Um herdeiro do poder.

Meu nome é Heitor Marchese, tenho 25 anos. Sou filho de Vincenzo e Maria. Cresci cercado de luxo, mas não do tipo que vem sem custo. Cada peça de mármore da nossa casa, cada garrafa de vinho na mesa… tudo tem o peso de sangue por trás.

Sempre gostei de coisas que queimam por dentro. Velocidade, perigo, gente que não tem certeza se volta para casa no fim do dia. Acho que é por isso que, desde moleque, eu me pegava interessado em garotas que não viviam no “mundo seguro”. Quanto mais complicada a vida dela, mais eu queria saber quem ela era. E, sim… eu sei o que isso diz sobre mim.

Meu dia começa cedo. Treino na academia particular do clã, onde o cheiro de couro e suor se mistura ao som das correntes de saco de pancada. Gael já estava lá hoje, socando o saco com aquela fúria controlada dele.

Leonardo chegou depois, com o olhar preguiçoso, mas sempre calculando cada movimento. Marcelo é o mais novo, ainda fazendo as coisas de maneira mais intensa, e Dominique… bem, Dominique não precisa provar nada. Ela se move no tatame como se o perigo fosse somente um jogo.

Entre golpes e quedas, rimos e trocamos provocações. Mas quando o treino acaba, o trabalho começa. Hoje, acompanhamos meu pai numa “visita” a um devedor, e “visita” significa que entramos, ouvimos desculpas, e saímos com o que é nosso… ou com algo mais valioso. Não há espaço para hesitar.

O motor do carro ronca como música para mim. O cheiro de pólvora e gasolina é quase familiar. Sei que a maioria das pessoas se afastaria desse mundo, mas eu não.

Eu corro em direção a ele. Porque, no fundo, eu sou o perigo, e talvez, esteja procurando alguém que não fuja quando olhar nos meus olhos e ver isso.

Chegamos pouco antes do pôr do sol. A rua estava quase vazia, só o som distante de uma TV aberta ecoando de alguma janela. O carro preto do meu pai parou em frente a uma portinha de metal enferrujada.

— Gael, Heitor, comigo. — disse meu pai, sem sequer olhar para trás.

Marcelo e Dominique ficaram do lado de fora, observando. Eu fui atrás dele, claro.

Meu pai bateu na porta com força, três vezes. Do outro lado, passos hesitantes. Quando o homem abriu, parecia que tinha visto um fantasma.

— Senhor Marchese… eu… eu ia pagar… — gaguejou.

Meu pai deu um sorriso curto, mas o olhar era de faca.

— Ias pagar… mas não pagou.

Entramos sem pedir permissão. O lugar cheirava a mofo e cerveja barata. Gael fechou a porta atrás de nós, encostando-se nela como se fosse dono da casa.

— O prazo acabou há uma semana — disse meu pai, olhando ao redor. — E sabe o que acontece quando as pessoas brincam com o nosso tempo?

O homem tremia, tentando arrumar palavras.

— Eu… só preciso de mais três dias.

Gael riu baixo, mexendo no isqueiro.

— Três dias? Te demos trinta.

Eu me aproximei, encostando na mesa onde havia um baralho aberto e fichas de poker espalhadas.

— Parece que você teve tempo para jogar — falei, batendo de leve nas cartas — mas não para pagar o que deve.

O homem começou a suar. Meu pai fez um sinal com a mão. Gael pegou o devedor pelo colarinho e o encostou contra a parede.

— Mais três dias… — murmurou o homem, quase chorando.

— Não — respondeu meu pai, seco. — Agora você vai dar algo que vale o que deve.

O olhar dele correu pelo quarto, procurando alguma saída. Então, quase sussurrando, ele apontou para uma caixa de madeira num canto. Dentro havia joias antigas e alguns relógios caros.

Meu pai olhou, avaliou o peso de um relógio dourado.

— Isso e metade do dinheiro… amanhã.

— Amanhã? — o homem engoliu em seco.

— Ou a próxima visita não vai ser tão educada — disse Gael, soltando o colarinho dele.

Pegamos a caixa e saímos. No carro, meu pai olhou pelo retrovisor, o rosto impassível.

— Heitor, você fala muito né.

Sorri de canto.

— Mas consegui o que queríamos, não foi?

Ele não respondeu. O motor rugiu e partimos, deixando para trás mais um homem que aprendeu que prazo com Marchese não é conversa.

Na casa do tio Enrico estava todo mundo junto, Giovanni estava relaxado numa poltrona, Helena sentada no braço dela, os dedos brincando distraidamente no cabelo dele, enquanto conversavam em voz baixa. Julia permanecia ao lado, postura impecável, mas os olhos atentos a tudo.

Eu fiquei de pé ao lado de Leonardo, discutindo detalhes de segurança com ele, nada urgente, mas suficiente para manter a cabeça ocupada. Enrico e Lavínia falavam com Serena e Lucas sobre coisas triviais, risadas ocasionais, quebrando o murmúrio ambiente.

Mas quando Matheo apareceu na porta, o ar mudou. Não foi só silêncio, foi aquela pressão invisível que antecede uma tempestade.

— Matheo? — Helena se levantou, indo até ele com passos rápidos. — O que houve?

Enquanto eles trocavam palavras, eu fiquei observando. Matheo estava tenso, não pelo tipo de tensão de quem teme, mas de quem já decidiu fazer algo perigoso.

— Está tudo bem, minha princesa, eu vim me despedir. Preciso viajar. Amanhã. Para a Espanha, resolver um problema grande.

O sorriso dela murchou. A cada frase dele, a sala parecia encolher. Gael foi o primeiro a questionar, e quando ouvi “Espanha” e “problema” na mesma frase, eu já sabia que essa história não era simples.

Então Matheo falou. Falou sobre o pai dele, sobre um sequestro… e sobre uma garota. Não qualquer garota. A filha de fora do casamento. Um homem que cogitava casar com a própria filha, ou entregá-la para ele.

Eu senti um peso diferente no estômago. Não era raiva pura. Era aquela mistura de indignação e… instinto. Algo em mim, no momento em que ouvi “ela precisa ser salva”, se acendeu.

Helena insistia que ele não fosse sozinho, Gael reforçou. Giovanni perguntou se ele queria ajuda. Matheo recusou, como se pudesse carregar o mundo sozinho, Giovanni falou do casamento, Helena deu a ideia, “Vamos casar em Vegas”.

Foi aí que eu ergui a mão.

— Eu vou.

Leonardo seguiu, como se fosse natural. Mas eu já tinha decidido no instante em que ouvi o nome “moça sequestrada”.

Enquanto o clima na sala se carregava, percebi que Helena não ia largar o osso. E não largou. A decisão dela foi seca:

— Então vamos para Vegas agora.

Julia se chocou, questionou a festa, mas Helena já tinha cravado o pé no chão. Falou que ou ia junto, ou acabava o noivado.

Eu fiquei quieto, mas por dentro já pensava diferente. Não era só sobre Vegas. Não era só sobre Matheo.

Era sobre ela. A garota que eu ainda não tinha visto, mas que já sabia que ia proteger — nem que fosse a última coisa que eu fizesse.

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Comments

Veranice Zimmer Ferst

Veranice Zimmer Ferst

Ainda não entendi nada como ela é irmã dele pufavor escritora explica a história estou sem inteder nada quem é o pai de quem nessa história???

2025-09-23

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