Um Amor de Outro Mundo

Um Amor de Outro Mundo

Lendas.

"Existe uma lenda que diz que a milhares de anos atrás em um reino já esquecido, uma camponesa deu à luz a três meninas. Nesse mesmo dia, uma bola de fogo cruzou os céus fazendo a noite virar dia.

Muitos adivinhos da época, ligados ao imperador, alegaram que aquele acontecimento indicava boa sorte, para outros, mau presságio. Sem saber em quais informações acreditar, o imperador ordenou que fossem investigados acontecimentos anormais por todo seu território.

Dias mais tarde, a notícia do nascimento das três meninas veio a seu conhecimento. Intrigado com tais coincidências, o Imperador convocou a família das crianças ao palácio. Lá, a sorte delas foi lida.

A primeira menina, foi dito, que viveria até os 12 anos.

A segunda, que se casaria com um grande homem, mas não teria filhos.

A terceira, que teria um bom casamento e teria um filho, mas que esse filho poderia ser a salvação do império, como a destruição dele.

Diante de tais revelações, o imperador, intrigado com o destino das gêmeas, resolveu acolher a família. Deu-lhes casa, trabalho e comida.

Como previsto, aos 12 anos a primeira faleceu devido a uma doença séria. A segunda se casou assim que completou seus 16 anos, ela era muito feliz em seu casamento, mas após um aborto espontâneo, foi constatado que ela não poderia mais ter filhos. A terceira, acabou se casando com o próprio Imperador após completar seus 20 anos e teve um filho com ele, um menino.

Mas nem todos viram essa criança com bons olhos, ou carisma. Por ser filho de uma concubina de baixo nível, o Rapaz cresceu tendo que suportar muitos momentos ruins, humilhação e fofocas. Porém, o Imperador e Sua mãe, sempre estiveram presentes em sua vida, lhe dando amor e carinho.

Conforme o rapaz cresceu, mostrou ser digno de continuar o legado do pai por várias vitórias no campo de batalha e sabedoria em situações de raciocínio. E, com isso, acabou assumindo ao trono.

Mas, nas sombras, algo maligno se escondia, apenas esperando o momento de aparecer.

Com forças sobrenaturais, exércitos desconhecidos começaram a ameaçar o império, pondo à prova todo o conhecimento do jovem imperador. Foram anos de batalhas intensas ao que os humanos chamavam de demônios devido suas forças sobrenaturais e suas aparências horripilantes.

A lenda diz que o Imperador (o filho da terceira menina) naquela época, recorreu a métodos sobrenaturais a uma grande bruxa da floresta pela liberdade e vida de seu povo, trazendo vitória ao reino.

Mas o combinado não sai caro. Certa noite, vagando pelo jardim do palácio, o jovem se deparou com uma forte luz, e com isso ele caiu sem vida.

A lenda termina dizendo que, mesmo o Imperador tendo dado a vida para salvar seu império, ele também a destruiu, já que morreu sem deixar herdeiros. Permitindo aos inimigos do império, grandes invasões em escala, levando assim, a distribuição do que ele morreu para proteger. E que por isso, a alma de todos que se sacrificaram em batalha não dormem, vagando eternamente pelas florestas onde as grandes batalhas foram forjadas."

Mas para Mirha, as lendas eram meras invenções, boatos sem pé nem cabeça que o tempo insistia em perpetuar. "Se um ser assim realmente existisse, alguém já teria tropeçado nele pelas estradas ou nas matas", ela comentou, sua voz carregada de um cansaço resignado antes de depositar um beijo rápido na testa de sua avó e se erguer da mesa de jantar na cozinha. "Isso é só uma história para assustar as crianças e mantê-las longe da floresta, só isso." E com um último aceno, ela se dirigiu à pia, pronta para enfrentar a louça.

Mirha, aos dezoito anos, não ostentava uma beleza convencional. Seus cabelos eram um emaranhado de cachos cheios e indomáveis, suas bochechas marcadas por sardas joviais, e sua compleição era magra, quase esguia. Atualmente, ela dividia seu tempo entre o hospital da cidade, onde trabalhava como residente, e o pequeno lar que compartilhava com sua avó. Uma senhora idosa, dotada de uma memória prodigiosa para histórias antigas, cujos contos, no entanto, eram temperados por um espírito teimoso e uma inclinação para implicâncias que Mirha bem conhecia.

"Talvez você tenha razão, querida", a avó respondeu, a voz soando mais como um murmúrio rouco, enquanto recolhia os pratos e talheres sujos da refeição que acabara de terminar. "Mas não acha que mesmo as histórias mais fantasiosas precisam ter um ponto de partida? Algo que as fez nascer?"

"Não, vovó. Acho que não.", disparou Mirha, a água morna da torneira lavando os resquícios de comida dos pratos. "Forças sobrenaturais? Homens que desafiam a natureza? Uma luz branca que extingue a vida?" Ela fez uma pausa em meio à tarefa, buscando um escorredor entre os potes e panelas no armário da cozinha, um sorriso maroto brincando nos lábios. "Convenhamos, é um pouco ridículo para se levar a sério", ela concluiu, o sorriso se alargando.

A idosa, que observava a neta com um olhar que misturava afeto e uma pacífica discordância, soltou um suspiro discreto. Levantou-se da mesa, escutando o tilintar suave da louça sendo acomodada na pequena pia de mármore, deixando a tarefa final para Mirha. Ela não insistiu no assunto. Sabia que a resistência da neta era mais uma demonstração de sua praticidade do que uma falta de respeito. Mirha, por sua vez, também não trouxe o assunto de volta, mergulhando de volta na rotina da limpeza, sua postura reafirmando o ceticismo que a definia naquele momento.

A noite já havia se instalado completamente sobre a 'pequena' cidade, um aglomerado de casas e ruas tranquilas que Mirha chamava de lar. Para ela, fora mais um dia sem plantão no hospital, um dos raros momentos de calmaria em sua agenda corrida. Mirha era uma jovem de natureza simples, que encontrava contentamento nas pequenas alegrias e não almejava riquezas materiais. Sua escolha pela medicina não fora um acaso; fora motivada por dois pilares principais: honrar o sonho de sua mãe, já falecida, e adquirir o conhecimento e a sabedoria necessários para cuidar de sua avó com toda a atenção e carinho até que chegasse o inevitável momento da partida da idosa.

Ouvir as histórias de sua avó era, de certa forma, como embarcar em uma máquina do tempo, uma viagem que a transportava de volta à infância. Era um momento precioso, apesar das constantes tentativas da avó em convencê-la da veracidade literal de cada conto, algo que Mirha sempre recebia com um misto de diversão e ceticismo.

Com a cozinha finalmente arrumada e reluzente, Mirha subiu as escadas, o piso de madeira rangendo suavemente sob seus pés descalços. Entrou em seu quarto e se jogou na cama, o corpo exausto cedendo ao colchão macio. Sua mente, porém, continuava agitada, um turbilhão entre as preocupações com os pacientes que acompanhava no hospital e as ansiedades rotineiras sobre o bem-estar de sua avó. Foi nesse estado de semi-transe que seu celular emitiu um bipe vibrante, anunciando uma chamada recebida.

"E aí, magrela? Fazendo o quê de bom?", a voz familiar e jovial de Laumá ecoou do outro lado da linha, quebrando o silêncio do quarto.

Laumá, uma ex-colega de quarto da faculdade, era o oposto de Mirha em muitos aspectos. Loira, com longos cabelos que caíam em cascata sobre os ombros, pele clara e um voluptuoso busto, ela personificava uma energia vibrante que contrastava com a serenidade mais contida de Mirha.

Mirha revirou os olhos, um sorriso involuntário curvando seus lábios. "Oi, Laumá. Acabei de me deitar e você?", respondeu, a exaustão evidente em seu tom de voz, um tom que parecia arrastado e pesado.

"Nossa, que voz é essa? Parece que você passou o dia arrecadando materiais de construção!", brincou a amiga, surpresa com a intensidade do cansaço na voz de Mirha.

"Estou exausta, só isso. Vovó me fez limpar a casa inteira hoje, de cima a baixo, como se fôssemos abrir uma nova estância turística. Começo a acreditar que trabalhar em plantão no hospital seria menos torturante.", desabafou Mirha, cobrindo os olhos com um braço na tentativa inútil de bloquear a luz fraca que entrava pela janela.

Laumá riu do outro lado da linha. "Sua casa é tão pequena, Mira! Como pode se cansar tanto só limpando? Você exagerada!", implicou a amiga, a voz tingida de divertimento.

"Ah, você não sabe o que é ter uma avó acumuladora igual à minha! Com ela, cada canto se transforma em um acervo de quinquilharias a serem polidas e organizadas. Tente fazer isso, e com certeza você vai mudar de ideia sobre o que é cansativo.", retrucou Mirha, um sorriso genuíno agora pintando seu rosto ao relembrar algumas das 'aventuras' domésticas com a avó.

Alguns minutos de conversa se esticaram em quase uma hora, recheados de risadas, desabafos rápidos e fofocas triviais sobre a vida na cidade e os colegas da faculdade. Finalmente, ambas se despediram, prometendo um café ou um jantar nos próximos dias. O resto da noite era para o descanso merecido, pois o dia seguinte já se anunciava... interessante.

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