Lealdade em Exibição
(Ponto de Vista: Sofia Bianchi)
O vestido que Marco havia providenciado era de seda preta, simples e elegante. Mas parecia uma armadura. Eu estava me preparando para uma guerra.
Quando cheguei ao andar de baixo, Dante já me esperava no pé da grande escadaria, impecável em seu terno. Nossos olhos se encontraram, e ele fez um movimento sutil com a cabeça, lembrando-me da Regra Número Três: em público, você me toca e sorri.
Forcei um sorriso que me pareceu mais uma careta e me aproximei. Ele estendeu o braço; hesitei por um momento de teimosia, mas o medo de desagradá-lo superou o orgulho. Coloquei minha mão na dobra do seu cotovelo. A palma dele estava quente e dura, e a proximidade me enviou um choque elétrico incômodo.
"Bom," ele murmurou, quase inaudível, sem sequer olhar para mim. "Você aprende rápido."
O jantar não era um evento social. Era um encontro da Família Moretti, o círculo interno. A mesa era longa, escura, e a atmosfera, pesada.
O primeiro a me encarar foi Salvatore, o Consigliere. Um homem de meia-idade, com olhos alertas e penetrantes, que me analisava com desconfiança total. Se Dante era o Executor, Salvatore era o Cérebro. Ele me saudou com um aceno frio, mas os olhos dele pareciam dizer: Você é a brecha na nossa armadura.
Mas a verdadeira força estava na cabeceira oposta à de Dante.
Eleonora Moretti. A mãe de Dante.
Ela era a imagem da sofisticação italiana, uma mulher de sessenta e poucos anos, vestida com um rigor impecável, o cabelo prateado em um coque perfeito. Seus olhos, de um tom de verde mais claro que os de Dante, examinavam-me como uma cirurgiã antes de um procedimento. Dante podia ser o Capo, mas Eleonora era a Matriarca.
Dante me puxou para a cadeira ao seu lado. Salvatore se sentou à nossa frente.
"Mãe," Dante começou, sua voz mais suave do que eu a havia ouvido até então, mas ainda com aquela autoridade de Capo. "Esta é Sofia. Minha nova esposa."
Eleonora não sorriu. Ela apenas assentiu, e o silêncio que se seguiu foi constrangedor.
"Sofia," ela finalmente disse, sua voz um pouco rouca, mas com dicção perfeita. "Seja bem-vinda. Espero que esteja à altura do que Dante precisa."
O subtexto era claro: espero que você valha a dívida que pagamos por você.
"Eu farei o que for esperado," respondi, levantando meu queixo. Eu me lembrava do meu papel: lealdade e submissão.
Salvatore interveio, mudando o assunto para um problema de contabilidade. Eles estavam discutindo cifras e acordos em códigos que eu entendia perfeitamente graças à minha formação em Direito. E então, acidentalmente, ouvi a menção de um nome: Ricci.
O rival. A Família que estava pressionando os Moretti.
Minha mão tremeu sob a mesa. Dante, sentindo meu movimento, colocou sua mão sobre a minha. Não era um gesto de carinho, mas um aviso silencioso: Regra Número Dois, Sofia. Engula e esqueça.
Eleonora notou a interação. Seus olhos de águia não perderam nada.
"Salvatore, meu filho," Eleonora interrompeu a discussão de negócios, atraindo toda a atenção. "Nossa nova noiva não parece estar se alimentando bem. Você está pálida, Sofia. Na nossa Família, nós zelamos pela saúde. E pela honra."
Ela inclinou a cabeça, me encarando. Era o teste.
"O que você traz para esta mesa, Sofia?" Eleonora perguntou, a pergunta simples, mas o peso da resposta era monumental.
Eu respirei fundo, sentindo o aperto da mão de Dante.
"Eu trago lealdade, senhora Moretti," respondi, olhando diretamente para Eleonora, ignorando a mão de Dante. "Eu fui forçada a estar aqui, mas uma vez que meu juramento é feito, ele não pode ser desfeito. Eu protegerei o nome de Dante, pois ele é o meu único porto seguro agora. E," adicionei, olhando rapidamente para Dante e depois de volta para Eleonora, "eu sou obstinada. Eu aprendo rápido. E farei o que for preciso para sobreviver."
Um pequeno, quase imperceptível, sorriso surgiu no canto da boca de Eleonora.
"Interessante," ela murmurou.
Dante retirou sua mão da minha, e eu percebi que ele estava segurando a respiração. A resposta não o agradou totalmente (eu o desafiei ao olhar para Eleonora), mas me manteve viva aos olhos da Matriarca.
O jantar prosseguiu. Eu havia passado no primeiro teste de Eleonora, mas o custo era alto: eu tive que engolir minha aversão e jurar lealdade a um homem que eu odiava. Eu era, de fato, a lealdade em exibição de Dante.
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Atualizado até capítulo 47
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