Capítulo II: O Caçador e a Presa

Ele desviou o olhar, pensando no que responder, então eu decidi antecipar um eventual pedido e por isso disse:

— E o que eu ganharia com sua companhia, além de um alvo extra para os bandidos?

Eu esperava teimosia. Um argumento, um toque ousado, talvez até que ele me prensasse contra uma árvore e me lembrasse com o corpo o que eu estava perdendo.

Não foi nada do que imaginei, a expressão no rosto de Lenk mudou. Ou talvez eu que estivesse enganada, algo que eu não soube decifrar no momento. Uma ponta de tristeza, talvez. Ele deu um passo para trás, e o calor de seu corpo se foi.

— Eu entendo — disse ele, a voz neutra. — Boa sorte, Wenya. E volte bem.

Lenk fez uma pausa, e as próximas palavras me atingiram ainda mais, esfriando o calor que pulsava entre minhas pernas. E ele prosseguiu:

— Minha namorada... ela engravidou. Quero que seja a madrinha da criança.

O mundo parou. Madrinha. Criança. Namorada.

As palavras ecoaram em minha mente e eu fiquei sem respostas. Eu estava tentando me preparar para um jogo de sedução, para uma luta de vontades que talvez terminasse com minhas saias levantadas na beira da estrada. Não estava preparada para aquele pedido. A banalidade esmagadora da vida seguindo em frente. Ele não estava ali por mim. Ele estava ali por um último adeus antes de abraçar um futuro do qual eu não fazia parte da forma que havia imaginado.

Ele sorriu de leve, depois se virou e começou a caminhar de volta para a cidade. Para sua nova vida.

Fiquei ali, parada, observando-o se afastar. Cada passo dele me fazia pensar em uma palavra para me definir naquele momento: Sozinha. Mas por baixo da dor, uma nova ideia, perigosa e libertadora, começou a brotar. A menção da gravidez acendeu um alerta. Engravidar traria consequências. A jornada à minha frente prometia sangue, mas talvez também momentos de calor, de prazer.

A fala dele, provocação ou não, havia despertado uma fome, e mantive aquilo em mente. O prazer, sim. As consequências, jamais.

Balançando a cabeça, forcei-me a seguir em frente. O passado estava para trás. O futuro, a leste.

Retomei. E ainda estava perto, mas nem pensava em voltar. Minha caminhada seguiu em passos firmes. Foi quando o instinto gritou.

Um som arrastado na vegetação. Parei, a mão no punho da "Herança". E então, eu a vi. Uma mosca do tamanho de um lobo, de um roxo doentio. A cor não me dizia outra coisa que não fosse veneno.

Com a espada em mãos, comecei a circular a criatura, cautelosa.

— Tola! Se afaste! — A voz, grave como o ranger de pedras, veio de trás de um pedregulho. Era uma voz de comando, uma voz que causou arrepios, era algo que eu não esperava logo após encontrar uma criatura venenosa.

No mesmo instante, o monstro começou a inchar. Uma baba verde e fumegante escorreu de suas mandíbulas. O homem estava certo. Explodi em movimento, correndo para escapar do veneno.

Foi quando o ar zuniu.

Uma flecha precisa atravessou o ar e perfurou o tórax do monstro, pregando-o no chão com certa força. A criatura estremeceu e... morreu.

Parei, o coração martelando. Ele salvara minha vida. Abaixei a espada, mas não a guardei.

— Você tem minha gratidão — minha voz soou firme. — Pode se mostrar?

Ele deu um passo para fora da sombra, e o ar pareceu ficar mais denso com sua aura.

Meu fôlego ficou preso na garganta. Era um homem... bonito e gostoso, um monte de músculos e poder contido sob uma armadura de couro que parecia prestes a ceder. O maxilar era uma linha dura e teimosa, e os olhos... ah, os olhos eram de um azul que prometia tempestades. Por um instante, esqueci do monstro morto, da estrada, da minha missão. Meu corpo reagiu a ele de uma forma completamente diferente. Um calor baixo, uma pulsação que me lembrou que eu era feita de carne e osso e tudo mais que ele quisesse.

Ele parou a poucos metros, sua presença uma força calma e letal. E eu notei. Mesmo à distância, através das calças de couro justas, eu notei o volume do seu pau. Uma promessa pesada e grossa que fez minhas coxas se apertarem involuntariamente. E o loiro disse:

— Loirinha, da próxima vez que ver um desses, ou ataca logo ou fica protegida. Eu me chamo Enryc.

"Loirinha". A palavra deveria me irritar, mas vinda daquela boca, soou como uma carícia áspera.

Guardei a "Herança", sentindo o olhar dele seguir cada movimento meu.

— Wenya — respondi, meu tom mais direto do que eu me sentia. — Sua lição é válida, Enryc. E sua flecha, certeira. Minha gratidão é sincera.

Meu olhar encontrou o dele, e senti um choque elétrico. Ele não me olhava como os guardas do portão. Ele me olhava como uma igual, como uma presa que ele ainda não tinha decidido se iria caçar ou proteger. Perguntei:

— Você parece conhecer bem estas estradas. Está viajando para o leste também?

Ele me observou por um momento, um sorriso quase imperceptível curvando seus lábios, para então dizer:

— Na verdade não, eu só estava de passagem — respondeu ele, casualmente. — Vi o monstro e te vi caminhando, decidi ver o que acontecia. Por que a pergunta?

A resposta era lisa demais. Ele estava me testando. Um jogo de palavras e de poder se desenrolava ali, e senti um arrepio de excitação.

— Porque homens com sua habilidade não costumam estar "de passagem" onde monstros como este aparecem — afirmei, a voz neutra. — E porque a estrada para o leste é longa. Companhia pode ser a diferença entre a vida e a morte.

Fiz uma pausa, deixando a oferta implícita pairar no ar.

— Mas se seu caminho é outro, então só me resta agradecer novamente.

Com um leve aceno, comecei a me virar, um movimento deliberado para testá-lo.

— Nossa, cuidado com essa personalidade viu.

A voz dele veio pelas minhas costas, pingando sarcasmo.

— Eu estava indo para Germânia. Boa viagem pra você, senhora grosseira.

Parei. "Senhora grosseira." A acusação me fez cair em si. Minha cautela soou como arrogância. Lentamente, virei-me para encará-lo. O orgulho gritava para que eu seguisse, mas a imagem daquele volume em suas calças e a profundidade daqueles olhos azuis me fizeram engolir o orgulho.

— Minhas desculpas, Enryc — falei, forçando a sinceridade em minha voz. — Você está certo. Fui grosseira. Onde eu vou, a desconfiança é uma armadura. Às vezes, esqueço de tirá-la.

Meu olhar encontrou o dele, voltei a falar.

— Você salvou minha vida. Eu te devo mais do que suspeitas. Se seu destino é Germânia, que sua viagem seja segura.

Ofereci a ele um aceno de cabeça genuíno. Desta vez, eu não me virei. Esperei. O silêncio se estendeu, e eu podia sentir seus olhos me avaliando, percorrendo meu corpo mais uma vez, como se estivesse me despindo ali mesmo, sob o sol da manhã. E uma parte de mim, a parte que Lenk havia despertado, desejava desesperadamente que ele o fizesse.

Continua...

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Comments

Edna César

Edna César

pervertida 😅😅😅😅

2025-10-23

1

Edna César

Edna César

mas que babaca

2025-10-23

0

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