Após um breve silêncio, Luiz retornou à realidade e se virou para Vitor, jogando a pergunta no ar:
— E a contabilidade? O que você quer que eu faça lá?
Vitor tomou um gole da bebida antes de responder. Seus olhos voltaram para Luiz com a calma de quem já sabia a resposta.
— Chegou o carregamento novo. Preciso que você vá lá, registre os números, veja se tá tudo certo.
Luiz soltou uma risada seca, debochada, virando-se para o amigo com um sorriso cínico.
— Mas nem fodendo. Eu não entro naquele chiqueiro nem morto. Por que eu, porra? Você é o líder, vai você, caralho!
— Porque você sempre foi melhor em matemática do que eu. Eu sou péssimo com números, você sabe. Muito número, muita conta, meu cérebro trava. Quebra essa, só dessa vez — Vitor disse, com um tom mais leve, quase brincando, como se aquilo fosse uma disputa infantil.
— Eu posso até ir fazer o registro, mas não vou organizar aquela merda. Na última vez que tentei aquilo quase me enlouqueceu. Já falei: você precisa de alguém capacitado só pra cuidar disso. Meu trabalho é cobrar quem te deve, e só.
A seriedade na voz de Luiz cortou o clima brincalhão por um momento. Aquela situação já se arrastava há anos, sem ninguém fixo pra cuidar da contabilidade.
— Ah, cara... eu não vou contratar alguém pra me roubar. Vai que desvisam nosso dinheiro. Eu confio somente em você. Em mais ninguém — disse Vitor, agora mais ríspido.
— Porra, não tem só eu na gangue! Tem o Léo, o Cayo, o Jorge, aqueles trastes do Ryan e o Breno. Bota alguém, caralho. Só sei que eu não vou fazer essa porra.
— Ô, Luiz... Jorge quase me fez matar um fornecedor fiel porque errou um cálculo simples. Léo e Caio só sabem hackear e mexer com código. Matemática? Nem pensar. Ryan e Breno? Aqueles dois são a dupla dinâmica do desastre, dois inúteis que só servem para atrapalha.Os outros? São soldados, descartáveis! Só confio em você. Ou quer que eu desenhe?
O tom de Vitor começava a ficar mais sério, quase frustrado.
Luiz suspirou fundo, os olhos fixos no amigo.
— Sério, cara. Você é o cabeça dessa porra. É o rei de um império, e um império sem controle financeiro tá fadado a cair. Eu te ajudo dessa vez, mas só vou conferir se tá tudo certo e se o que chegou bate com o pedido. Só isso. Aí vai um aviso de irmão: se os nossos inimigos descobrirem essa falha, vai dar merda. E das grandes.
Vitor jogou a cabeça pra trás, respirando fundo. Passou a mão no rosto, cansado.
— Eu sei, eu sei... eu realmente tenho que cuidar disso. Prometo que vou resolver. Mas quebra essa pra mim, só dessa vez.
Luiz revirou os olhos, levantando-se do banco. Antes de sair, respondeu:
— Dessa vez eu quebro teu galho. Mas é a última. Depois, esquece!
Vitor sorriu, satisfeito. Sabia que no fim das contas, Luiz nunca deixava de ajudar.
— Amanhã é o dia de visitar os comércios pra pegar a grana do mês, hein — avisou, com um tom mais leve e descontraído.
— Eu sei. Não esqueci. Amanhã é meu dia favorito, lembra? — disse Luiz com um sorriso de canto e a voz carregada de sarcasmo.
— Sei…Vai passar lá pra ver a Monique, né? Só não se perca no colo da Sheilão, hein. Quero o dinheiro na minha mão até o fim da tarde — disse Vitor, rindo.
Luiz apenas revirou os olhos, não disse mais nada e saiu, indo direto pro QG.
Lá, começou a contagem das drogas, anotando tudo com cuidado no velho caderninho. Depois, subiu até o segundo andar, abriu a sala refrigerada de armazenamento e, com precisão, organizou os pacotes em seus respectivos lugares.
Ao terminar, seguiu pro seu quarto. O corpo pesado, a mente cheia. Deitou-se na cama, puxou um cigarro, acendeu... tragou fundo, repetiu esse movimento até... e então, enfim, adormeceu.
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Atualizado até capítulo 28
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