Entre Salas e Assinaturas

— Ah, perdoe-me — disse a alfa diante de mim, erguendo o queixo com elegância. — Ainda não me apresentei como deveria. Meu nome é Sandra Monteiro, reitora desta instituição.

Seu nome soou firme, como um selo de autoridade, daqueles que ecoam não apenas nos ouvidos, mas também no ar, como se cada parede do campus já o conhecesse.

Segui ao lado dela enquanto caminhávamos pelos campos externos. A cada passo, Helena apontava direções, descrevia edifícios e espaços com a clareza de quem conhecia cada pedra sob os pés.

— Ali fica o jardim central. Muitos alunos gostam de passar o tempo entre as aulas, embora… — ela lançou-me um olhar enviesado — aconselho a sempre estar atenta aos alfas mais impetuosos. Nem todos têm autocontrole.

Assenti em silêncio, absorvendo cada detalhe, como se cada palavra dela fosse uma linha de aviso em um mapa secreto.

Quando atravessamos as grandes portas de madeira da entrada principal, fui engolida pelo coração da faculdade. O corredor interno se abriu diante de mim, imenso, com armários alinhados dos dois lados, onde vozes e risadas ecoavam. Acima, escadas se entrelaçavam, levando a andares que pareciam não ter fim. O lugar inteiro vibrava com energia, como se cada passo meu fosse apenas uma gota no rio de histórias que já corriam por ali há anos.

Sandra seguiu com passos firmes, apresentando-me cada sala que eu frequentaria:

— Aqui será sua sala de Literatura Clássica. —

— Esta, a de História Moderna. —

— Ali, as Ciências Sociais. —

Cada porta aberta revelava um futuro possível, e eu me sentia pequena diante da grandiosidade das promessas que aquele prédio guardava.

Por fim, chegamos a uma porta maior, ladeada por brasões da instituição. A placa dourada reluzia discretamente sob a luz dos vitrais: Reitoria.

Sandra empurrou a porta com naturalidade e fez um gesto para que eu entrasse.

— Senhorita Calliope, antes de qualquer outra coisa, precisamos finalizar sua matrícula e assinar alguns papéis do curso. — Sua voz era firme, mas havia nela um tom mais suave, quase maternal. — Depois disso, estará oficialmente pronta para iniciar sua jornada aqui.

Atravessei a porta, sentindo um arrepio percorrer minha espinha.

Não sabia se era apenas nervosismo… ou se já pressentia que cada assinatura seria como um pacto com o destino

Sandra Monteiro me observava enquanto eu me sentava à pequena mesa da reitoria. O ar era pesado com autoridade, mas também carregava aquele aroma inebriante que a tornava difícil de ignorar.

Ela abriu a pasta com os papéis do meu curso e, olhando para mim com seus olhos firmes, perguntou:

— Calliope… você tem algum parceiro? Alfa ou ômega?

Levantei o olhar, arregalando os olhos por um instante em reprovação silenciosa. Como assim? Aquela pergunta… tão direta.

Antes que eu pudesse responder, Clara continuou, num tom quase apologético:

— É protocolo. Precisamos deixar os alfas cientes, nada pessoal.

Suspirei, inclinando levemente a cabeça.

— Não, e não pretendo ter — disse firme, sem hesitar.

Ela anotou algo rapidamente, sem demonstrar surpresa, mas com uma atenção que me fez franzir a testa.

Então, sua voz mudou, tornando-se mais inquisitiva:

— E seus ciclos de cio…?

Um calor inesperado subiu pelo meu rosto, e senti meu corpo instintivamente encolher de constrangimento.

— Eu… não tenho ciclos de cio — murmurei, desviando o olhar.

Sandra levantou uma sobrancelha, intrigada.

— Como assim?

Respirei fundo, tentando explicar sem parecer insolente.

— Não sinto nenhuma atração por nenhum alfa. Pelo contrário… alguns aromas fortes me causam repulsa.

Por um instante, ela pareceu quase ofendida. Seus olhos brilharam como se quisesse me corrigir, me ensinar o que era natural. Mas, com cuidado, continuou, quase baixando a guarda:

— E… o meu aroma… te incomoda?

Olhei diretamente para ela, sentindo o contraste do perfume que me envolvia e a honestidade da pergunta.

— Não — respondi, com firmeza. — O seu não me enoja.

Houve um instante de silêncio, carregado de tensão e curiosidade mútua. Eu podia sentir que ela ponderava minhas palavras, tentando entender a exceção que eu representava dentro de regras que pareciam tão claras para todos.

E naquele momento, percebi que Sandra Monteiro não era apenas uma reitora autoritária. Ela era alguém capaz de perceber nuances que outros alfas jamais notariam.

E talvez, apenas talvez, fosse a primeira pessoa que poderia compreender que eu não era uma ômega comum.

Assinei os últimos formulários com cuidado, cada letra um pequeno ritual de oficialização. Clara Monteiro observava cada movimento meu, seus olhos atentos, medindo minha postura e calma.

— Muito bem, Calliope — disse ela, fechando a pasta com um clique firme. — Agora, oficialmente, você é parte desta faculdade.

Respirei fundo, sentindo o peso e a novidade da responsabilidade pousar sobre meus ombros. Cada assinatura não era apenas burocracia; era um passo em direção a um mundo que eu ainda precisava aprender a navegar.

Ela me lançou um leve sorriso.

— Venha, vou levá-la de volta ao alojamento. É hora de você conhecer seu espaço e, claro, evitar se perder novamente.

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