A rotina de mensagens e visitas rápidas ao café se estabeleceu como um novo e doce ritmo na vida de ambos. Era um jogo de aproximação cuidadosa, onde cada pequeno passo era medido e comemorado em silêncio. Pedro nunca ultrapassava os limites, e Mariana, aos poucos, baixava a guarda.
Cerca de três semanas após o casamento, numa terça-feira, Pedro apareceu no "O Sol" mais cedo, perto do horário de almoço. O movimento estava começando a aumentar.
— Bom dia — ele cumprimentou, com um sorriso que já era familiar e esperado.
— Bom dia, Pedro. O de sempre? — Mariana perguntou, já se movendo em direção à máquina de espresso.
— Na verdade, não — ele disse, surpreendendo-a. Ele parecia um pouco nervoso, ajustando o punho da camisa. — Eu tenho uma proposta um pouco diferente. Eu tenho uma reunião cancelada. E eu estava pensando… você almoça sempre aqui, no balcão, entre um pedido e outro?
A pergunta a pegou desprevenida. — Quase sempre. É mais prático.
— Isso não é um almoço, é um lanche acelerado — ele argumentou, gentilmente. — Eu conheço um restaurante italiano pequeno, a duas quadras daqui. A comida é caseira, o ambiente é tranquilo. Que tal fechar o café por uma hora e meia e vir almoçar comigo?
Mariana ficou paralisada. Um almoço. Fora dali. Era um salto enorme em relação a uma fatia de bolo no café vazio. Sua mente gritou todos os motivos para dizer não: o trabalho, a exposição, o que as pessoas poderiam pensar, o medo.
Pedro viu a hesitação em seus olhos. — É só um almoço, Mariana. Entre dois amigos. Nada mais.
A ênfase na palavra "amigos" era um salva-vidas. Ela respirou fundo. Quando foi a última vez que ela tinha feito algo assim? Algo só para ela?
— Eu… eu preciso avisar a minha funcionária, a Renata. Ela pode ficar no caixa por um tempo.
— Perfeito — ele disse, seu rosto iluminando-se. — Eu espero.
Vinte minutos depois, eles estavam sentados em uma mesa no canto do restaurante "Nonna Maria". O lugar era aconchegante, com toalhas xadrez e o cheiro inconfundível de alho e manjericão. Mariana se sentia um pouco deslocada, como se estivesse vestindo uma pele que não era a sua. Ela era a mulher do café, a mãe da Cecília. Quem era ela ali, almoçando com um homem atraente?
— Relaxa — Pedro disse, como se lesse seus pensamentos. Ele serviu um pouco de azeite no pratinho dela. — É só comida. Eu prometo que não morde.
Ela soltou uma risada nervosa. — É que… é estranho.
— Eu sei. Para mim também — ele admitiu, partindo um pedaço de pão. — Mas é um bom estranho, não acha?
Ela olhou para ele, para suas mãos fortes quebrando o pão, para a serenidade em seu rosto que agora parecia convidá-la a compartilhar daquela paz. E, lentamente, ela relaxou.
O almoço foi… maravilhoso. A comida era deliciosa, mas a conversa era o verdadeiro banquete. Eles falaram sobre tudo e nada. Pedro contou sobre sua paixão por cultivar orquídeas em sua varanda, um hobby que descobrira nos últimos anos. Mariana falou sobre o desafio de equilibrar os sabores no novo bolo de café e cardamomo que estava desenvolvendo.
— Você tem um paladar incrível — ele elogiou, após provar a lasanha que ele insistira para ela pedir.
— É prática — ela disse, encolhendo os ombros. — E um pouco de tentativa e erro. Muito erro, na verdade.
— Coragem — ele corrigiu. — É preciso coragem para tentar, errar e tentar de novo. Em tudo na vida.
O olhar deles se encontrou sobre a mesa, e a frase pairou no ar, carregada de um significado que ia além dos bolos. Ele estava falando dela. Da coragem que ela tinha tido para reconstruir a vida. E, talvez, da coragem que ela estava tendo naquele momento, sentada ali com ele.
Quando a conta chegou, Mariana insistiu para pagar a sua parte.
— Absolutamente não — Pedro disse, pegando a conta. — Eu que a convidei.
— Pedro, não precisa — ela protestou, sentindo-se constrangida.
— Eu sei que não preciso — ele respondeu, olhando-a nos olhos. — Eu quero.
A simplicidade da afirmação a desarmou completamente. Não era sobre cavalheirismo vazio. Era sobre desejo. O desejo de cuidar, de proporcionar aquele pequeno prazer.
Na volta para o café, caminhando sob o sol da tarde, Mariana sentiu uma leveza que não sentia há anos. A mão dela balançou ao lado da dele, e por um instante fugaz, ela imaginou como seria entrelaçar os dedos com os seus.
Em frente ao "O Sol", ele parou.
— Obrigado, Mariana. Foi a melhor pausa para almoço da minha história.
— Eu que agradeço, Pedro. Foi… realmente especial.
— Até logo? — ele perguntou, e era mais do que uma despedida. Era uma esperança.
— Até logo — ela confirmou, com um sorriso que vinha das profundezas do seu ser.
Ela entrou no café, onde a Renata a cumprimentou com um sorriso sabichão. O lugar cheirava a café e a pão de queijo fresco. Tudo era igual, mas nada era o mesmo. O almoço não tinha sido apenas uma refeição. Tinha sido uma declaração silenciosa. Pedro Moraes não queria ser apenas seu amigo. E, pela primeira vez em dezoito anos, Mariana Almeida não só sabia disso, como a possibilidade não a aterrorizava. Pelo contrário, a enche de uma antecipação deliciosa e aterrorizante. O medo ainda estava lá, mas agora ele tinha um rival poderoso: a esperança.
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Atualizado até capítulo 31
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