O despertador tocou antes mesmo do sol nascer.
Camila gemeu baixinho e rolou na cama dura da pequena pensão onde estava hospedada. O teto descascado e os sons da rua ainda eram estranhos pra ela. No interior, acordar cedo significava ouvir galos cantando e vento batendo nas janelas… na cidade, eram buzinas, gritos e motos acelerando.
Ela se sentou na cama, prendeu o cabelo em um coque rápido e respirou fundo.
— Segundo dia… vamo lá, Camila — sussurrou pra si mesma.
Tomou um banho rápido, vestiu o uniforme simples da empresa e desceu para tomar um café corrido numa padaria da esquina. O pão estava meio duro e o café forte demais, mas era o suficiente pra acordar.
Pouco depois, já estava na frente do restaurante, ajeitando o capacete. O chefe, um homem simpático de meia-idade, entregou a lista de entregas do dia com um sorriso.
— Ontem você foi bem — disse ele. — Hoje tem mais rotas, mas nada que você não aguente.
Camila sorriu, animada, até que os olhos bateram em um endereço específico no papel.
O mesmo prédio elegante.
O mesmo número de apartamento.
O mesmo homem.
Ela arregalou os olhos e soltou quase sem querer:
— Meu Deus… não… tenho que ir de novo ver aquele cara ignorante?
Uma das colegas ouviu e riu:
— Que cara? Cliente difícil?
— Não… — Camila balançou a cabeça, sentindo as bochechas esquentarem — É só… alguém que não fala nada, pega e fecha a porta na tua cara. Frio… tipo pedra.
— Ahhh, desses — a colega riu. — Boa sorte, novata.
Camila bufou, colocou o celular no suporte da moto e partiu para as entregas da manhã. O trânsito parecia ainda mais movimentado do que ontem, mas agora ela já tinha mais confiança nas curvas e sabia evitar os becos confusos que o GPS insistia em indicar.
Fez duas entregas tranquilas, respirou aliviada… e então chegou a hora do endereço que ela queria evitar.
Ela estacionou a moto em frente ao prédio elegante, ajeitou o uniforme e olhou pro espelho da moto:
— É só entregar… ele pega… fecha a porta… e pronto — murmurou para si mesma. — Ignorante ou não, é só mais uma entrega.
Subiu no elevador, sentindo o coração acelerar sem motivo lógico. Bateu na porta.
A maçaneta girou.
Julian Blackwell abriu, impecável como sempre: terno escuro, olhar penetrante… e a mesma frieza de ontem.
Ele não disse “bom dia”.
Não perguntou nada.
Apenas estendeu a mão para a sacola.
Camila entregou, tentando manter a postura.
— Aqui está… — disse com um sorriso nervoso.
Julian assinou o recibo sem olhar direito pra ela, devolveu a prancheta e simplesmente fechou a porta.
Camila ficou parada por dois segundos, segurando o capacete.
— Uau… simpático como sempre — murmurou baixinho, revirando os olhos, antes de voltar pro elevador.
Enquanto descia, o coração dela batia rápido, e ela não sabia dizer se era raiva, nervosismo ou… outra coisa. A frieza dele mexia com ela de um jeito estranho. Era irritante e, ao mesmo tempo, impossível de ignorar.
De volta à moto, ela suspirou e comentou com o celular preso no suporte:
— Se eu tiver que entregar comida pra esse homem todo dia, acho que vou enlouquecer.
Mas no fundo, sabia que havia algo diferente nele. Algo que fazia aquele endereço ficar gravado na cabeça, mesmo que ela fingisse que era só mais uma entrega.
O resto do dia passou entre entregas, buzinas, quase acidentes e cafés apressados. Quando finalmente chegou em casa, tomou um banho quente, caiu na cama exausta e, mesmo sem querer, a imagem do olhar frio de Julian voltou à sua mente antes de dormir.
Ela bufou e puxou o cobertor até o queixo.
— Sai da minha cabeça, cara chato… — sussurrou, antes de adormecer.
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Atualizado até capítulo 28
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