Chegar ali foi inacreditável. O complexo era enorme, limpo, organizado… mas, acima de tudo, me senti segura pela primeira vez em dias. Meus olhos correram pelos rostos das pessoas presentes.
Uma mulher igual a Helena, só que diferente, irradiando luz: Martina, linda e claramente grávida, sorrindo de um jeito que gerava esperança. Bella, a morena de olhos claros, parecia triste, carregando um peso silencioso. Sara conversava com outra moça, Aurora, enquanto Livia observava de longe. Consegui lembrar os nomes de todos — ser observadora era algo que sempre quis ser, parte daquilo que aspirava como futura advogada.
As mulheres mais velhas vieram até mim, todas com gestos maternais: Maria, Lavínia, Serena. E havia também Samira, Luna e Marisa, que apenas observavam, sérias, com olhares medindo cada movimento. Os homens… esses me causavam medo, impondo respeito sem esforço.
Quando os homens começaram a se reunir no escritório, as mulheres se aproximaram em pequenos grupos, baixinho, trocando olhares preocupados:
— Você não precisa ter medo, vai ficar segura — falou Martina, segurando a própria barriga.
— Com Heitor por perto, sim — respondeu Serena, com firmeza, mas a preocupação era evidente nos olhos.
— Ele parece tão jovem… será que é suficiente? — murmurou Livia, ainda observando a porta do escritório.
— Ele sabe o que faz — disse Maria, passando a mão no braço de Martina. — Confiem.
Ficaram alguns minutos conversando assim, todas tensas, protetoras, enquanto esperavam a saída dos homens.
Finalmente, Heitor saiu do escritório. Caminhou até mim, expressão séria, mas o olhar dizia que enquanto ele estivesse comigo, estaria segura.
— Vamos para outro lugar — disse baixo, quase para si mesmo, mas firme. — Pela cara deles, não me quiseram ali… mas tudo bem. Contanto que eu esteja com você, estarei segura.
Senti um alívio indescritível e me segurei na certeza de que ele não me deixaria sozinha.
Logo atrás de nós, Leonardo entrou, postura ereta, olhar cortante. Ergueu a mão pedindo silêncio, e todos os murmúrios cessaram instantaneamente.
— Atenção — disse ele, voz firme, ecoando pelo salão. — A partir de agora, ninguém está autorizado a sair sem meu consentimento direto.
Todos se entreolharam, mas ninguém ousou interromper.
— As mulheres devem permanecer seguras dentro do complexo — continuou, encarando cada rosto. — Tamisa… — parou, olhando diretamente para mim — é irmã de Matheo. Mas ficará sob a proteção de Heitor até que essa ameaça acabe.
— Por que ela não fica aqui? — Helena questionou, franzindo a testa.
— Porque a ameaça é direta a ela — respondeu Leonardo, firme. — Fica óbvio que ela estaria aqui. É mais seguro para ela… e para vocês, que ela esteja em outro lugar.
Eu engoli em seco, sentindo o peso da decisão, mas também um estranho conforto. Saber que Heitor estaria comigo era suficiente. Segurei firme a mão dele, enquanto saíamos do salão, preparada para o que viesse, mas, pela primeira vez, sentindo que havia alguém de verdade me protegendo.
Entramos no carro.
O ronco do motor parecia baixo demais para a ansiedade que eu sentia. Heitor estava ao volante, a postura rígida, o olhar atento à rua, e eu sentada ao lado, observando cada detalhe do carro, tentando organizar pensamentos que insistiam em girar como um turbilhão.
— Heitor… — comecei, a voz hesitante — eles não me quiseram lá, né?
Ele lançou um rápido olhar pelo espelho lateral, depois voltou o foco para a estrada.
— É mais complicado que isso — respondeu com calma, mas firme. — Muitos chegaram assim… e na verdade eram traidores. Leonardo, como futuro Don, precisa investigar tudo pelo bem da família. É um protocolo. Por mais que eu odeie admitir, ele estava certo.
Suspirei, tentando absorver a informação.
— Então ele manda em tudo? — perguntei, ainda com o coração acelerado.
Ele desviou o olhar para mim, a expressão séria, quase severa.
— Na hierarquia da máfia, sim, e ele é bom. Ainda não manda completamente, porque está solteiro. Mas assim que casar, será definitivo. — A voz dele tinha aquela autoridade que fazia tudo parecer certo, mesmo que a cabeça ainda questionasse.
Assenti devagar, tentando entender a lógica daquele mundo que parecia tão distante do meu, mas que agora me cercava por todos os lados.
O carro subiu a última rua inclinada, e então a fachada da cobertura apareceu diante de mim.
Era gigantesca. Cada janela refletia o céu da cidade, o vidro brilhando como se guardasse luz própria. As portas enormes, o portão elegante… era inacreditável. Meu coração bateu mais forte, uma mistura de assombro e alívio.
— Uau… — murmurei, quase sem acreditar. — É… enorme.
Ele desviou o olhar por um instante, notando meu encantamento, e depois voltou a atenção à entrada.
— Aqui você estará segura — disse, firme, mas com uma ponta de suavidade na voz que me fez confiar ainda mais.
E enquanto o carro avançava lentamente pelo portão, senti que, por mais que tudo fosse estranho e perigoso, estar ao lado dele me dava uma sensação que eu nunca tinha conhecido: uma proteção real, palpável.
Ele abriu a porta do automóvel, e o tapete parecia convidar a entrar em um mundo que eu nunca imaginei existir. Heitor me fez sinal para segui-lo, cada passo dele era seguro, confiante, e eu mal conseguia acompanhar a quantidade de detalhes que meus olhos queriam absorver.
— Vamos ficar aqui alguns dias — disse ele, a voz calma, mas firme.
Meu coração quase parou. Ficar aqui? Alguns dias? Eu olhei para ele, incrédula.
— Como… aqui? — perguntei, a surpresa escapando na voz. — Mesmo?
Ele sorriu, aquele sorriso tranquilo, meio misterioso, mas cheio de segurança.
— Sim. — assentiu. — Mas não precisa se preocupar. Você está segura, e… bem, eu sou uma boa companhia.
Senti um calor diferente no peito. Por mais que tudo fosse novo, estranho e enorme demais, só ouvir que ficaríamos ali, que estaria protegida, que ele estaria comigo… isso me deu uma sensação que eu não sentia há muito tempo: calma.
Enquanto ele me guiava pelos corredores, mostrei o olhar para cada detalhe: móveis elegantes, quadros que pareciam guardar histórias, luzes quentes refletindo em cristais. Mas por mais que tudo fosse luxuoso, o que mais me prendia era o som das palavras dele ecoando na minha mente: “Ficaremos aqui”.
— É… inacreditável — murmurei, sem conseguir desviar os olhos de nada. — Nunca imaginei…
Ele se aproximou, discretamente, e completou:
— Você merece ver que, além da dor e da luta… existe um lugar assim.
E naquele momento, por mais que eu quisesse me perder em tudo aquilo, o que mais importava era que ele estava ali, ao meu lado, e que, finalmente, eu podia respirar sem medo.
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Atualizado até capítulo 36
Comments
Marilia Carvalho Lima
👏👏
2025-09-24
0
Andrea Freire
🥰
2025-09-23
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