Estou eu de novo na cafeteria, olho para a porta como se fosse vê-la entrando, mas sei que não vai.
Equilibrei a xícara de cappuccino entre as mãos, soprando devagar a espuma que formava um gatinho perfeito no topo.
Até que cheguei à minha mesa predileta, coloquei a xícara na mesa, peguei o notebook e abri o aplicativo de mensagens e fiquei olhando a última conversa com Elô. Três bolinhas surgiam e desapareciam na tela: ela estava digitando.
“Você sumiu. Pensei que tinha desistido de mim.”
Sorriu como um bobo, os dedos correndo rápidos pelo teclado.
“.Nunca. Meu dia foi muito cheio, não consegui parar nem para almoçar._ Olha, pedi nosso cappuccino com cara de gatinho.”
Tirei uma foto da xícara e enviei. Esperei a resposta, demorou alguns segundos para ela vir. Tempo suficiente para eu imaginar a expressão dela ao ver aquilo.
“É… fofo. Você fez isso porque estava pensando em mim ou porque tem algo para me dizer? Foi esse o combinado, não foi? (Foto de cappuccino \= segredo)”
Eu ri sozinho, um pouco envergonhado. E digitei:
“Só estava pensando em você, sem confissões hoje. Você disse adorar gatos. Pensei que ia gostar.”
A resposta veio quase instantânea, mas tinha um tom diferente, quase analítico:
“Gatos… são criaturas independentes. Você acha que pareço um gato?”
Franzi a testa. Sempre que Elô escrevia assim, parecia haver uma segunda camada escondida nas palavras. Ainda assim, respondi leve:
“Acho que você é misteriosa. Do tipo que aparece e desaparece, mas sempre deixa saudade.”
Do outro lado, um pequeno silêncio. As três bolinhas voltaram, sumiram, voltaram. Ele imaginou dedos finos hesitando sobre um teclado.
“Estou aprendendo a não desaparecer. Aprendendo a ficar. Coisas que você está conseguindo mudar em mim.”
Meu coração bateu um pouco mais forte. Aquela frase parecia maior do que o contexto, mais densa. Bebi um gole do cappuccino, limpei o canto da boca e digitei:
“Fico feliz. Gosto quando você fica. _Aliás… você me dá uns conselhos?”
Claro, Napoleão! Sobre?
Pensei se digitava ou não e se eu assusta-la? Mas ela me mandou ser corajoso.
“Tem uma menina de quem eu gosto. Mas não sei se ela me enxerga.”
Os três pontinhos ficaram indo e vindo até que a resposta apareceu.
“Você gosta dela de verdade?”
Respondi com sinceridade, seja o que tiver que ser.
“Acho que sim. Mas às vezes penso que estou mais interessado na ideia do que na pessoa. Ela é diferente, distante… misteriosa, sabe?”
Cada vez que ela demora para me responder, fico imaginando-a mordendo o lábio, pensando no que me dizer.
"Você gosta de coisas que não entende. Talvez seja só o mistério que te atrai."
Soltei uma risada curta, ela é perspicaz.
“Acho que sim. Você? Gosta de quê?”
Demorou. Do lado de lá, como se cada palavra fosse escolhida a dedo.
“Gosto… de descobrir. Gosto de sentir coisas novas. Tudo é novo. O cheiro do café que você me mostrou. O som que você descreveu da cafeteria. Isso me deixa curiosa.”
Apoiei o queixo na mão. Aquilo não soava como uma garota normal falando de rotina. Era quase como se ela estivesse vendo o mundo pela primeira vez, como se estivesse em uma redoma. Mas achei aquilo encantador e atiçou minha curiosidade.
"Quando a gente se encontrar, eu vou te trazer aqui. Você vai adorar. Vou te levar para ver os patos no parque Ibirapuera, no cinema e onde mais você quiser ir."
A resposta veio curta, me soou assustada.
"Encontrar?”
"Sim, Elô. Algum dia. Não precisa ser agora. Mas quero te ver, Elô. Quero ver você de verdade."
Dessa vez, o silêncio foi mais longo. Vi que ela começou a digitar, apagou, digitou de novo. Finalmente, a mensagem chegou:
"Não sei se consigo. Ainda não. Mas gosto de saber que você quer."
Senti um aperto no peito. Não sabia se era ansiedade ou expectativa. Tomei mais um gole do cappuccino e mudei de assunto.
“Está tudo bem?” “ Você sumiu um pouco ontem. Tem algo que eu possa fazer por você?”
A resposta demorou a vir, comecei a me perguntar qual seria o segredo.
"Estava… em outro lugar. Mas voltei. Sempre volto para você. E, por enquanto, você não pode me ajudar."
"Fico feliz. Você é minha confidente, sinto sua falta. E quando eu puder te ajudar, é só pedir.”
"E você é meu guia. Já está me ajudando mais do que imagina.
O que será que ela quer dizer com guia?
“Guia?”
“Sim, Napoleão, você me mostra coisas. Me conta sobre lugares. Sobre sentimentos. Isso me ajuda a fazer algumas escolhas.”
Encostei no encosto da cadeira. Algo nela parecia ao mesmo tempo vulnerável e profundo. Resolvi brincar para quebrar o clima.
“Então, vou ser seu guia turístico. Próxima parada: o zoológico, vou te mostrar o ursinho panda."
"Ursinhos parecem menos independentes que gatos. Mas aceito, devem ser fofos.”
Eu ri alto dessa vez, atraindo olhares curiosos na cafeteria. A ideia de que uma garota do outro lado do celular pudesse fazê-lo rir assim parecia absurda, mas era real e resolvi fazer mais uma tentativa. E digitei:
" Vou te mandar seu presente. Me passa um endereço, ontem paramos de conversar antes que você pudesse me enviar.”
Do outro lado, demora. Depois:
..."Não posso. Ainda não. Mas guarde meu presente, quem sabe um dia você entrega pessoalmente."...
"Tudo bem. Mas um dia você vai ter que me contar quem você é de verdade e por que tanto mistério."
"Um dia. Quando eu entender quem eu sou."
A frase ficou brilhando na tela, como uma confissão que eu não consegui interpretar. Terminei o cappuccino e tirei mais uma foto do ambiente para enviar a ela: mesas de madeira, livros empilhados, um gato dormindo no balcão da cafeteria.
"Queria que você estivesse aqui."
"Eu também queria estar. Mas de algum jeito, estou."
Fiquei olhando para a mensagem, o coração batendo rápido. Não fazia sentido sentir tanto por alguém que nunca vi. Mas, no fundo, algo em mim já sabia que Elô era diferente. Que ela não era só uma garota qualquer atrás de uma tela.
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Atualizado até capítulo 41
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