Capítulo 5: O Presente das Orquídeas

A semana seguinte ao almoço foi um turbilhão de emoções conflitantes para Mariana. Cada toque do celular a fazia saltar, esperando uma mensagem de Pedro. E elas vinham, com a mesma frequência tranquila de sempre, mas agora carregadas de um novo significado. Ele mandou uma foto de uma orquídea phalaenopsis branca que havia desabrochado em sua varanda.

Pedro: A Dama Branca decidiu florescer. Lembrou você.

Mariana olhou para a foto, a flor era imaculada e graciosa. Ela se lembrou de como se sentira no restaurante, sob o olhar dele: vista, apreciada. Um calor doce percorreu seu corpo.

Mariana: É linda, Pedro. Parabéns à jardineiro.

Pedro: Obrigado. E ao almoço de ontem? Ainda está se recuperando do choque de sair do café em horário de pico?

Ela riu.

Mariana: A Renata me olhou como se eu tivesse crescido asas. Mas foi bom. Muito bom.

A confissão saiu mais fácil do que ela imaginava. Estava se acostumando a ser honesta com ele, e consigo mesma.

Dois dias depois, numa sexta-feira à tarde, Pedro apareceu no café não com as mãos vazias, mas carregando um vaso pequeno e elegante. Dentro, uma muda de orquídea, com duas hastes verdes e vigorosas.

— Para você — ele disse, colocando o vaso no balcão com um cuidado extremo.

Mariana ficou sem palavras. Olhou para a planta, depois para ele. — Pedro… é linda. Mas por quê?

— Porque toda beleza merece ser cuidada — ele respondeu, sua voz suave. — E porque essa é uma orquídea bambu. Ela é resistente, não exige tanta atenção, mas quando floresce… é uma das coisas mais lindas que você vai ver. — Ele fez uma pausa, seus olhos escuros fixos nela. — Me lembrou você.

Mariana sentiu as lágrimas pressionarem seus olhos. Ninguém nunca lhe dera algo assim. Algo vivo, que exigia cuidado e paciência, que era um investimento no futuro. Carlos lhe dera flores cortadas, que murchavam em dias. Pedro lhe dava uma semente de beleza futura.

— Eu… não sei o que dizer — sussurrou, sua mão tocando as folhas verdes com reverência.

— Não precisa dizer nada — ele respondeu. — Só prometa que vai colocá-la num lugar com luz indireta e regar uma vez por semana.

— Eu prometo — ela disse, e a promessa parecia se estender para muito além da planta.

Ele ficou apenas alguns minutos, o tempo de tomar um espresso rápido. Quando saiu, Mariana ficou parada diante da orquídea, seu coração batendo forte. Aquele não era apenas um presente. Era um símbolo. Da resistência dele, da paciência dele, do seu olhar atento que via além da sua casca de mulher forte.

Nos dias que se seguiram, a orquídea tornou-se seu tesouro. Ela pesquisou sobre seus cuidados, colocou-a na prateleira perfeita atrás do balcão, onde pegava a luz da manhã filtrada pela vitrine. Cuidar daquela planta tornou-se um ritual, uma extensão dos sentimentos novos que brotavam dentro dela.

As mensagens entre eles se aprofundaram. Começaram a falar sobre coisas mais pessoais. Pedro contou, numa noite, sobre Luan, seu filho. Não com a dor esmagadora de antes, mas com a saudade doce de quem aprendeu a carregar o amor sem a âncora da dor.

Pedro: Ele adorava quebra-cabeças. Montávamos os mais complexos, ficávamos noites nisso. A Carmen reclamava que a sala virava uma zona.

Mariana: Ele devia ser incrível.

Pedro: Era. Como a mãe.

Mariana, por sua vez, compartilhou fragmentos do seu passado. A luta após Carlos ir embora, o medo constante de não ser suficiente para Cecília.

Mariana: Havia dias que eu chorava no banheiro do café, com medo de falir e não ter o que dar para ela comer.

Pedro: Mas você não falhou. Você é a pessoa mais forte que eu conheço.

A admiração dele era um bálsamo. Ele não a via como uma vítima, mas como uma vencedora. E aos poucos, ela começava a se ver através dos olhos dele.

Certa tarde, ele a convidou para ver seu apartamento e, principalmente, seu jardim de orquídeas. Era um passo ousado, íntimo. Mariana hesitou. O apartamento de um homem solteiro. O santuário dele.

— É só para ver as plantas — ele disse, sua voz tranquila no telefone. — Nada mais.

Ela aceitou.

O apartamento de Pedro era como ele: organizado, aconchegante, com livros espalhados com um certo cuidado e a varanda era, de fato, um oásis verde. Orquídeas de todas as cores e tamanhos penduradas, algumas floridas, outras apenas com hastes promissoras.

— É maravilhoso, Pedro — ela disse, genuinamente impressionada.

Ele sorriu, orgulhoso. — É a minha terapia.

Ele a guiou pela varanda, explicando cada espécie, seu nome, suas peculiaridades. Ele falava com uma paixão contagiante. Mariana o observava, suas mãos grandes e capazes acariciando as pétalas com uma ternura infinita. Aquele era um lado dele que ela não conhecia. O cuidador. O paciente.

De repente, ele parou de falar e se virou para ela. Estavam próximos, o aroma das flores envolvendo-os.

— Mariana — ele disse, sua voz um pouco mais grave. — Eu não quero apressar nada. Eu juro que não. Mas eu preciso que você saiba que isso… o que está acontecendo entre a gente… para mim, não é só amizade.

O ar pareceu sair do pulmão de Mariana. Lá estava. A verdade, dita com uma coragem que a deixou tonta.

Ela olhou para ele, para seus olhos sérios e cheios de esperança. O medo gritou dentro dela, um eco antigo e familiar. Mas era mais fraco agora. Abafado pelo som doce da sua própria voz respondendo, antes mesmo que sua mente pudesse processar.

— Para mim também não, Pedro.

A confissão pairou no ar entre eles, tão real quanto o perfume das orquídeas. Ele não se moveu, não tentou beijá-la. Apenas segurou seu olhar, e um sorriso lento, deslumbrante, iluminou seu rosto.

— Que bom — ele sussurrou. — Que bom, Mariana.

Ele estendeu a mão, e ela, com o coração batendo como um tambor, colocou a sua na dele. Foi apenas um aperto de mãos, mas foi o primeiro contato consciente, intencional, carregado de um novo significado. Foi um pacto. O início de algo que ambos, em seus corações marcados, sabiam que era raro e precioso. A amizade havia florescido, assim como as orquídeas na varanda de Pedro, em algo muito mais profundo e, agora, declarado.

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Comments

Noely Souza

Noely Souza

tô amando ler 👏

2025-10-11

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