A Teimosia de um Novo Amanhecer
Não havia uma data específica para o dia em que aprendi a me tornar pequena. Era um processo lento, um desgaste contínuo.
Aos dez anos, quando meus pais fingiram que a gritaria no andar de baixo não era sobre mim — sobre o fardo que eu representava, a despesa desnecessária, a vida que eles "não mereciam" —, eu me encolhi sob o edredom e decidi que a única forma de não doer era não ser notada. Não pedir. Não esperar.
Aos vinte e um, a lição me foi tatuada na pele por Pedro. Ele era o amor, ou era o que eu pensava que era, até que sua mão se tornou mais pesada do que as palavras de meus pais. Primeiro, veio o insulto. Depois, o empurrão. No fim, a violência se tornou a única forma de controle. Ele me dizia que eu só servia para isso. Que o único valor que eu tinha era o que ele escolhia me dar, e que, se eu tentasse fugir, ninguém mais me olharia.
Quando consegui escapar, não chorei pelo amor perdido; chorei pela minha estupidez. Por ter violado a única regra que havia estabelecido na infância: Nunca dependa de ninguém.
O abandono me ensinou a desconfiar. A violência me ensinou a temer. Aos vinte e cinco anos, eu era a prova viva de que o amor não cura; ele mutila. E a única forma de sobreviver era me transformar na Muralha.
Fria, inatingível.
Não, Lucas. Você não vai quebrar a minha regra.
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Atualizado até capítulo 47
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