A DAMA DE PRETO
Eu sou Helena Duarte.
Tinha apenas oito anos quando ele entrou na nossa vida e arruinou tudo. Nunca esquecerei o rosto dele: um homem velho, com cerca de 65 anos, cabelos grisalhos e olhos frios como gelo. Sua presença carregava algo sombrio, e naquela noite, ele levou minha mãe embora.
De repente, me vi sozinha, perdida nas ruas estreitas e frias de Marselha. O vento carregava o cheiro do mar misturado à fumaça de lareiras e pão recém-assado, mas nada disso acalmava o desespero no meu peito. Cada sombra parecia maior, cada ruído era uma ameaça.
Minha casa, que antes parecia segura e acolhedora, agora era apenas um vazio que ecoava com a ausência de minha mãe. Eu estava sozinha, sem ninguém para me proteger.
E naquele momento, algo dentro de mim mudou. Não era mais a menina ingênua que corria pelos jardins da infância. Eu me tornei vigilante do meu próprio destino, uma criança forjada pela perda e pelo medo. A dor se tornou minha companheira silenciosa, e o mundo, um lugar frio que eu precisava aprender a enfrentar sozinha.
Foi em uma noite chuvosa que conheci Lázaro.
Ele parecia ter cerca de trinta anos, cabelos escuros desgrenhados e olhos que carregavam um cansaço profundo, mas também algo instável, imprevisível. Sempre andava com um cheiro de bebida no ar, cambaleando como se o mundo estivesse sempre prestes a derrubá-lo. E, pelo que percebia, tinha a mão leve entre os bolsos das pessoas, sem se importar com ninguém.
Naquela noite, eu estava encostada na parede de uma viela estreita, tentando me proteger da chuva que caía com força, quando um outro bêbado, maior e mais agressivo, me cercou. Meu coração disparou. Cada passo dele parecia empurrar a escuridão mais perto de mim.
Então Lázaro apareceu. Sem pedir nada, sem hesitar, ele empurrou o homem para longe. Sua força e coragem me surpreenderam, e mesmo bêbado, seus olhos estavam fixos em mim, vigilantes. Foi a primeira vez que alguém me defendeu desde a morte de minha mãe.
Naquela noite, sob a chuva e o frio, algo em Lázaro me chamou atenção. Ele era perigoso, imprevisível, mas também parecia entender a solidão que eu carregava dentro de mim. E, sem perceber, comecei a depender de sua presença, mesmo sabendo que o mundo que ele habitava podia ser tão cruel quanto aquele que me havia deixado órfã.
Foi quando Lázaro me apresentou a Estela, uma senhora de 45 anos. Ela morava em cima de um bar antigo, com janelas sempre embaçadas pela fumaça e pelo vapor da cozinha. Estela tinha mãos fortes e olhar cansado, mas ao mesmo tempo acolhedor, como se soubesse que cada cicatriz carregava uma história de sobrevivência.
Ela me recebeu sem muitas perguntas, apenas oferecendo um cobertor e um pedaço de pão. Naquele momento, pela primeira vez desde que perdi minha mãe, senti um pouco de segurança. O bar embaixo dela era barulhento e cheio de pessoas estranhas, mas a casa era pequena e quente, com cheiro de café e temperos.
Nos dias que se seguiram, Estela me ensinou pequenas coisas sobre a vida nas ruas, como me proteger, como pedir ajuda sem chamar atenção, e até como desconfiar das pessoas que pareciam amigas mas poderiam ser perigosas. Lázaro aparecia de vez em quando, sempre bêbado, sempre com histórias confusas, mas era ele quem me mantinha firme quando a noite ficava especialmente cruel.
Eu ainda era apenas uma menina, mas já começava a aprender que o mundo era feito de sombras e sobrevivência, e que a força vinha de dentro, mesmo quando tudo ao redor parecia desmoronar.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 17
Comments
Carolina Luz
nossa ela é uma criança ainda, tendo que se virar sozinha na rua,sem família sem ninguém que triste 😔🥺
2025-10-09
0