Capítulo 3: A Entrevista...

Dante Moreau...

Não sei o que me fez aceitar essa entrevista pessoalmente.

Normalmente, deixo que a agência resolva tudo: eles enviam os currículos, fazem as seleções, filtram as candidatas. Eu apenas aprovo ou recuso.

Mas desta vez… não sei explicar. Algo no tom da voz da secretária quando descreveu a nova candidata “jovem, estudante, esforçada” despertou uma curiosidade que eu não queria admitir.

Passei a manhã no escritório, revisando relatórios, mas o pensamento insistia em voltar à entrevista.

Talvez fosse apenas o cansaço, ou o hábito de esperar o pior.

Mulheres simples, humildes, muitas vinham com o mesmo discurso: “preciso do trabalho, senhor Moreau”, e logo depois, vinham as fotos na piscina, o perfume exagerado, o olhar insinuante.

Não queria mais isso.

Não queria mais ninguém a fingir.

A campainha tocou exatamente às dez horas.

Pontual.

Levantei-me, ajeitando o casaco do terno, e desci as escadas em silêncio. O som dos meus passos ecoava no mármore do corredor.

Esmeralda já estava na entrada, recebendo a visitante.

Senhor Moreau, esta é Elena Duarte, disse ela, com aquele tom maternal que usava quando queria que eu fosse “mais humano”.

A jovem virou-se para mim, e por um instante, o tempo pareceu abrandar.

Ela era diferente.

Não no sentido banal da palavra, não tinha o charme ensaiado, nem o brilho artificial que eu via em tantas outras.

Tinha algo genuíno. Os olhos castanhos esverdeados, grandes e curiosos, refletiam nervosismo e, ao mesmo tempo, determinação.

Os cabelos castanhos caíam sobre os ombros num desleixo bonito, e as mãos, mesmo trémulas, mantinham-se firmes sobre a bolsa.

Bom dia, senhor Moreau. "disse ela, com a voz suave, mas segura". É um prazer conhecê-lo.

Havia uma melodia na forma como pronunciou o meu nome.

Olhei-a por alguns segundos sem responder. Era um hábito, observar antes de falar. A maioria das pessoas revelava muito mais no silêncio do que nas palavras.

Sente-se, senhorita Duarte. Apontei para o sofá da sala.

Ela obedeceu, pousando a bolsa no colo. Mantinha a postura ereta, o olhar atento, e o leve rubor nas faces denunciava o nervosismo.

Sentei-me à frente dela, cruzando as pernas, estudando-a com o mesmo cuidado que eu analisaria um contrato.

Mas, por alguma razão, era diferente.

Não se tratava de um documento, e sim de uma presença que me desarmava aos poucos, sem que eu percebesse como.

A agência informou que tem experiência em trabalhos domésticos.

Sim, senhor. Trabalhei em cafés, restaurantes e algumas casas particulares. "respondeu, mantendo o olhar firme". Nunca tive problemas com os patrões. Gosto de trabalhar, de manter as coisas organizadas.

E por que quer este emprego?

Ela respirou fundo. Porque preciso. Estou a estudar medicina, e a bolsa cobre apenas parte das despesas. Quero ajudar os meus pais e continuar a estudar sem lhes pesar.

A sinceridade dela caiu sobre mim como um golpe suave.

Nenhuma dramatização, nenhuma tentativa de me comover. Apenas verdade.

Medicina. "Repito devagar, tentando esconder o interesse". É um curso exigente.

É o meu sonho "disse, com um pequeno sorriso". Sei que é difícil, mas nada na minha vida foi fácil, senhor Moreau. E não pretendo desistir agora.

As palavras dela tocaram algo em mim, uma lembrança talvez, de quando eu também acreditava que esforço era suficiente para vencer o mundo.

Mas o mundo é cruel. E bonito demais, às vezes, para ser justo.

Cruzei as mãos sobre o joelho, observando-a.

A mansão é grande. O trabalho exige discrição, pontualidade e disciplina.

Entendo.

E exige também respeito pelos limites. O tom da minha voz saiu mais frio do que eu pretendia. Não tolero curiosidade, nem intimidade desnecessária.

Ela pareceu surpreender-se, mas não recuou. Está claro, senhor Moreau. Eu sei o meu lugar.

Houve um instante de silêncio.

E nesse instante, vi a forma como ela respirava fundo antes de responder, o olhar sereno que não desafiava, mas também não se submetia.

Era... raro.

Está disposta a começar de imediato? perguntei, quebrando o silêncio.

Sim, senhor.

O trabalho inicial será simples: manutenção e organização das áreas principais. Quero ver como se adapta, como se comporta.

Ela assentiu, sem fazer perguntas.

Não sabia e eu não pretendia dizer, que era apenas uma fase de teste, antes de decidir se poderia confiar nela para cuidar de Theo.

Levantei-me. Ela imitou o gesto, um pouco tensa. Pode apresentar-se amanhã às oito. Fale com Dona Esmeralda, ela mostrará o que precisa de fazer.

Obrigada, senhor Moreau. O sorriso que me deu foi breve, discreto, mas por alguma razão, ficou preso em mim.

Acompanhei-a até à porta.

Quando ela passou por mim, senti um perfume leve, algo entre flores e sabão simples, mas genuíno. Nada de notas caras ou exageradas.

Era o tipo de aroma que lembrava coisas que eu tinha esquecido sentir.

Ela despediu-se com um “até amanhã”, e eu apenas assenti.

Fechei a porta, mas fiquei por alguns segundos parado ali, em silêncio, olhando o chão de mármore.

Algo em mim estava diferente.

 Mais tarde, Esmeralda entrou na sala, com aquele sorriso que sempre significava “eu sei o que estás a pensar”.

Então?

Está contratada "respondi", seco.

Achaste-a competente?

Achei-a... "hesitei". Diferente.

Esmeralda riu baixinho.

“Diferente”, o teu elogio preferido.

Não respondi.

Caminhei até a janela e olhei para o jardim. O vento agitava as folhas, e o som suave fazia a casa parecer menos vazia.

Por que aquela jovem me deixara inquieto?

Não era beleza já tinha visto o suficiente para não me impressionar com isso.

Era algo mais. Uma calma, uma leveza que contrastava com o peso constante da minha vida.

Era como se ela não precisasse provar nada.

E talvez fosse exatamente isso o que me desconcertava.

Porque, pela primeira vez em muito tempo, senti vontade de acreditar em alguém.

 

Quando subi para ver Theo, ele dormia com o urso de pelúcia nos braços. Sentei-me na beira da cama e fiquei a observá-lo por alguns minutos.

Talvez esta seja a certa, meu pequeno murmurei. Ou talvez eu esteja apenas a enganar-me outra vez.

Apaguei a luz e saí do quarto, mas a imagem de Elena Duarte, o olhar calmo, a voz firme, o perfume leve não me abandonou.

E, sem perceber, dei por mim a esperar pelo amanhã.

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Comments

Silvanete Melo

Silvanete Melo

pronto já está amarado e não se deu conta 🤣🤣🤣❤️

2025-10-29

2

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Capítulos
1 Capítulo 1: Dois Mundos...
2 Capítulo 2: Entre o Silêncio e a Desconfia...
3 Capítulo 3: A Entrevista...
4 Capítulo 4: O Primeiro dia...
5 Capítulo 5: Pelas Lentes do Silêncio...
6 Capítulo 6: Pequenas Luzes no Silêncio...
7 Capítulo 7: Ecos de Luz...
8 Capítulo 8:O olhar que prende...
9 Capítulo 9: O despertar...
10 Capítulo 10: Entre olhares e silêncios...
11 Capítulo 11: O limite do Silêncio...
12 Capítulo 12: Os olhos que calam...
13 Capítulo 13: Entre o Dever e o Desejo...
14 Capítulo 14: O peso da escolha...
15 Capítulo 15: A resposta...
16 Capítulo 16: Sob o mesmo teto...
17 Capítulo 17: As sombras do passado...
18 Capítulo 18: O despertar de algo novo...
19 Capítulo 19: O silêncio que fala...
20 Capítulo 20: Um domingo inesperado...
21 Capítulo 21: A casa da Elena...
22 Capítulo 22: Perdido nos meus pensamentos...
23 Capítulo 23: O dia Seguinte...
24 Capítulo 24: O que eu não queria sentir...
25 Capítulo 25: O que os olhos dele não disseram...
26 Capítulo 26: O que não consigo mais negar...
27 Capítulo 27: Mais um domingo com o Theo...
28 Capítulo 28: O primeiro beijo...
29 Capítulo 29: Pensamentos depois do beijo...
30 Capítulo 30: Dia seguinte...
31 Capítulo 31: O jeito dela é fascinante...
32 Capítulo 32: O nome que o coração escolheu...
33 Capítulo 33: O nome que me feriu e me curou...
34 Capítulo: A Rendição Silênciosa...
35 Capítulo 35: O olhar que queima...
36 Capítulo 36: Um fim de semana quase nosso...
37 Capítulo 37: O silêncio da noite...
38 Capítulo 38: O convite inesperado...
39 Capítulo 39: Os primeiros passos na Suíça...
40 Capítulo 40: Montanhas e segredos do Coração...
41 Capítulo 41: Jantar de Revelações...
42 Capítulo 42: Chama da Paixão...
43 Capítulo 43: Manhã de Ternura...
44 Capítulo 44: Último dia na Suíça...
45 Capítulo 45: O almoço de Domingo...
46 Capítulo 46: Dia de shopping...
47 Capítulo 47: O preço do Silêncio...
48 Capítulo 48: A verdade que me tocou...
49 Capítulo 49: O pedido de casamento...
50 Capítulo 50: Antes do sim...
51 Capítulo 51: À tua espera...
52 Capítulo 52: O peso dos olhares...
53 Capítulo 53: Para sempre, Meu amor...
54 Capítulo 54: Lua de mel: Sob o céu de Dubai...
55 Capítulo 55: Um lar chamado nós...
56 Capítulo 56: Manhãs de nós...
57 Capítulo 57: O dia em que o Sonho Ganhou Farda...
58 Capítulo 58: Começos e confidencias...
59 Capítulo 59: Entre a Razão e o Coração...
60 Capítulo 60: Um milagre, e Risos sob o sol de Dubai...
61 Capítulo 61: Sob o Luar do Deserto...
62 Capítulo 62: O amor que cura... Capítulo final...
Capítulos

Atualizado até capítulo 62

1
Capítulo 1: Dois Mundos...
2
Capítulo 2: Entre o Silêncio e a Desconfia...
3
Capítulo 3: A Entrevista...
4
Capítulo 4: O Primeiro dia...
5
Capítulo 5: Pelas Lentes do Silêncio...
6
Capítulo 6: Pequenas Luzes no Silêncio...
7
Capítulo 7: Ecos de Luz...
8
Capítulo 8:O olhar que prende...
9
Capítulo 9: O despertar...
10
Capítulo 10: Entre olhares e silêncios...
11
Capítulo 11: O limite do Silêncio...
12
Capítulo 12: Os olhos que calam...
13
Capítulo 13: Entre o Dever e o Desejo...
14
Capítulo 14: O peso da escolha...
15
Capítulo 15: A resposta...
16
Capítulo 16: Sob o mesmo teto...
17
Capítulo 17: As sombras do passado...
18
Capítulo 18: O despertar de algo novo...
19
Capítulo 19: O silêncio que fala...
20
Capítulo 20: Um domingo inesperado...
21
Capítulo 21: A casa da Elena...
22
Capítulo 22: Perdido nos meus pensamentos...
23
Capítulo 23: O dia Seguinte...
24
Capítulo 24: O que eu não queria sentir...
25
Capítulo 25: O que os olhos dele não disseram...
26
Capítulo 26: O que não consigo mais negar...
27
Capítulo 27: Mais um domingo com o Theo...
28
Capítulo 28: O primeiro beijo...
29
Capítulo 29: Pensamentos depois do beijo...
30
Capítulo 30: Dia seguinte...
31
Capítulo 31: O jeito dela é fascinante...
32
Capítulo 32: O nome que o coração escolheu...
33
Capítulo 33: O nome que me feriu e me curou...
34
Capítulo: A Rendição Silênciosa...
35
Capítulo 35: O olhar que queima...
36
Capítulo 36: Um fim de semana quase nosso...
37
Capítulo 37: O silêncio da noite...
38
Capítulo 38: O convite inesperado...
39
Capítulo 39: Os primeiros passos na Suíça...
40
Capítulo 40: Montanhas e segredos do Coração...
41
Capítulo 41: Jantar de Revelações...
42
Capítulo 42: Chama da Paixão...
43
Capítulo 43: Manhã de Ternura...
44
Capítulo 44: Último dia na Suíça...
45
Capítulo 45: O almoço de Domingo...
46
Capítulo 46: Dia de shopping...
47
Capítulo 47: O preço do Silêncio...
48
Capítulo 48: A verdade que me tocou...
49
Capítulo 49: O pedido de casamento...
50
Capítulo 50: Antes do sim...
51
Capítulo 51: À tua espera...
52
Capítulo 52: O peso dos olhares...
53
Capítulo 53: Para sempre, Meu amor...
54
Capítulo 54: Lua de mel: Sob o céu de Dubai...
55
Capítulo 55: Um lar chamado nós...
56
Capítulo 56: Manhãs de nós...
57
Capítulo 57: O dia em que o Sonho Ganhou Farda...
58
Capítulo 58: Começos e confidencias...
59
Capítulo 59: Entre a Razão e o Coração...
60
Capítulo 60: Um milagre, e Risos sob o sol de Dubai...
61
Capítulo 61: Sob o Luar do Deserto...
62
Capítulo 62: O amor que cura... Capítulo final...

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