Boa Sorte

...ALGUNS DIAS DEPOIS...

O sol da manhã entrava pelas janelas, banhando a casa em tons dourados. O ar estava leve, e Luísa, no quarto, terminava de se arrumar. Vestia um conjunto elegante — blazer bege, blusa branca e calça social clara. O cabelo solto caía em ondas suaves, e o perfume leve se espalhava pelo ar.

Ela respirou fundo diante do espelho. Hoje era o dia. A entrevista na Ashford Couture.

Luísa pegou a bolsa e o portfólio com seus desenhos mais recentes, e desceu as escadas com passos firmes, ainda que o coração batesse acelerado.

Ao chegar ao andar de baixo, encontrou Liam na sala, ajustando o relógio e recolhendo alguns papéis sobre a mesa. Ele levantou o olhar e sorriu assim que a viu.

LIAM: Você está linda, Luísa.

LUÍSA: Obrigada. Estou indo para a entrevista na sua empresa.

LIAM: Eu imaginei.

Ele apoiou as mãos nos bolsos e a observou com um ar de admiração discreta.

LIAM: Eu só não posso te dar uma carona hoje… tenho algumas reuniões no centro e preciso sair direto pra lá.

LUÍSA: Ah, tudo bem. Eu vou de táxi mesmo.

Ela fez uma pausa e o olha com curiosidade.

LUÍSA: Mas… não é você quem vai me entrevistar?

Liam deu uma risadinha leve e balançou a cabeça.

LIAM: Não. Quem vai te entrevistar é a Bárbara, ela trabalha comigo, cuida da parte de seleção e dos novos projetos.

LUÍSA: Entendi…

LIAM: Mas, tudo vai dá certo Luísa, acredite em você.

Luísa sorriu, sentindo o coração acelerar sem saber exatamente o motivo.

LUÍSA: Tomara.

LIAM: Vai dar certo, Luísa. Você tem talento.

Ela desviou o olhar, corando levemente.

LUÍSA: Obrigada, Liam. Isso significa muito pra mim.

LIAM: Boa sorte, então.

LUÍSA: Obrigada.

LIAM: Vai lá e mostra quem você é.

Luísa assentiu, abriu a porta e antes de sair olhou para ele uma última vez.

LUÍSA: Até mais, Liam.

LIAM: Até mais.

Luísa da mansão e vai em direção à rua pegar o táxi.

...ALGUNS MINUTOS DEPOIS...

O táxi parou em frente ao prédio moderno da Ashford Couture. As amplas paredes de vidro refletiam o céu azul da manhã, e o logotipo prateado da empresa brilhava sobre a entrada principal.

Luísa respirou fundo, segurando firme sua bolsa e o portfólio. O coração batia acelerado, mas ela tentou se concentrar.

Entrou no saguão elegante, decorado com arranjos de flores brancas e móveis de design contemporâneo. A recepcionista, sorridente, a recebeu.

RECEPCIONISTA: Bom dia! Em que posso ajudar?

LUÍSA: Bom dia. Eu sou Luísa Dawson, tenho uma entrevista com a senhora Bárbara.

RECEPCIONISTA: Ah, sim! A senhorita Lancaster já está te esperando. Pode subir, por favor, é no quinto andar, sala 502.

LUÍSA: Obrigada.

Ela entrou no elevador, ajeitando o blazer e respirando fundo mais uma vez.

Quando as portas se abriram, Luísa caminhou até a sala indicada. A porta estava entreaberta, e uma voz feminina firme, porém acolhedora, a chamou:

BÁRBARA: Pode entrar.

Luísa deu dois passos à frente.

A mulher à sua frente era elegante, com postura impecável, morena, com cabelos soltos cacheados. Usava um terno cinza claro e um sorriso profissional, mas simpático.

BÁRBARA LANCASTER 41 ANOS

BÁRBARA: Você deve ser a Luísa Dawson.

LUÍSA: Sim, sou eu. É um prazer conhecê-la, senhora Lancaster.

BÁRBARA: O prazer é meu. Pode me chamar de Bárbara. Sente-se, por favor.

Luísa se acomodou na poltrona à frente da mesa.

BÁRBARA: Então… eu vi parte do seu portfólio. Você tem um olhar artístico muito interessante. Trabalhos autorais, delicados, cheios de personalidade.

LUÍSA: Obrigada. O desenho sempre foi a forma como eu me expresso, acho que coloco um pouco de mim em cada traço.

BÁRBARA: E é isso que diferencia um artista de um profissional comum.

Ela folheou algumas páginas do portfólio com atenção.

BÁRBARA: Aqui diz que você tem experiência com design têxtil e ilustração, certo?

LUÍSA: Sim. Trabalhei com pequenas coleções independentes e projetos de estamparia. Tenho muito interesse em criar algo com significado, peças que contem histórias.

BÁRBARA: Gosto de ouvir isso. Na Ashford Couture, buscamos exatamente isso originalidade com propósito.

Luísa se animou um pouco, o nervosismo dando lugar à empolgação.

BÁRBARA: Acredito que o Liam vai gostar muito de conhecer seu trabalho. Ele sempre valoriza quem cria com o coração.

Luísa sorriu, surpresa com a menção ao nome dele.

LUÍSA: O senhor… quer dizer, o Liam, comentou algo sobre mim?

BÁRBARA: Só disse que você tinha talento e merecia uma chance. E, pelo que estou vendo, ele não estava errado.

Luísa corou, mas manteve o sorriso profissional.

BÁRBARA: Vamos fazer o seguinte, eu quero que você me mostre um pouco do seu processo criativo. Fale sobre uma das suas peças favoritas e o que ela representa.

Luísa abriu o portfólio, mostrando um desenho em aquarela de uma mulher envolta em flores azuis.

LUÍSA: Essa aqui se chama Renascimento. Fiz num momento em que senti que precisava começar do zero… como se a dor se transformasse em cor.

Bárbara a observou por alguns segundos, com um olhar de aprovação genuína.

BÁRBARA: Isso está incrível.

Ela fechou o portfólio com um leve sorriso.

BÁRBARA: Eu vou conversar com o Liam melhor sobre você.

O coração de Luísa deu um pequeno salto.

LUÍSA: Certo.

BÁRBARA: Pode esperar nosso contato em breve. E… parabéns. É raro ver alguém chegar com tanta sensibilidade.

Luísa se levantou, agradecida.

LUÍSA: Muito obrigada, Bárbara. Foi uma honra.

BÁRBARA: O prazer foi meu. E… seja qual for o resultado, continue criando assim.

Luísa sorriu, com os olhos brilhando.

Ao sair da sala, sentiu o peito leve e pela primeira vez em muito tempo, sentia que estava exatamente onde deveria estar.

MANSÃO ASHFORD

Era tarde da noite na mansão Ashford.

O silêncio dominava os corredores, quebrado apenas pelo som distante do vento batendo nas janelas.

Luísa acordou com a garganta seca. Olhou para o relógio na mesinha de cabeceira, 1h17 da manhã. Suspirou, sonolenta, e levantou-se.

Ela vestia uma camisola de seda clara, e o tecido suave acompanhava seus passos lentos pelo corredor pouco iluminado. Desceu as escadas em silêncio, tentando não fazer barulho.

Na cozinha Luísa abriu a geladeira, pegou um copo e encheu de água, bebendo devagar. Fechou a geladeira e se virou para sair… mas acabou esbarrando em alguém.

O susto foi imediato.

LUÍSA: Ai!

VOZ MASCULINA: Calma… sou eu.

Ela levantou o olhar e encontrou Liam Ashford, de pé diante dela, usando apenas uma calça de moletom e uma camiseta escura. O cabelo estava um pouco bagunçado, e o olhar dele tinha aquele misto de cansaço e surpresa.

LUÍSA: Desculpa… eu não te vi.

LIAM: Tudo bem. Eu também não esperava encontrar ninguém na cozinha a essa hora.

Por um segundo, os dois ficaram em silêncio, apenas se encarando sob a luz fraca que vinha da janela.

LUÍSA: Eu… só vim pegar um copo d’água.

LIAM: Eu percebi.

Ele sorri, apoiando-se no balcão.

LIAM: Não conseguiu dormir?

LUÍSA: Acordei com sede. E você?

LIAM: Trabalho. Acabei me perdendo nas planilhas e nos e-mails… quando vi, já era madrugada.

LUÍSA: Eu imaginei. Não te vi desde que cheguei da entrevista.

LIAM: Pois é… Como foi?

LUÍSA: Acho que bem. Bárbara ficou muito impressionada.

LIAM: Eu sabia que você ia se sair bem.

Os olhos dela encontraram os dele, havia um brilho diferente ali, algo que nem os dois conseguiam explicar direito.

LUÍSA: Obrigada… por acreditar em mim, Liam.

LIAM: Eu não apenas acredito… eu vejo o quanto você merece.

O silêncio voltou, denso e suave ao mesmo tempo. Ela desviou o olhar, levemente corada, e colocou o copo na pia.

LUÍSA: Acho que vou tentar dormir de novo. Boa noite, Liam.

LIAM: Boa noite, Luísa.

Ela passou por ele devagar, sentindo o cheiro do perfume dele. Quando subiu as escadas, o coração batia um pouco mais rápido do que antes.

Liam ficou ali, encostado no balcão, observando a porta por onde ela havia saído, com um olhar que dizia tudo o que as palavras ainda não ousavam dizer.

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