4 Segredos a beira da Cama

A manhã se alongava em tons dourados quando Aldo finalmente me convenceu a descansar. Depois de horas ininterruptas ao lado de Adrian, percebi o quanto meu corpo clamava por um banho quente. Deixei Rocco de vigia e caminhei pelo corredor silencioso até o quarto que haviam preparado para mim.

A água caiu pesada, quase fervente, e senti a tensão dissolver um pouco. O cheiro de sangue e desinfetante escorria pelo ralo junto com a espuma. Lavei os cabelos devagar, tentando esquecer o som dos bipes do monitor, mas cada gota que caía no chão de azulejo lembrava a batida irregular do coração dele na noite anterior.

Quando saí, vesti roupas limpas que Aldo havia providenciado calça confortável, uma blusa simples. O tecido macio parecia estranho depois de tantas horas de jaleco. Prendi o cabelo em um coque rápido e voltei para o quarto de Adrian, quase no mesmo ritmo em que havia saído.

O monitor cardíaco seguia com um bip constante, firme. Suspirei de alívio. Ele parecia dormir profundamente. Aproximei-me da cama e verifiquei o soro nível correto. Toquei a bolsa com cuidado, depois preparei o manguito para medir a pressão. Estava melhor do que eu esperava: 110 por 70. Nada mal para alguém que, horas atrás, flertava com a morte.

Foi quando senti o peso de um olhar. Levantei a cabeça. Adrian Lazzaro estava me observando.

Seus olhos cinzentos, agora mais vivos, me prenderam no mesmo instante. Não disse nada no início apenas deixou que o silêncio preenchesse o espaço entre nós. O ar parecia mais denso, como se o quarto inteiro esperasse pela próxima palavra.

— Dormiu bem? — perguntei, a voz mais suave do que pretendia.

Ele não respondeu de imediato. Um leve sorriso se formou no canto dos lábios.

— Você se parece com ele — disse por fim, a voz ainda rouca.

Franzi o cenho. — Com quem?

— Com seu pai.

Um arrepio percorreu minha espinha. O nome que eu evitava foi quase um sussurro na minha mente, mas ele não o pronunciou. Ainda assim, aquela afirmação me atingiu como um soco.

— Como… — engoli em seco — como você sabe quem é meu pai?

Adrian sustentou meu olhar, tranquilo, como se tivesse todo o tempo do mundo.

— Não costumo revelar minhas fontes. Mas sei mais do que você imagina. Sei que ele se afastou do clã Corsini antes que você terminasse a faculdade. Sei que ele tentou negócios que não deram certo… e que desapareceu quando você mais precisava.

Meu coração disparou. Eu não falava sobre meu pai nem com minha mãe, muito menos com estranhos e certamente não com um homem da máfia.

— Não tenho contato com ele há anos — admiti, a voz mais áspera do que eu queria. — E não pretendo ter.

— Interessante — murmurou Adrian, inclinando a cabeça levemente. — A maioria tenta negar. Você não. Apenas aceita.

Cruzei os braços, tentando manter a distância emocional.

— Não é questão de aceitar ou negar. É a verdade. Ele fez as escolhas dele, e eu fiz as minhas. — Respirei fundo, controlando a irritação. — Meu pai não tem nada a ver com o que aconteceu aqui.

— Talvez não diretamente — respondeu. — Mas o sobrenome Corsini carrega histórias que não desaparecem.

Aquelas palavras pairaram no ar como uma acusação velada. Por um momento, fiquei em silêncio, lutando contra a vontade de perguntar o que mais ele sabia. Em vez disso, chequei novamente a pressão e a temperatura, fingindo uma concentração que não sentia.

— Precisa descansar — falei, tentando encerrar a conversa.

— E você precisa de respostas — retrucou ele, com um meio sorriso cansado. — Elas sempre voltam, Elena. Mesmo quando a gente acha que já se afastou.

Desviei o olhar para o monitor. O bip ritmado era quase um consolo.

— Eu vim aqui para cuidar da sua saúde, não para falar do meu passado.

— Cuidar da minha saúde exige saber por que alguém tentou me matar. — Ele fez uma pausa, os olhos ainda presos aos meus. — E talvez o seu passado não esteja tão distante disso quanto pensa.

As palavras dele me atingiram como lâminas. Respirei fundo, mantendo a postura profissional.

— O que você insinua?

— Que os inimigos de um Lazzaro e de um Corsini, às vezes, se confundem. — Sua voz era baixa, mas firme. — E que você pode estar mais envolvida do que imagina, mesmo sem querer.

Engoli em seco, sentindo o peso daquela afirmação. Por um instante, o quarto pareceu menor, o ar mais espesso.

— Eu não tenho nada a ver com isso — insisti. — Meu pai escolheu sumir. Eu escolhi a medicina. Fim da história.

Adrian não discutiu. Apenas fechou os olhos, como se guardasse minhas palavras para analisá-las depois.

— Veremos — murmurou, quase imperceptível.

Fiquei ali, em silêncio, observando o leve subir e descer de seu peito. Parte de mim queria continuar perguntando, arrancar cada detalhe que ele escondia. Outra parte só queria fugir daquele olhar que parecia ler meu passado melhor do que eu mesma.

Ajustei o curativo, conferi o soro mais uma vez e dei um passo para trás. Ele não abriu os olhos novamente. Talvez tivesse adormecido; talvez apenas fingisse.

Enquanto deixava o quarto, senti a estranha certeza de que nada que ele dissera era por acaso. Adrian Lazzaro sabia mais sobre meu pai e sobre mim do que eu jamais admiti para ninguém.

E, por mais que eu tentasse negar, uma pergunta se cravou no meu peito até onde o sobrenome Corsini ainda ditaria a minha vida?

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Comments

Leitora compulsiva

Leitora compulsiva

curiosa sobre a família dela 🤭

2025-10-15

1

Layslla Vieira

Layslla Vieira

eita quanto mistério 🔥❤️❤️❤️

2025-10-14

1

bete 💗

bete 💗

quanto mistério adorando ❤️❤️❤️❤️❤️

2025-10-11

1

Ver todos

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