Elena Duarte...
A noite anterior à entrevista eu quase não dormi.
Revisei mentalmente cada palavra que disse a ele, senhor Dante Moreau.
O nome ainda soava pesado na minha cabeça, como se carregasse algo de intocável.
Ele era... intenso.
O tipo de homem que te olha por dentro, e mesmo sem dizer nada, parece descobrir o que você tenta esconder.
Quando saí da mansão, as mãos ainda tremiam.
Senti o ar frio de Madrid como uma lufada de liberdade e medo ao mesmo tempo.
Será que ele gostou de mim? Será que falei demais?
Mas não havia tempo para dúvidas. Eu precisava daquele emprego.
Na manhã seguinte, acordei antes do sol.
Preparei o café dos meus pais, deixei o almoço pronto e me olhei no espelho uma última vez.
O uniforme era simples: calça escura, camisa branca e cabelo preso num coque baixo.
Nada de maquiagens, nada de adornos. Apenas eu e a vontade de começar bem.
O caminho até a mansão foi silencioso.
As ruas ainda dormiam, e o céu começava a clarear com aquele tom alaranjado que sempre me acalmava.
Mas quando vi os portões altos da Mansão Moreau, o coração acelerou.
Aquele lugar era outro mundo.
Os muros cobertos de heras, o jardim impecável, as janelas amplas que refletiam o sol nascente.
Tudo ali exalava poder e silêncio.
A Dona Esmeralda abriu a porta com um sorriso caloroso.
Bom dia, menina Elena! Entres, querida. O senhor Moreau já saiu, então vamos começar com calma.
A voz dela era doce, maternal. Fez-me relaxar.
Segui-a pela casa, tentando memorizar cada corredor, cada divisão.
Ela falava enquanto caminhava:
Aqui é a cozinha principal, o coração da casa. A empregada-chefe já vem duas vezes por semana, então só mantenha a limpeza básica. Este é o corredor do andar superior. O quarto do senhor Moreau é o último à esquerda, e o do menino Theo, logo ao lado.
O nome dele, Theo, soou bonito.
Sempre gostei de crianças. Há algo nelas que faz o mundo parecer menos duro.
Esmeralda mostrou-me o resto da casa e depois entregou-me um pano e uma lista de tarefas.
Comece pelo andar de cima. Eu estarei no jardim com o pequeno.
Assenti e comecei a trabalhar.
A mansão era silenciosa demais.
A cada passo, o som do balde e do pano ecoava pelo corredor como se me lembrasse de que eu não pertencia àquele lugar.
Mas o cheiro de cera, o brilho do chão limpo e o sol entrando pelas cortinas me davam uma sensação de paz.
Quando cheguei à porta do quarto infantil, hesitei.
O papel de parede azul-claro, o móbile de estrelas, o berço branco tudo parecia saído de um sonho.
Empurrei a porta com cuidado, pronta para apenas limpar e sair.
Mas então ouvi um som baixinho.
Um murmúrio, depois um riso contido.
O bebê estava acordado.
Theo estava de pé no berço, segurando as grades com as mãozinhas e olhando para mim com curiosidade.
Tinha os olhos mais lindos que já vi, um azul-claro, profundo, curioso, inocente.
Sorri sem pensar.
Ora, quem é esse príncipe acordado tão cedo?
Ele inclinou a cabeça e riu, aquele riso gostoso e puro que faz o coração esquecer de tudo o resto.
Aproximei-me devagar, falando num tom suave, como se estivéssemos sozinhos num mundo só nosso.
Dormiu bem, pequenino? "perguntei, inclinando-me para o ver melhor". Está com fome, não é? Ou só quer brincar um bocadinho?
Ele balbuciou algo indecifrável e bateu palminhas.
O cheiro suave de bebê misturado com o perfume de talco preencheu o ar, e foi então que notei a fralda pesada.
Sem pensar duas vezes, fui até à cômoda, encontrei tudo o que precisava e voltei para o berço.
Pronto, vamos resolver isso, tá bem? Senão o príncipe fica desconfortável.
Peguei-o com cuidado ele era leve, quente, e agarrou o meu colar como se já me conhecesse.
Enquanto trocava a fralda, comecei a cantar baixinho uma melodia antiga que a minha mãe usava quando eu era pequena.
Theo gargalhava, encantado, e eu ria junto.
Ah, então o senhor gosta de música, hein? brinquei, limpando-o. Vamos fazer um trato: eu troco a fralda, e você me ensina esse sorriso mágico. Combinado?
Ele respondeu com outra gargalhada.
Aquele momento simples encheu-me o peito de ternura.
Era como se o mundo tivesse parado só para nós.
Esqueci-me de que estava a trabalhar, esqueci-me das regras, do medo, da hierarquia.
Apenas senti, a pureza de cuidar de alguém que confia em ti sem reservas.
Quando terminei, vesti-o e peguei-o ao colo.
Agora sim, limpinho e cheiroso. Um verdadeiro cavalheiro.
Theo encostou a cabecinha no meu ombro, e o coração derreteu-se completamente.
Saí do quarto devagar, com ele ainda no colo, procurando a Dona Esmeralda.
Ela estava na cozinha, lavando frutas. Dona Esmeralda chamei suavemente. O pequeno estava acordado, e a fralda já estava suja. Troquei-a, e acho que ele pode estar com fome.
A mulher levantou os olhos, surpresa.
Você… trocou ele?
Sim, senhora. Espero que não tenha problema.
Por um momento, pensei que ela fosse repreender-me, mas um sorriso iluminou o rosto dela.
Nenhum problema, minha filha. Pelo contrário… fazia tempo que não via ele rir assim.
Olhei para Theo, que me encarava com os olhos brilhando de curiosidade.
Ele é adorável murmurei.
Entreguei-o a ela com um aperto no peito, como se me despedisse de algo que não queria largar.
Depois voltei aos meus afazeres.
Mas, ao passar pelo corredor, senti uma estranha sensação como se estivesse a ser observada.
Não sabia que, do outro lado das câmeras, o senhor Dante Moreau via tudo.
O resto do dia passou rápido.
Entre os panos, o cheiro de limpeza e o barulho distante do jardim, senti uma leveza que há muito não sentia.
Trabalhar ali não parecia apenas um emprego era como se o destino me colocasse num lugar onde algo começava a florescer, silenciosamente.
Quando o relógio marcou cinco da tarde, arrumei as minhas coisas e saí.
Peguei o autocarro para a faculdade, ainda com o som das risadas do Theo ecoando na memória.
Durante a aula, a mente insistia em voltar àquele momento no berço, à inocência, à ternura, à paz.
E pela primeira vez em muito tempo, adormeci à noite com um sorriso no rosto.
Não porque o dia tivesse sido fácil, mas porque, de alguma forma, eu sentia que estava exatamente onde devia estar.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 62
Comments
Marina lopes
que lindo ,a criança já sentiu que vai ser amada boadrasta
2025-10-29
1