Ela estava exausta, os olhos semicerrados, a respiração ainda trêmula. Ao ajudá-la a se sentar na suíte, percebi cada hematoma, cada marca que falava mais alto que qualquer palavra. Meus dedos tocaram a pele com cuidado, tentando não causar dor, apenas avaliando o alcance da violência que ela havia sofrido.
— Isso vai doer um pouco — murmurei, entregando-lhe os remédios. — Mas vai ajudar.
Ela assentiu, o olhar pesado de cansaço e dor. Enquanto ela os tomava, fui até a banheira e comecei a enchê-la com água morna. A fumaça subia devagar, e eu podia sentir que ela observava cada movimento meu, talvez se perguntando se podia confiar.
— Vou te ajudar a entrar — disse baixinho, tentando soar natural, mas atento a qualquer reação dela.
Com cuidado, apoiei-a enquanto ela sentava na água, sentindo cada tensão do corpo dela se dissolver aos poucos. Olhei novamente para os hematomas, contornei cada um com os dedos, avaliando, como se o toque pudesse aliviar algo que ninguém mais conseguira.
Depois, fui pedir comida — simples, nutritiva — e, quando voltei, expliquei que estávamos indo para um lugar seguro. Um refúgio onde ninguém poderia machucá-la, pelo menos enquanto eu vivesse.
— Heitor… — ela sussurrou, a voz ainda fraca, mas curiosa. — O que você quer em troca disso?
Sorri de leve, tentando tranquilizá-la, meu olhar firme e sincero.
— Eu não sou um abusador — disse, firme. — Não quero nada além de te ver em segurança. Só isso.
Havia um peso nas palavras, uma verdade que queria que ela sentisse. A confiança não vinha fácil, eu sabia disso, mas a forma como ela me olhava agora mostrava que, pela primeira vez em dias, talvez sentisse que alguém real se importava, talvez nunca tenha vivido tanto cuidado, carinho e atenção, em contraste com as meninas da nossa família vinha ela, se contentando com o mínimo para sobreviver.
Ela respirou fundo, fechou os olhos por um instante, e finalmente pareceu relaxar. E eu permaneci ali, quieto, observando, pronto para protegê-la do que viesse — sem pedir nada em troca.
Ela segurava o prato com mãos trêmulas, olhando para a comida como se fosse um pequeno refúgio. Aos poucos, começou a falar, baixinho, quase para si mesma:
— Junior… ele… me humilhou tantas vezes… e Hector… — a voz dela quebrou, e uma lágrima escorreu. — Cada corte, cada hematoma… parecia que não ia acabar nunca.
Eu me aproximei, sentando ao lado dela, e observei cada gesto, cada pingo de dor.
— Eu sei… — murmurei. — Eu sei que foi muito… mas você está aqui agora. Segura.
Ela respirou fundo e, entre soluços, continuou:
— Eu… eu achava que nunca ia escapar disso. Que tudo que eu queria, minha vida, seria só dor.
— Olha para mim — disse, suave, sem pressa. — Você não está mais sozinha. Eu estou aqui.
Ela me olhou com olhos molhados e soltou um pequeno riso amargo.
— E você… quem é você de verdade? — perguntou, ainda trêmula.
Suspirei, tentando colocar em palavras o que sentia.
— Eu sou Heitor. Rossi de coração e Marchese de sangue. — dei uma pausa, percebendo que ela precisava entender. — Os Rossi são a família mais poderosa da Itália, os Marchese também. E os Hunters, nossos aliados, são advogados influentes, assim como os Romano. — Sorri de leve. — Sabe, toda essa força, todo esse poder, parece assustador… mas é para proteger pessoas como você, somos uma família que vai além do sangue.
Ela sorriu, pequeno, frágil, e algumas lágrimas ainda escorriam pelo rosto.
— Então… além da pobreza, da dor e dos abusos… existe algum lugar bom para mim? — ela perguntou, a voz quase um sussurro.
— Existe — respondi firme, mas com calma. — Um lugar lindo. E se você se permitir, vai ver isso com seus próprios olhos. Você vai sentir que a vida pode ser mais do que o que eles te fizeram acreditar.
Ela respirou fundo, limpando as lágrimas, e eu coloquei minha mão sobre a dela, firme, mas sem pressão.
— Eu… quero acreditar — murmurou, hesitante.
— Então acredite — disse. — Somente um passo de cada vez. E eu estarei aqui para cada um desses passos.
Ela deixou escapar um pequeno choro, desta vez de alívio, e se recostou levemente, começando a comer com mais calma. O silêncio entre nós era confortável, protegido, e senti que, mesmo em meio ao caos que ela havia vivido, talvez finalmente visse uma esperança.
A suíte do jato estava silenciosa, apenas o zumbido baixo dos motores preenchendo o espaço. Tâmisa dormia no sofá-cama improvisado, enrolada no cobertor, os olhos fechados, mas o corpo ainda tenso, resultado de dias de medo e dor. Eu estava sentado ao lado, o celular iluminando meu rosto enquanto conferia algumas mensagens e detalhes sobre nossa chegada, garantindo que nada fosse deixado ao acaso.
Então ouvi o primeiro som: um soluço abafado, quase imperceptível.
Olhei para ela. A testa franzida, as mãos apertando o cobertor, os lábios tremendo. Um pesadelo. Meu estômago se contraiu.
— Tâmisa — sussurrei, inclinando-me para frente. — Acorda.
Ela se sacudiu, chorando baixinho, e meus instintos me fizeram envolvê-la com cuidado, a puxando para perto de mim. Seus braços se enrolaram ao meu pescoço como se o mundo pudesse realmente acabar a qualquer momento.
— Shhh… — murmurei, acariciando seu cabelo. — Está tudo bem agora. Você está segura.
Ela apertou os olhos contra o meu peito e, entre soluços, murmurou:
— Parece que nunca mais vou ter paz…
Senti um aperto no peito. Cada palavra dela carregava o peso de tudo que ela sofreu, tudo que ainda carregava. Mas segurei firme, transmitindo força, mesmo que por dentro eu quisesse arrancar cada ferida do passado dela.
— Vai ter — respondi com firmeza, mas com a voz suave. — Pode não parecer agora, mas vai. E enquanto eu estiver aqui, ninguém vai te machucar. Ninguém.
Ela se enroscou ainda mais em mim, os soluços diminuindo aos poucos, e percebi que, naquele momento, tudo o que importava era que ela se sentisse protegida. E eu faria qualquer coisa para garantir que isso acontecesse.
O celular no meu colo continuava aceso, mas agora esqueci as mensagens, os planos, o mundo lá fora. Tudo se resumia àquela respiração tranquila começando a voltar ao ritmo normal, à sensação de que, pelo menos por aquela noite, ela poderia dormir sem medo.
E enquanto olhava para ela, percebi que aquela responsabilidade não era somente sobre proteger sua vida… era sobre ajudá-la a reencontrar a confiança no mundo.
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Atualizado até capítulo 36
Comments
Veranice Zimmer Ferst
Não estou conseguindo entender como ela foi pra casa dele pufavor escritora explique????
2025-09-23
1
Helena Dos Santos Santos
Não estou a entender nada.por favor me faz entender
2025-09-26
0
Marilia Carvalho Lima
😔
2025-09-24
0