Dante...
Há dias em que o silêncio da minha casa é tão alto que chega a doer.
A mansão é grande demais, fria demais, e cada passo ecoa como um lembrete de que aqui só restam eu, o meu filho e as sombras do passado que insistem em ficar.
Trocar de babás tornou-se uma rotina desgastante, um ciclo que repete a mesma decepção com rostos diferentes. Elas chegam com promessas de dedicação, de cuidado, mas bastam poucos dias para mostrarem o que realmente procuram conforto, status, uma forma de se aproximar de mim.
Não passam de turistas em um palácio que não lhes pertence.
Lembro-me de uma em particular, Lucía, jovem, bonita, olhar cheio de intenções disfarçadas. Passava as tardes sentada à beira da piscina, com o celular na mão, tirando fotos como se o cenário fosse dela. Theo, por vezes, ficava brincando sozinho com os brinquedos espalhados pelo jardim, enquanto ela postava sorrisos falsos nas redes sociais.
E quando eu chegava em casa, o teatro começava.
De repente, tornava-se a mulher perfeita: braços abertos, voz suave, e aquele sorriso ensaiado de quem tenta encantar.
Chamava o meu filho de “meu amorzinho” e olhava para mim como se eu fosse o próximo troféu a conquistar.
Despedida.
Foi o que aconteceu na manhã seguinte.
Desde então, perdi a paciência com aparências. Eu não quero mulheres que confundem responsabilidade com oportunidade.
Não quero ninguém que entre aqui a fingir que entende o que é ser mãe, ou que veja no meu nome um passaporte para uma vida confortável.
Theo não precisa disso.
Eu também não.
Mas a verdade é que não consigo estar em todos os lugares ao mesmo tempo.
Sou o chefe de uma empresa que exige tudo de mim, e ainda assim sou pai de uma criança que exige mais, não com palavras, mas com o olhar inocente de quem sente falta de algo que eu não posso dar.
Carinho. Tempo. Doçura.
E é por isso que Dona Esmeralda continua ao nosso lado.
Ela foi a mulher que me criou, a que me ensinou o que é amor, mesmo quando eu não queria ouvir.
Hoje, o tempo já pesa sobre ela. Os cabelos, antes negros, estão prateados; as mãos tremem um pouco, e ainda assim, ela insiste em cuidar de Theo como se fosse seu próprio neto.
O menino precisa de companhia, Dante disse-me ela há alguns dias, com a voz suave, porém firme. Eu já não tenho o mesmo fôlego de antes.
Ela tem razão.
Mas contratar outra babá tornou-se quase um pesadelo.
Hoje, pela manhã, pedi à agência que enviasse uma nova candidata.
Sem pressa "avisei". Quero alguém discreta, responsável e... diferente.
A secretária hesitou antes de responder:
Diferente em que sentido, senhor Moreau?
“Diferente de todas as outras”, pensei.
Mas não disse isso. Apenas assenti e encerrei a conversa.
Agora, enquanto olho pela janela do meu escritório, observo o jardim onde Theo brinca com Esmeralda. Ele ri alto, correndo atrás de uma bola que quase é maior do que ele. Aquele som é o único que realmente dá vida a esta casa.
Ele precisa de mais do que eu posso oferecer "murmuro para mim mesmo".
Às vezes, penso que falhei. Não como empresário, mas como homem.
A mãe dele foi um erro que eu jurei não repetir. Linda, encantadora, mas vazia por dentro.
Ela me deixou com uma ferida e um filho nos braços.
Desde então, fechei as portas. Todas.
Mais tarde, durante o jantar, Esmeralda insistiu no assunto. Ouvi dizer que uma jovem nova vai vir trabalhar cá.
Ainda não decidi "respondi". Primeiro quero conhecê-la.
Conhecê-la? "ela arqueou a sobrancelha, sorrindo com malícia". Ou testá-la, como sempre fazes?
Dei um meio sorriso.
Testar é uma palavra justa.
Ela abanou a cabeça.
Um dia ainda vais encontrar alguém que te faça esquecer essa mania de controlar tudo.
Não é mania, Esmeralda. É autopreservação.
Ela suspirou, servindo mais sopa para Theo.
Às vezes, proteger demais é uma forma de te afastar daquilo que mais precisas, Dante.
Olhei para o meu filho, sentado na cadeira alta, rindo com a colher na mão, e senti algo apertar-me o peito.
Talvez ela tivesse razão.
Depois que o pequeno dormiu, subi ao meu escritório.
O relógio marcava quase meia-noite, e ainda havia pilhas de documentos por ler, contratos para revisar, e e-mails que exigiam respostas.
Mas nada disso me distraiu do vazio que pairava no ar.
A casa parecia respirar sozinha.
O silêncio era denso, quase físico.
Peguei num copo de whisky e sentei-me no sofá, deixando o olhar perder-se nas chamas da lareira.
Quantas mulheres haviam passado por aqui? Dez? Talvez mais.
Todas diferentes, e todas iguais.
Algumas tentaram usar o filho como ponte, outras o charme, o perfume caro, os risos forçados.
E eu vi tudo, cada gesto, cada olhar, e deixei-as ir.
Não quero mais fingimentos.
Não quero mulheres que confundem cuidado com conquista.
Talvez eu esteja a pedir demais alguém simples, discreta, que apenas cumpra o trabalho e trate o meu filho com o carinho que ele merece.
Mas se existe alguém assim, ainda não a encontrei.
Dona Esmeralda...
Vi Dante crescer, e vi também a muralha que ele ergueu em volta de si.
Por fora, parece aço.
Por dentro, é apenas um homem cansado, a lutar contra os próprios fantasmas.
Quando ele fala da mãe do menino, o olhar muda. Endurece, como se o passado ainda o queimasse.
Mas o que ele não percebe é que o pequeno Theo sente essa ausência. A criança sente sempre, mesmo que o adulto finja que está tudo bem.
Eu já não tenho forças como antes, e por isso rezo todas as noites para que Deus traga alguém de coração limpo para esta casa.
Alguém que devolva um pouco de luz àquele menino… e talvez também ao pai.
Talvez essa nova rapariga, quem quer que seja, seja essa resposta.
Dante...
Fecho os olhos por um momento, e ouço o eco distante das gargalhadas do meu filho no andar de cima.
Ele dorme tranquilo, protegido.
Mas eu sei… um homem não protege apenas com muros, mas com a verdade que constrói à volta dos que ama.
O problema é que eu já não sei o que é amor, nem como ele começa.
Talvez venha disfarçado.
Talvez já esteja a caminho.
A agência ligou há pouco. Disseram que encontraram alguém.
Uma jovem, estudante, trabalhadora, perfil exemplar.
Aceitei a entrevista.
Mas desta vez, não direi que é para cuidar do meu filho.
Quero vê-la primeiro, observar. Quero saber se é autêntica antes de colocá-la perto daquilo que mais prezo neste mundo.
Não confio facilmente e, sinceramente, já nem sei se quero confiar.
Mas algo dentro de mim, uma voz quase esquecida, sussurra que talvez…
Desta vez…
Seja diferente.
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Atualizado até capítulo 62
Comments
Marina lopes
eles são lindos ,a moça é lindíssima
2025-10-29
1
Rosimar Ferreira Diniz Diniz
Vai se apaixonar 😍
2025-10-28
2