Acordei antes mesmo do sol nascer. Quase não consegui dormir, meu coração parecia uma bateria, batendo forte dentro do peito. Levantei, tomei um banho demorado e fiquei minutos diante do espelho, tentando me convencer de que eu estava pronta.
Escolhi uma roupa simples, mas elegante: uma calça social preta, uma blusa azul clara e um blazer que herdei da minha tia. Não era novo, mas me dava a sensação de estar mais confiante.
Enquanto passava um pouco de maquiagem, minha mãe apareceu na porta do quarto.
— Você está linda, filha. Vai dar tudo certo.
Sorri, mas minhas mãos tremiam.
— Tomara, mãe. Eu preciso dessa vaga, mais do que qualquer coisa.
No ônibus a caminho do hospital, cada parada parecia eterna. Olhava pela janela, vendo a cidade correr, enquanto imaginava como seria a entrevista. Será que perguntariam sobre meus estágios? Sobre minhas notas na faculdade? Ou fariam testes práticos?
Quando finalmente cheguei ao hospital, fiquei sem ar. O prédio imenso, moderno, com portas de vidro giratórias e pessoas entrando e saindo apressadas. Senti-me pequena diante daquilo tudo, mas respirei fundo e segui em frente.
Na recepção, anunciei meu nome. Poucos minutos depois, uma mulher sorridente me chamou:
— Senhorita Geovana Lins? Pode me acompanhar, por favor.
Meu coração disparou de novo. Caminhei por corredores brancos e silenciosos até uma sala de reuniões. Lá dentro, três pessoas me aguardavam: uma médica, um homem de terno e uma mulher que parecia ser a mesma da ligação, Júlia.
— Bom dia, Geovana. Seja bem-vinda. — disse a médica, ajeitando os óculos. — Queremos conhecer um pouco mais sobre você.
Sentei-me, tentando esconder a ansiedade. Respondi às perguntas sobre minha formação, meus estágios, minhas habilidades técnicas. Aos poucos, fui recuperando a confiança.
Então, o homem de terno falou:
— Geovana, aqui prezamos pela prática. Você se sentiria confortável em realizar um teste rápido em nossa sala de radiologia?
Engoli seco, mas assenti.
— Sim, claro.
Fui conduzida até uma sala ampla, com equipamentos que só tinha visto em fotos e nas aulas práticas da faculdade. Um frio percorreu minha espinha. Eles me observaram em silêncio enquanto eu ajustava o aparelho e seguia os protocolos que aprendi. Minhas mãos suavam, mas minha mente parecia afiada.
Ao terminar, ouvi um dos avaliadores cochichar com o outro. Não entendi, mas o olhar de aprovação da médica me deu esperança.
De volta à sala, Júlia sorriu:
— Geovana, você foi muito bem. Temos outras candidatas, mas posso adiantar que seu desempenho foi acima do esperado.
Saí do hospital com o coração leve. Não tinham me dado a resposta definitiva, mas pela primeira vez senti que meu futuro estava se abrindo diante de mim.
Olhei para o céu e pensei:
"Se eu conseguir essa vaga, será o começo da minha liberdade. A chance de provar para mim mesma — e até para meu pai — que eu não preciso dele para vencer."
Dois dias depois da entrevista, eu estava no meu quarto, sentada na beira da cama com o celular na mão, como se pudesse adivinhar quando ele iria tocar. Minha mãe, no corredor, passava e repassava roupa, tentando disfarçar a própria ansiedade.
De repente, o toque do celular ecoou pelo quarto. Meu coração quase parou. Atendi com a voz entrecortada:
— Alô?
— Geovana? Aqui é a Júlia, do Hospital Vida Plena. Estou ligando para dar a boa notícia: você foi selecionada para integrar a nossa equipe de radiologia. Seja bem-vinda.
Por um instante, não consegui responder. Senti um nó na garganta, lágrimas queimando meus olhos. Apertei o celular contra o ouvido e soltei um suspiro entrecortado:
— Muito obrigada… de verdade. Vocês não vão se arrepender.
— Tenho certeza que não — respondeu Júlia, simpática. — Compareça amanhã cedo para assinatura do contrato.
Quando desliguei, desabei em choro. Minha mãe correu até mim, largando as roupas no chão.
— Filha? O que foi?
Entre lágrimas, sorri.
— Mãe, eu consegui! Eu fui contratada!
Ela me abraçou forte, chorando junto. Pela primeira vez em muito tempo, vi um brilho de esperança nos olhos dela. Era como se a vida estivesse finalmente nos devolvendo um sopro de dignidade.
Foi nesse instante que meu pai entrou no quarto, atraído pelo barulho. Ele nos encarou com aquela frieza habitual e perguntou, sem emoção:
— O que está acontecendo aqui?
Mamãe respondeu, orgulhosa:
— Nossa filha conseguiu emprego no hospital!
Ele arqueou uma sobrancelha, esboçando um sorriso torto.
— Que bom… assim ela finalmente vai parar de dar prejuízo. Agora poderá contribuir com as despesas da casa.
Senti meu estômago revirar. Ele não disse “parabéns”, não disse “eu confio em você”, apenas reduziu minha conquista a dinheiro.
Olhei para minha mãe, que baixou os olhos, envergonhada. Era sempre assim. Quando ela pedia dinheiro para comprar uma roupa nova, cuidar do cabelo ou até mesmo trocar nossos sapatos gastos, ele dava mixarias que não serviam para nada. Enquanto isso, desfilava por aí com ternos caros e perfumes importados.
Engoli o choro e ergui a cabeça.
— Eu não consegui esse emprego para te agradar, pai. Consegui porque mereci. E pode ter certeza: o que eu vou conquistar daqui em diante não será para sustentar a sua arrogância, vou tentar suprir um pouco as necessidades minhas e da mamãe que você sempre deixou a desejar.
O silêncio se instalou no quarto. Mamãe apertou minha mão, nervosa, como quem pede que eu me cale. Mas, no fundo, eu sabia que aquela era a primeira de muitas respostas que ele ainda ouviria de mim.
— Filha ingrata, é para isso que criamos filhos, agora que chega a hora de retribuir o que fazemos por eles, é isso o que recebemos.
Afinal, aquele emprego não era só um trabalho. Era a chave da minha liberdade.
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Atualizado até capítulo 71
Comments
Natacha Manoell
isso ai n é pai
nem marido
é um projeto de machinho metido a homem feito...
q nojo😒
2025-10-15
1
roseli Sousa da silva lucas
escroto
2025-10-10
5