As últimas palavras do homem ecoaram na mente de Ster. Como ele sabia que ela estava seguindo alguém? Será que estava sendo observada? Ou tinha cometido algum erro? A dúvida pesava. Ele era amigo ou inimigo? Por que a salvou? Qual era o real motivo por trás daquele gesto?
Ainda imersa nesses pensamentos, notou que estava sozinha outra vez. Precisava urgentemente encontrar um lugar para dormir. E um emprego. Todo o dinheiro que tinha estava na bolsa — uma pequena e velha, mas onde guardava o pouco que lhe restava como se fosse um tesouro. Suas economias tinham se esvaído na busca por respostas. Ela havia largado tudo por Campo Grande.
Seguiu pelas ruas frias e escuras da cidade, tentando sair da zona vermelha. Uma promessa silenciosa nascia dentro dela: nunca mais voltaria ali desacompanhada — e muito menos se sujeitaria a ser confundida com uma prostituta.
As horas passaram arrastadas enquanto procurava algo que coubesse no bolso. Tudo era caro demais ou só aceitava pagamento por noite. Foi então que avistou uma viela, e nela, uma placa velha, quase ilegível: Estalagem. O prédio parecia estar prestes a desabar, mas era sua única opção.
Empurrou a porta de madeira. Lá dentro, o cheiro de mofo e o som de ratos correndo entre baratas criavam o cenário perfeito de decadência. No balcão, um sino coberto de poeira. Ela o tocou, e o som estridente ecoou pelo ambiente silencioso, espantando os insetos.
Minutos depois, surgiu um homem baixo, pele clara, maquiagem borrada, barba por fazer, batom vermelho contrastando com a expressão de tédio, um topete alto e uma roupa simples: regata vinho e bermuda jeans. Estreitou os olhos, analisando Ster de cima a baixo com desprezo evidente.
— Pois não, meu bem? — disse ele, com voz arrastada, uma sobrancelha arqueada.
— Eu... preciso de um quarto, senhor. Quanto custa?
O homem deu uma risada abafada. Ela era novata, estava na cara. Aquela carinha de boneca não combinava com Campo Grande. Mas logo a cidade se encarregaria de transformá-la.
— Que fina... me chamou de senhor. Me chame de Luciano, querida. Dez reais por semana. Pagamento adiantado.
— Pago cinco semanas de uma vez.
Sacou uma nota de cinquenta reais da bolsa e a deixou no balcão. Luciano pegou a nota com certo desdém, checando sua autenticidade. Depois, girou para o painel de chaves enferrujadas, retirando uma marcada com o número 25.
— Aproveite o luxo, madame — disse com sarcasmo, jogando a chave sobre o balcão.
— Obrigada — respondeu seca. Mas antes de subir, respirou fundo e arriscou:
— Desculpa perguntar... você sabe de algum lugar que esteja contratando? Preciso muito trabalhar. Faço qualquer coisa, menos me prostituir.
Luciano sorriu de canto. Aquilo estava ficando interessante.
— Tem uma boate... da minha amiga Sheilão. Você faria sucesso por lá, acredita?
— Não sou garota de programa. Quero limpar, atender, servir. Qualquer coisa... menos isso.
Luciano manteve o sorriso debochado.
— Tão novinha... tão ingênua... — murmurou, como se falasse consigo mesmo. — Mas olha só, estão precisando de alguém na recepção. Só pega o dinheiro, entende? Trabalho "limpo", como você quer. Posso te levar amanhã. Mas não se atrase, boneca.
— Pode deixar — respondeu, firme.
Subiu as escadas que rangiam sob seus pés. O quarto era o retrato do abandono: cama de gesso, colchão fino, travesseiro murcho, banheiro com chuveiro enferrujado e vaso sem tampa. Ainda assim, era um teto. Jogou a bolsa no chão e tirou de dentro a única coisa que tinha valor sentimental: a foto do irmão. Olhou para ela por minutos, como se tentasse se reconectar com algo que parecia cada vez mais distante.
Adormeceu abraçada àquela imagem, como se fosse sua última âncora.
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Atualizado até capítulo 28
Comments
Isabel Hernandez
Estou amando a história, mas quero saber o que vai acontecer, atualiza!
2025-10-10
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