A casa da minha tia era silenciosa e vazia, como sempre. Ela trabalhava no turno da noite no hospital, e a solidão costumava ser uma companheira pesada. Mas agora, depois do que aconteceu na floresta, o silêncio era diferente. Era expectante.
A palavra de Edward – "Escolha" – ecoava na minha mente, um sussurro persistente que se entrelaçava com a memória do beijo quente de Jacob na minha testa. Dois mundos, duas lealdades, puxando-me em direções opostas.
Tentei me concentrar nos deveres de casa, nas coisas normais, mas o cheiro do sangue do veado ainda parecia impregnado nas minhas narinas, um fantasma de metal e morte. E com ele, vinha uma nova sensação. Uma fome sutil, não por comida, mas por... algo mais. Algo que o cheiro despertava.
Fechei os livros, frustrada. A inquietação era física agora, um formigar sob a minha pele. A herança. Billy estava certo. Algo dentro de mim estava despertando, e eu não tinha controle sobre isso.
Decidi tomar um banho, na esperança de que a água quente lavasse a estranheza que me consumia. Enquanto a água corria, fechei os olhos, tentando não pensar em nada.
Foi um erro.
Por trás das minhas pálpebras fechadas, imagens surgiram. Nítidas e vívidas.
Eu corria por uma floresta que não era a de Forks. As árvores eram mais escuras, retorcidas, e a lua no céu era de um vermelho sanguíneo. O cheiro de terra úmida e pinheiro era ofuscado por um odor mais profundo, ancestral: o cheiro de lobisomem e vampiro, mas intensificado, selvagem e indomável. Meu corpo não era exatamente o meu; era mais rápido, mais forte. Eu não era eu, e ao mesmo tempo era.
À minha frente, uma figura imponente com uma juba prateada rugia, suas garras cintilando sob a luz da lua vermelha. Um lobisomem alfa de uma linhagem que eu sabia, instintivamente, estar extinta.
E ao meu lado, correndo em perfeita sincronia comigo, uma figura pálida e letal, com olhos que brilhavam como estrelas sangrentas e longas presas. Um vampiro, mas não como os Cullen. Este era um guerreiro antigo, vestido com armaduras simples de couro e metal.
Éramos caçadores. E éramos um.
A visão mudou abruptamente.
Sangue. Muito sangue. Uma batalha sob a mesma lua vermelha. O lobisomem prateado caía, um grito de agonia ecoando na noite. O vampiro ao meu lado gritava de dor e fúria, seus olhos encontrando os meus por um último momento antes de uma lâmina prateada...
Eu abri os olhos de um salto, ofegante. O vapor do banheiro envolvia-me como um sudário. Meu coração martelava no peito. A água do chuveiro estava ficando fria, mas eu não a sentia.
Foram só sonhos? Ou eram memórias? Memórias do meu sangue?
A inquietação transformou-se em um impulso incontrolável. Eu precisava sair dali. Precisava de ar.
Vesti-me rapidamente, minhas mãos tremendo. A noite lá fora estava fria e clara, a lua branca e comum, um contraste gritante com a lua vermelha do meu... vislumbre.
Caminhei sem destino, puxada por uma força que não entendia. Minhas pernas me levaram para longe da cidade, para as partes mais antigas e densas da floresta, onde as árvores sussurravam segredos de eras passadas.
E então, parei.
À minha frente, erguia-se uma sequoia gigantesca, mais antiga do que qualquer coisa em Forks. Em sua casca grossa, entalhados a uma altura que nenhum humano comum alcançaria, havia símbolos. Os mesmos padrões geométricos e intrincados que eu tinha visto brilhando na minha pele na minha visão. E abaixo deles, manchas escuras e antigas que mesmo o tempo não conseguira lavar completamente. Manchas de sangue seco.
Meu sangue pareceu ferver em reconhecimento. Um calafrio percorreu minha espinha, mas não era de medo. Era de pertencimento.
Estendi a mão, minhas pontas dos dedos pairando sobre a casca áspera. O ar vibrava.
"Você sente, não é?"
A voz na minha mente não era a de Edward. Era diferente. Mais antiga, áspera como pedra, carregada de um peso de séculos. Era a voz da árvore, da terra, do próprio sangue que corria nas minhas veias.
"Você é a última. A herdeira. O elo entre dois mundos que insistem em se odiar."
Eu não respondi. Não podia. O que se podia dizer a uma voz ancestral que falava através da sua própria herança genética?
"O perigo que o vampiro dourado pressentiu é real. Eles estão acordando. Atraídos por você. Como as marés são puxadas pela lua."
A imagem do lobisomem prateado e do vampiro de olhos sangrentos da minha visão surgiu na minha mente, mais nítida do que nunca.
"Quem eram eles?" pensei, com todas as minhas forças.
A voz pareceu suspirar, um som de vento através dos galhos mais altos.
"Seus ancestrais. Os primeiros. A união que foi rompida pela traição e pela ganância. O poder que você carrega foi selado com o sangue deles. E agora... ele clama por um portador. Ele clama por você."
De repente, uma dor aguda explodiu na minha têmpora. Uma enxaqueca cegante, acompanhada por uma onda de calor tão intensa que me fez cair de joelhos. Senti meus caninos pressionando contra meu lábio inferior, afiados e desconfortáveis. Meus ossos doeram, como se quisessem se remodelar, se transformar em algo que não era totalmente humano.
Eu gritei, mas o som foi abafado pelo rugido de sangue nos meus ouvidos.
E então, como se em resposta ao meu sofrimento, dois uivos distintos rasgaram a noite ao longe.
Um era profundo, familiar, cheio de urgência e fúria protectora. Jacob.
O outro era mais distante, um som de puro alerta, um aviso gelado. Um uivo que não era de lobo, mas que carregava a mesma intensidade sobrenatural. Edward. Ele devia ter ouvido o meu grito de agonia na mente dele.
Os dois uivos se entrelaçaram no ar, um dueto de guerra e preocupação.
A voz ancestral sussurrou uma última vez, fraca agora, enquanto eu lutava para não perder a consciência.
"A escolha não é entre o lobo e o vampiro, criança. A escolha é sobre que tipo de monstro você se tornará. E o que está por vir... exigirá que você seja o pior de todos."
A última coisa que senti, antes de a escuridão me levar, foi o cheiro de terra e pinheiro, e o gosto metálico do meu próprio sangue na boca.
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Atualizado até capítulo 27
Comments
CantStopWontstop
Eu amo a história, mas preciso saber o que acontece no próximo capítulo!
2025-10-14
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