Entregas Duplas

O despertador tocou alto, ecoando pelo quarto simples da pensão. Camila abriu os olhos devagar, sentindo o corpo pesado da correria do dia anterior. Mesmo assim, um pequeno sorriso surgiu — ela tinha conseguido sobreviver ao primeiro e segundo dia de trabalho, e aquilo já era uma vitória.

Tomou banho, vestiu o uniforme amarrotado e desceu pra padaria da esquina, onde já era “a menina do café corrido”. Com o pão na mão e o capacete debaixo do braço, seguiu em direção ao restaurante.

Assim que entrou, o chefe já a esperava com a prancheta e um sorriso divertido no rosto.

— Camila! — chamou ele. — Adivinha qual é a sua primeira entrega de hoje?

Ela franziu o cenho, pegando a lista das mãos dele. Bastou ler o número do endereço para que seus ombros caíssem.

— Não… — murmurou. — De novo não…

— Sim! — riu o chefe, balançando a cabeça. — Parece que o cliente gosta de pedir sempre no mesmo horário. Vai lá, você já conhece o caminho.

Camila bufou, guardou o celular no suporte da moto e saiu.

— Aquele homem deve viver trancado naquele apartamento — falou sozinha enquanto ajustava o capacete. — Vai ver nem cozinha…

O trânsito estava caótico, como sempre. Mas agora, depois de alguns dias, ela já não se perdia tanto. Chegou ao prédio elegante sem dificuldades, estacionou e respirou fundo.

— É só entregar, pegar a assinatura e ir embora — repetiu mentalmente como um mantra.

Subiu, bateu na porta e… lá estava ele de novo. Julian Blackwell. Impecável. Olhar frio. A mesma postura firme e distante. Pegou a sacola, assinou o recibo e fechou a porta sem dizer uma única palavra.

Camila ficou ali por dois segundos, segurando a prancheta e murmurou baixinho:

— Simpático como uma pedra…

Ela voltou ao trabalho, passou o dia fazendo entregas diversas e até trocando risadas com alguns colegas.

Quando o turno da noite começou, o chefe chamou novamente:

— Camila, última entrega do dia. — E ergueu a prancheta. — E adivinha pra onde é?

— Nem brinca… — disse ela, já sabendo a resposta.

— Pro mesmo prédio — confirmou ele com um sorriso travesso. — Vai lá, rapidinho. Fecha o dia com chave de ouro.

— Chave de gelo, você quer dizer… — bufou, pegando a sacola.

A cidade à noite parecia mais viva: buzinas, luzes, barulhos de música vindo dos bares. Ela acelerou a moto, mais acostumada com as ruas agora. Quando estacionou no prédio de Julian, percebeu que estava um pouco nervosa — e nem sabia explicar por quê.

Subiu no elevador, ajeitou o uniforme e bateu na porta.

Julian abriu quase no mesmo segundo. Camila ergueu a sacola e falou:

— Entrega para o senhor Blackwell.

Dessa vez, ele não pegou a comida imediatamente. Os olhos frios dele percorreram discretamente o uniforme, o capacete na mão dela… e, pela primeira vez, ele falou:

— Por que… entregadora?

Camila piscou, surpresa por ouvir a voz dele. Era grave, controlada, mas marcante.

— Hã… — ela engoliu em seco, sem esperar por aquilo. — Eu… acabei de chegar do interior. É temporário. Preciso trabalhar.

Julian manteve o olhar fixo por um instante, como se estivesse analisando cada palavra, cada expressão dela.

Camila se sentiu estranhamente desconfortável — e curiosa ao mesmo tempo.

Mas então, como se nada tivesse acontecido, ele simplesmente pegou a sacola, assinou o recibo com aquele jeito impecavelmente frio e… fechou a porta sem dizer mais nada.

Camila ficou parada por alguns segundos, segurando a prancheta, com o coração acelerado.

— …Sério? — murmurou. — Ele pergunta e depois… fecha a porta? Que homem mais estranho!

No elevador, riu sozinha, nervosa. Era só uma entrega. Era só um cliente. Mas a frieza dele mexia com ela de um jeito que nem ela conseguia explicar.

De volta à pensão, depois do banho e de um jantar simples, Camila deitou na cama, encarando o teto.

— Julian Blackwell… — sussurrou baixinho, sem perceber que estava repetindo o nome. — Homem esquisito.

Mas no fundo, algo nela já sabia: aquele endereço não era “só mais uma entrega”. Era o começo de algo que ela ainda não compreendia.

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