Olhares que Falam

O alarme tocou antes do amanhecer, e Camila acordou com o mesmo misto de preguiça e determinação. Já estava se acostumando com a rotina agitada da cidade — o barulho das buzinas, o cheiro de pão da padaria e o vento frio batendo no rosto quando saía com a moto.

Depois do banho e do café rápido, seguiu para o restaurante. Assim que entrou, o chefe já levantou a prancheta com um sorriso de canto.

— Bom dia, Camila! Adivinha pra onde vai a primeira entrega?

Ela bufou, antes mesmo de olhar.

— A não …

— Exatamente. Nosso cliente elegante do prédio chique. — Ele riu. — Você já sabe o caminho, né?

Camila pegou a sacola e balançou a cabeça.

— Esse homem deve ter um contrato vitalício com nosso restaurante…

Subiu na moto, ligou o GPS por costume e acelerou pelas ruas movimentadas. Chegando ao prédio, já não sentia o nervosismo dos primeiros dias — mas algo dentro dela ainda acelerava quando estava diante daquela porta.

Tocou a campainha.

Julian abriu, impecável como sempre: terno escuro, expressão séria, olhar penetrante.

Camila estendeu a entrega.

Ele pegou, mas, desta vez, não foi direto fechar a porta.

Os olhos dele se demoraram nela, mais do que o habitual.

— Qual sua idade, menina do interior? — perguntou, de forma seca e direta.

Camila piscou, surpresa.

— Hã… 22 — respondeu, ajeitando o capacete nos braços.

Ele apenas assentiu, como se estivesse guardando aquela informação. Não sorriu, não agradeceu. Apenas olhou, de um jeito que a deixou estranhamente inquieta.

Depois, assinou o recibo e fechou a porta — mas não com a mesma rapidez de antes.

Camila desceu no elevador com o coração acelerado.

— Que homem estranho.

O dia correu normalmente. Entregas, trânsito, clientes apressados. Só que, no meio da tarde, o chefe veio com uma cara suspeita.

— Camila, entrega urgente. — Ele balançou o papel. — Mesma cobertura de sempre. Pediram de novo.

Ela arregalou os olhos.

— De novo? Não pode mandar outra pessoa.

—Não, ele falou que quer a mesma entregadora.

Camila bufou, mas pegou a sacola e subiu na moto. O céu já estava escuro, e as luzes da cidade davam um brilho dourado nas ruas. Quando chegou ao prédio de Julian, respirou fundo antes de tocar a campainha.

Ele abriu de imediato. Estava sem paletó agora, com a camisa branca dobrada nos antebraços, revelando um relógio caro e veias salientes. O cabelo estava levemente bagunçado — diferente do homem perfeitamente controlado de antes.

Camila entregou a sacola. Ele não pegou imediatamente.

— Interior… — ele repetiu em voz baixa, como se testasse a palavra. — Por que veio pra cá?

Ela franziu a testa, surpresa com a pergunta direta.

— Porque eu… precisava — respondeu, tentando disfarçar o incômodo. — Tinha que recomeçar.

Julian a observou em silêncio por alguns segundos. Aquele olhar calmo, frio, mas absurdamente intenso, fez o estômago dela se contrair de um jeito estranho.

Camila desviou o olhar, desconfortável, e estendeu a prancheta.

Ele assinou, ainda com o rosto impassível, e… mais uma vez, fechou a porta sem dizer nada.

Camila ficou parada por alguns segundos no corredor, com o coração batendo rápido.

— Esse homem é impossível… — murmurou, entrando no elevador. — Faz pergunta, me encara como se lesse meus pensamentos, e depois fecha a porta?

Na moto, a imagem dele — mais descontraído, com a camisa dobrada — não saía da cabeça. Era irritante.

E intrigante.

Na pensão, depois do banho, Camila deitou na cama e olhou para o teto, sem entender o próprio turbilhão interno.

Julian Blackwell não tinha sorrisos, nem gentilezas. Só frieza e perguntas inesperadas.

Mas cada encontro parecia mexer um pouco mais com ela.

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