Quando recebi meu primeiro salário, não pensei duas vezes. Eu sabia exatamente o que queria fazer: devolver à minha mãe um pouco da dignidade que meu pai sempre lhe roubou.
— Mãe, se arrume, vamos sair. — falei sorridente, escondendo o envelope do pagamento dentro da bolsa.
Ela arqueou a sobrancelha, surpresa.
— Sair? Mas para onde, Geovana?
— Você vai ver. Hoje é o nosso dia.
Fomos direto para o shopping da cidade. O brilho das vitrines refletia em seus olhos, mas ela caminhava insegura, como se não pertencesse àquele lugar. A primeira parada foi no salão de beleza.
— Geovana… você enlouqueceu? — disse ela, quando a recepcionista nos recebeu. — Isso aqui é caro demais.
— Hoje não quero ouvir desculpas, mãe. Você vai cuidar de você.
Em pouco tempo, vi minha mãe de olhos fechados, relaxando enquanto lavavam e tratavam seus cabelos. Os fios ganharam vida, brilho, maciez. Depois vieram as unhas, delicadamente pintadas, e por fim a maquiagem leve, que realçou cada traço de sua beleza natural.
Quando ela se olhou no espelho, levou a mão à boca.
— Eu… nem me reconheço.
Sorri com os olhos marejados.
— Esse é o rosto da mulher maravilhosa que você sempre foi. Só estava escondida.
De lá, seguimos para uma loja de roupas. Insisti para que ela experimentasse um conjunto elegante e depois um vestido verde que realçou ainda mais sua pele clara e o brilho dos olhos castanhos.
— Geovana, isso é um absurdo! — disse ela, enquanto calçava os sapatos escolhidos por mim. — Está gastando muito dinheiro, filha.
Abracei-a pela cintura e balancei a cabeça.
— Não se preocupe. Eu parcelei no cartão, e não tem preço me ver feliz ao te ver assim. Você merece tudo isso, mãe.
Por fim, escolhemos uma bolsa que combinava com o sapato. Quando ela se olhou inteira no espelho da loja, quase não acreditou. Seus olhos marejaram.
— Eu não me lembro da última vez que me senti tão bonita… — confessou, emocionada.
Abracei-a forte, segurando as lágrimas.
— Mãe, a partir de agora vai ser diferente. Não vamos mais viver de migalhas. Você vai voltar a sorrir, vai voltar a se olhar no espelho e gostar do que vê.
Naquele momento, enquanto caminhávamos de mãos dadas pelo shopping, senti que o sacrifício de tantos plantões valia a pena. Não era só sobre dinheiro, era sobre devolver a minha mãe a vida que ela sempre mereceu.
De volta em casa, ajudei mamãe a pendurar as roupas novas no guarda-roupa. Ela tocava em cada peça como se fossem joias raras, dobrando com cuidado e ajeitando os cabides com um carinho que nunca tinha visto antes.
— Geovana… — disse ela, com a voz baixa, quase como se falasse consigo mesma. — Acho que vou guardar essas roupas para uma ocasião especial. Quase não saio de casa, minha filha. Seria desperdício usá-las aqui dentro.
Olhei para ela, aquele olhar doce e ao mesmo tempo resignado, e senti o coração apertar.
— Mãe, não pense assim. — respondi, segurando suas mãos. — Eu prometo que logo, quando eu me estabilizar no trabalho, vou comprar mais roupas, mais sapatos, tudo o que você quiser. E não só isso… eu vou te levar para passear, para conhecer lugares diferentes. Você vai ter sim muitas oportunidades de usar cada uma dessas roupas.
Ela sorriu, mas havia um brilho triste em seus olhos, como se não acreditasse totalmente que aquilo fosse possível.
— Você fala com tanta convicção, filha… que até me dá esperança.
Antes que eu respondesse, o telefone celular da mamãe tocou. Mamãe foi atender. Eu já sabia quem era.
— Alô? — ela disse. Sua expressão mudou instantaneamente. — Sim, Marcelo… entendi.
De onde estava, ouvi claramente a frase dele, seca e costumeira:
— Não volto para casa essa noite.
Mamãe fechou os olhos por um instante, apertando o telefone contra o ouvido. Era sempre assim. Sexta-feira já vinha com a sentença pronta: a ausência dele.
Ela desligou em silêncio, guardando o aparelho como quem guarda uma dor antiga.
— Mais uma vez… — murmurou, tentando disfarçar.
Abracei-a por trás, encostando o queixo em seu ombro.
— Mãe, um dia essa realidade não vai mais nos ferir. Eu prometo que vou mudar nossas vidas.
E, pela primeira vez naquela noite, vi um sorriso verdadeiro nos lábios dela, como se quisesse acreditar que meu futuro seria capaz de resgatar o passado que Marcelo havia destruído.
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Atualizado até capítulo 71
Comments
Edimaria Santos
iniciando a leitura hoje 24/10/2025
❤️❤️❤️❤️ ainda bem que a filha reconhece o valor da mãe.
Será se o Marcelo é mesmo o pai biológico de Geovana?
Porque ele despreza muito a esposa e a filha, por isso imaginei que seja o pai de sangue. Ele é um narcisista
2025-10-25
1
roseli Sousa da silva lucas
filha saber reconhecer o amor de mãe .
2025-10-10
5