Capítulo 4/ Amor não se discute, se respeita

Depois de guardar as compras, as meninas foram para a sala. Aiko ligou a TV e colocou o filme de Romeu e Julieta.

— Nossa, eu odeio esse filme! —

Falou Yuki, e Aiko riu.

— Você é bem anti-romântica às vezes, Yuki. —

— Não sou nada! É que a história verdadeira não é assim. —

— Então quer dizer que Romeu e Julieta é o caralho? —

Aiko perguntou, rindo.

— Sim… o filme do Pelé deve ser melhor que esse romance. —

Respondeu Yuki, cruzando os braços, divertida.

— Aaa, então tá bom… quer assistir o quê? —

Antes que Yuki pudesse responder, a irmã dela entrou na sala e se sentou no outro sofá.

— Que tal Amor e Outros Doramas? —

Disse Diana, olhando diretamente para Yuki, e automaticamente Aiko revirou os olhos e respirou fundo.

— Pode ser então! —

Falou Yuki, tentando ser simpática.

— Eu não gosto! —

Protestou Aiko, cruzando os braços.

— Você não gosta de nada também, Aiko. —

Rebateu Diana, com um sorriso provocador.

— Não sou obrigada a gostar da mesma coisa que você. —

Retrucou Aiko, já começando a esquentar.

Yuki permaneceu em silêncio, preferindo não se meter. Ela sabia que quando Aiko ficava estressada, era como um dragão cuspindo fogo.

— Mas eu sou sua irmã mais velha, e você tem que me respeitar. —

Disse Diana, firme.

— Tô nem aí, Diana. Não vou assistir só porque você quer. —

Aiko respondeu, cruzando as pernas e olhando desafiadora.

De repente, a mãe entrou na sala, com os braços cruzados e um olhar sério.

— O que está acontecendo aqui? — perguntou, firme, olhando para as duas filhas. — Por que estão discutindo em vez de se comportar como gente civilizada?—

Aiko engoliu em seco, tentando não soltar um “foi culpa dela!”, enquanto Diana bufou, cruzando os braços ainda mais.

— Mãe, é que… — começou Diana, mas a mãe a interrompeu.

— Não quero “é que” nenhum! — disse, batendo levemente a mão no sofá. — Vocês duas são irmãs! Devem se respeitar, não sair brigando por causa de doramas ou filmes.

Yuki, que estava quieta no canto, soltou um riso abafado, tentando não atrair atenção.

— Agora, cada uma escolhe um filme que ambas gostem, ou a TV fica desligada! — finalizou a mãe, olhando de Aiko para Diana com um semblante de quem não estava para brincadeira.

Aiko e Diana trocaram um olhar rápido,sem conseguir evitar, mas sabiam que não tinham saída.

Mas o celular de Yuki começou a tocar. Ela pegou o aparelho e viu que era uma mensagem da mãe, perguntando se ela não estava em casa e dizendo para ir logo.

— Eu tenho que ir, Aiko, minha mãe tá mandando mensagem. —

Falou, se levantando.

— Não vai almoçar, Yuki? —

Perguntou tia Sônia, com um sorriso.

— Não, tia Sônia! Mas obrigada. Só vou pegar minha mochila. —

— Não precisa, Yuki, eu levo pra você. —

Aiko falou, já se levantando também.

— Hoje não dá pra você sair, filha, seu pai falou que vamos jantar fora. —

Disse a mãe de Yuki, com voz firme.

Aiko franziu o cenho e bufou, claramente não gostando nada da ideia.

— Eu não tô nem um pouco afim de ir com aquele senhor, mãe. —

Falou, cruzando os braços e revirando os olhos.

— Eu também não, filha, mas fazer o que! —

Falou Sônia, e antes de se retirar, deu um tchau carinhoso para Yuki.

Yuki subiu as escadas, foi até o quarto pegar a mochila, desceu e deu tchau para Diana.

Aiko já estava esperando na porta, com aquele sorriso discreto no rosto.

— Chegando em casa, avisa! —

Disse ela, com a voz suave, mas firme.

— Pode deixar, Aiko. —

Falou Yuki, sorrindo, deu um beijo rápido na bochecha da amiga e a abraçou. Aiko correspondeu o abraço com a mesma intensidade, quase como se quisessem congelar aquele momento.

Diana, sentada no sofá, apenas observava a interação das duas, cruzando os braços e balançando a cabeça, meio divertida, meio curiosa com a intimidade delas.

Yuki se afastou do abraço, sorrindo tímida, e pegou a mochila.

— Tá, vou indo… — disse, ainda olhando para Aiko, que parecia ter ficado estática na porta, corando levemente.

— Tchau, Yuki! — respondeu Aiko, tentando soar casual, mas a voz falhou um pouco.

Yuki acenou e começou a caminhar pela calçada, e Aiko não conseguia tirar os olhos dela. Cada passo que Yuki dava fazia o coração de Aiko disparar um pouco mais.

Diana, ainda no sofá, bufou baixo:

— Essas duas… viu só? Nem disfarçam mais. —

Aiko respirou fundo, tentando se recompor, e entrou de volta em casa, fechando a porta com um leve suspiro.

— Ai… que maluquice… — murmurou para si mesma, passando a mão pelo cabelo e tentando processar o abraço que ainda estava quente na memória.

— Acho a amizade de vocês duas bem suspeita, viu. —

Falou Diana, olhando para Aiko com um sorriso maroto.

Aiko nada respondeu. Com passos largos, subiu as escadas em direção ao seu quarto, ignorando totalmente o comentário, mas com o coração ainda acelerado pelo abraço com Yuki.

No quarto, fechou a porta atrás de si e se encostou nela, respirando fundo. Um sorriso involuntário apareceu em seu rosto, e por um instante, ela se permitiu rir sozinha da própria situação.

A noite chegou, e Aiko se preparava para o jantar com o pai.

O clima já estava tenso só de pensar no que poderia acontecer — afinal, ela sabia muito bem como o pai podia ser durante essas conversas.

Sentadas à mesa, Aiko, a mae e a irmã começaram a jantar com o pai. O silêncio pairava, interrompido apenas pelo som dos talheres e alguns comentários triviais da mãe.

Até que, inevitavelmente, o pai de Aiko começou a falar:

— Você e essas “coisas de menina” hoje em dia… essas amizades e essas ideias modernas… não sei se concordo, não. —

Aiko revirou os olhos, sentindo uma mistura de raiva e frustração subir pelo corpo.

— Pai… — começou, tentando manter a calma. — Você não pode ficar falando essas coisas.—

— Ah, Aiko, não exagera. Só tô dizendo que algumas coisas não são normais. —

Ele respondeu, com aquele tom firme, achando que estava ensinando uma lição.

Aiko bateu a mão levemente na mesa, respirou fundo e encarou o pai:

— Eu já ouvi isso mil vezes, pai. E sinceramente? Eu não vou aceitar que você fale assim. —

Diana e a mãe trocaram olhares preocupados, e Aiko sentiu um misto de coragem e nervosismo. Ela sabia que não podia deixar passar dessa vez.

Aiko respirou fundo, tentando controlar a raiva que crescia dentro dela.

— Pai… — começou, olhando firme para ele — você é muito homofóbico. Sério mesmo, se eu fosse… se eu gostasse de alguém do mesmo sexo, o que você iria fazer com isso?

O silêncio caiu sobre a mesa como um peso. O pai de Aiko ficou vermelho, sem saber exatamente como responder.

— Aiko… — ele começou, mas ela não deixou ele continuar.

— Não me interrompe! — Aiko falou, com a voz firme. — Porque eu só quero que você entenda que essas suas ideias atrasadas machucam muito. E eu não vou ficar calada diante disso.—

Diana olhou para Aiko com orgulho, enquanto a mãe respirava fundo, tentando acalmar a situação.

Aiko sentiu que, finalmente, estava se colocando no lugar certo, sem medo, mostrando que não ia aceitar comentários homofóbicos, nem de pai nem de ninguém.

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