O silêncio que se seguiu ao meu suplicio era mais alto que qualquer gritaria. A chuva continuava a cair, um som suave e incongruente diante da tensão que cortava o ar como uma lâmina.
Edward foi o primeiro a se mover. Ele recuou um passo, um único e fluido movimento que o colocou fora da linha direta de Jacob. Seus olhos, ainda escuros, mas agora contidos, pousaram em mim.
— Você não devia estar aqui — sua voz ecoou dentro da minha mente, mas desta vez era mais suave, quase um lamento. — Esse sangue... é um chamariz para coisas piores do que eu.
Antes que eu pudesse processar o significado sombrio de suas palavras, Jacob deu um passo à frente, seu corpo bloqueando completamente a minha visão de Edward.
— Você ouviu ela, Cullen. Some — o rosnado de Jacob era baixo, visceral. O calor que emanava dele era quase como um forno, combatendo a friagem sobrenatural que Edward trazia consigo.
— Isso não é sobre você, Jacob — a voz de Edward, agora audível, era gelada e precisa. — Existem perigos que a sua alcateia nem sequer consegue imaginar. Perigos que o sangue dela atrai como um farol.
— E eu não vou deixar nenhum deles chegar perto dela — Jacob revirou, seus punhos se abrindo e fechando. Eu podia ver as veias pulsando em seus antebraços. A transformação estava lá, logo abaixo da superfície, uma fera ansiosa para entrar em guerra.
O meu próprio sangue parecia cantar em minhas veias, uma reação instintiva ao conflito entre as duas forças. Era assustador, mas também... eletrizante. Eu estava no olho do furacão, e parte de mim nunca se sentira tão viva.
— Por favor — repeti, minha voz mais firme agora. Coloquei a mão no braço de Jacob. Sua pele estava quente, quase queimando. Ele estremeceu com meu toque, e seu olhar furioso se suavizou por uma fração de segundo ao se voltar para mim. — Jake... está tudo bem.
— Não, não está, Lili — ele sussurrou, seu apelido para mim saindo em um sopro angustiado. — Você não vê o que ele é.
— Eu vejo — respondi, olhando por cima de seu ombro para Edward. — E vejo você também. Os dois precisam parar. Agora.
Edward me observou, sua cabeça levemente inclinada. Ele parecia estar ouvindo os sinfonios de mil pensamentos que eu nem mesmo sabia que tinha. Um lampejo de algo — curiosidade, talvez, ou surpresa — cruzou seus traços perfeitos.
"Você é diferente", sua voz sussurrou em minha mente.
O contato mental foi tão íntimo, tão invasivo, que me fez dar um passo para trás. Jacob sentiu minha reação e interpretou como medo.
— É isso, já chega — ele rosnou, avançando em direção a Edward.
— Jacob, não! — gritei, agarrando seu braço com mais força.
Foi o que bastou. Edward usou a distração. Com uma velocidade que era mais um pensamento do que um movimento, ele desapareceu. Não houve som de galhos quebrando ou folhas farfalhando. Um momento ele estava lá, e no seguinte, apenas a névoa e a chuva ocupavam o espaço onde ele estivera.
A floresta pareceu respirar aliviada.
A tensão no corpo de Jacob se esvaiu, deixando para trás um tremor de adrenalina reprimida. Ele finalmente se virou para mim, seus olhos escuros escaneando meu rosto em busca de ferimentos.
— Você está bem? Ele te tocou? Ele te assustou? — as perguntas saíram em um turbilhão, suas mãos grandes agarrando meus ombros com uma gentileza que contrastava com a fúria de momentos atrás.
— Estou bem, Jake. Estou bem — disse, e minha voz soou trêmula, traindo minha calma forçada. Suas mãos eram reconfortantes, ancorando-me na realidade. O calor delas era um antídoto para o frio sobrenatural que Edward deixara em seu rastro.
— Que diabos você estava fazendo aqui, Lili? — sua voz era áspera com preocupação. — Você não pode... você não sabe como é perigoso.
— Eu senti algo — admiti, olhando para a mancha escura no riacho onde o veado jazia. O cheiro de sangue ainda pairava no ar, mas agora era apenas morte, não tentação. — Um cheiro estranho. E então... uma sensação. Como se eu precisasse vir aqui.
O rosto de Jacob se tornou sério. — É a sua linhagem. A sua herança. Você está se tornando mais sensível. — Ele passou a mão pelo cabelo curto, frustrado. — Os Cullen podem fingir ser civilizados, mas no fundo, são todos iguais. E o seu sangue... para um vampiro, deve ser como o cheiro de um banquete.
Suas palavras ecoaram o que Edward havia dito. Um chamariz. Um farol.
— Ele disse que existem perigos piores — murmurei, lembrando da voz mental de Edward.
— E ele está certo — Jacob confirmou, seu olhar se tornando sombrio. — Mas os piores de todos não são os que andam sob a luz do sol, Lili. São os que se escondem nas trevas. E os Cullen, por mais que tentem, ainda fazem parte dessas trevas.
Ele colocou o braço em volta dos meus ombros, puxando-me contra o seu lado quente. — Vamos. Vou te levar para casa.
Caminhamos em silêncio pela floresta, o calor de Jacob afastando o frio que se instalara em meus ossos. Mas enquanto me aconchegava em seu abraço protetor, minha mente não parava de voltar para Edward. Para a luta em seus olhos, para o perigo elegante que ele personificava, para a solidão eterna que eu imaginava em seu rosto perfeito.
Eu estava entre o calor que me salvava e a geada que me fascinava. E uma voz sussurrava no fundo da minha alma, na parte que herdara o sangue antigo, que o verdadeiro perigo não era escolher um deles.
Era querer os dois.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 27
Comments