com essa sua vidinha de dondoca.É a primeira história de mafioso que estou lendo que a mocinha levava uma vida esbanjando dinheiro,porque nas outras a filha era rica mas não gastava um centavo dos pais e ainda era humilhada pela família.
2025-11-09
0
Marli Santos
👏👏👏👏 nossa que tá muito boa a história parabéns autora
2025-11-04
2
Flor De Liz Soares Souza
É minha fia pra bancar seus luxos só assim,se casando com um homem rico.
2025-11-09
0