A cabeça de Anastasia estava explodindo. Cada batida parecia o som de martelos golpeando sua mente — uma sensação de ter esbarrado contra uma parede várias vezes, ou de um martelo martelando sua cabeça incessantemente. O que diabos havia acontecido? Ela só tomara uma taça de espumante; certamente não deveria causar um estrago desse tamanho.
— Anastasia! — Evie gritou, provavelmente da porta.
— Pelo amor de Atlantis, Eveline! — murmurou, com a voz arrastada, sentindo-se presa entre sonho e realidade.
— Não tem dessa, levante logo.
— Ajaiqaaaaa. — Anastasia balbuciou, enterrando o rosto debaixo do travesseiro, desejando que o mundo sumisse.
— Que língua pré-histórica é essa? — Eveline puxou o cobertor que cobria o corpo de Anastasia e o jogou na cama ao lado, depois fez o mesmo com o travesseiro. — Vamos lá, sua mãe quer que você vá socializar antes do café da manhã.
Com um resmungo, Anastasia se sentou, sentindo a cabeça latejar a cada movimento. Pedindo paciência para Poseidon — se ele de fato existisse — talvez não fosse uma má ideia agradar sua amiga e mãe de oferenda, só para sobreviver mais um dia.
— Evie — murmurou como uma criança resmungando para a mãe — minha cabeça dói.
— Sim, a minha também. Todos os dias. Recomendo café ou bater a cabeça na parede.
— Não acho que vá melhorar.
Evie deu de ombros, como se isso explicasse tudo.
— Você está horrível, garota. Que hematoma é esse na testa? Mandei não escapar durante a madrugada pra se encontrar com Henry, e agora tá aí, parecendo uma morta viva.
— Hematoma? — Anastasia franziu o cenho, confusa.
— O que? Você não sentiu? A coisa deve ter sido selvagem.
Anastasia se levantou cambaleante e caminhou até o espelho. A aparência desgrenhada não a surpreendeu — sempre amanhecia assim. O que a assustou foi o hematoma feio na testa, começando a inchar, prometendo um galo daqueles que fariam qualquer espelho chorar. Deuses, como ela havia conseguido isso?
— Acho que caí da cama.
— Ah, sim. Tem certeza que não a quebrou? — Eveline apareceu ao lado dela, com um comprimido de remédio e um copo d’água. Anastasia agradeceu e tomou o remédio, sentindo o gosto amargo desaparecer com o líquido.
— Besta. Eu não saí com Henry. Devo ter caído da cama enquanto dormia, só não lembro como voltei para cá.
Eveline deu de ombros, indiferente.
— De qualquer maneira, se esforce sozinha para parecer apresentável, estarei focando na minha própria tentativa.
Anastasia arqueou uma sobrancelha.
— De parecer apresentável? — perguntou incrédula. Eveline sempre estava deslumbrante, e Anastasia sabia disso.
Eveline lançou um olhar avaliativo da cabeça aos pés de Anastasia, depois para sua própria roupa — calça pantalona de couro e blusa cropped branca — como se dissesse: “Querida, olha pra mim.” Anastasia riu.
— Claro que não. Tentativa de conquistar o belo pedaço de carne que eu avistei.
— Boa sorte. — Eveline desapareceu pela porta, deixando um rastro de perfume sutil e um aroma leve de café vindo do corredor.
Anastasia abriu o guarda-roupas e pegou o primeiro vestido que encontrou. Verde, com flores delicadamente bordadas, lembrava contos de fadas. Ela o vestiu e fez uma trança à moda francesa no cabelo, adicionando apenas maquiagem suficiente para disfarçar o hematoma. Cada movimento parecia pesado, a cabeça latejava e os braços tremiam ligeiramente, resquícios do sonho intenso que ainda ocupava sua mente.
Antes de sair, Anastasia olhou para a cama, considerando deitar-se mais alguns minutos, tentando voltar ao sonho vívido que sua mente se recusava a reproduzir por completo. Era como uma névoa, um oceano de lembranças desfocadas; ela só sentia a aura, mas não conseguia agarrar os detalhes. Como quando se esquece de uma palavra que estava na ponta da língua.
— Pai, estou enlouquecendo… — murmurou, a voz baixa e trêmula, enquanto caminhava pelo quarto em direção à porta, tentando afastar o peso do sonho que ainda pesava em seus ombros.
A garota caminhou pelo pequeno corredor que levava a diferentes áreas do navio, passando reto pela porta onde todos estavam reunidos na área de lazer. Ela se retirou dos aposentos fechados e saiu para o convés; o vento imediatamente sacudiu seus cabelos, soltando fios da trança cuidadosamente feita. Anastasia ignorou a decepção que sentiu ao olhar ao redor — por algum motivo bobo, esperava encontrar James ali. Só o pensamento do nome dele fez um sorriso escapar de seus lábios. James. Um nome bonito, carregado de nostalgia. Talvez ela tivesse lido em algum livro, ou visto em algum sonho antigo. De qualquer forma, havia uma ternura involuntária em pronunciá-lo.
O som abafado de vozes e talheres podia ser ouvido ao fundo, misturado com passos e o ranger de cadeiras e mesas. Uma cacofonia de sons que, junto ao sussurrar do vento, criava uma estranha harmonia. Com passos cautelosos, Anastasia caminhou até a proa do navio. A brisa batia em seu rosto, trazendo uma sensação de liberdade — sim, o vento era a descrição mais precisa da liberdade.
Ao inclinar-se para olhar o oceano, a vastidão azul fez seu estômago embrulhar instantaneamente, uma pressão se formando no peito. Respirou fundo, tentando se acalmar, mas não entendia por que o mar sempre parecia conspirar contra ela. Não era medo; era algo mais… desafiador, quase pessoal. Levantou o olhar para o céu azul brilhante pelo sol e deixou a respiração voltar ao ritmo normal.
Então algo chamou sua atenção. Um brilho estranho no céu. Ela apertou os olhos, tentando decifrar o que via. Uma constelação? Não, impossível ver estrelas durante o dia… E, no entanto, pontos de luz formavam um desenho — uma parte do esboço que ela havia rabiscado outro dia. Mas era apenas uma fração, borrada, desgastada.
Um calafrio percorreu seu corpo, arrepiando cada fio de cabelo. Algo estava errado. O vento cessou, e uma névoa começou a se formar, cobrindo sua visão. O céu se tornava cinza, pesado, quase como se o tempo tivesse congelado. O navio parecia diferente, envelhecido, como uma memória de outro mundo. Toda a vida ao redor evaporou.
Anastasia avançou, atravessando a neblina. Um estalo mental percorreu sua mente — como se uma caixa de Pandora tivesse sido aberta. Sentiu-se com cem anos, carregando vidas inteiras de experiência e sabedoria. Era uma sensação de deslocamento no tempo e espaço, uma mistura de pertencimento e estranhamento. A dor de cabeça voltou, e aos poucos a cor e a luz retornaram ao mundo ao seu redor.
O navio começou a reduzir a velocidade. Anastasia percebeu que se aproximavam de uma ilha. Mas não havia nenhuma ilha ali nos mapas que conhecia. O barco, agora parado, parecia mais antigo, desgastado, prestes a desabar, como se tivesse passado décadas submerso. Confusa, ela caminhou para os aposentos para procurar sua mãe, mas a sala estava irreconhecível: janelas quebradas, móveis corroídos, o lugar todo com aparência de ruína.
— Ok, Anastasia — murmurou uma voz em sua mente. — Talvez você ainda esteja dormindo. Talvez essa seja apenas uma paralisia do sono, um truque do seu cérebro criativo.
Respirou aliviada. Fazia sentido — era um sonho. Precisava apenas descobrir como acordar ou esperar que sua mente a despertasse.
O som de vozes chamou sua atenção. Curiosa, correu até a proa do navio, mas colidiu com algo sólido. Levantou o olhar: um homem alto, com uma carranca no rosto, parado diante dela. Não o conhecia; não era bom sinal. Ela tentou respirar fundo, mantendo a compostura.
— Quem é você? O que faz no meu navio? — perguntou, a voz firme apesar do medo.
Ele a avaliou em silêncio, ignorando a pergunta, e caminhou até a grade do barco. Anastasia ficou paralisada, pensando no que deveria fazer.
— Não me faça perder meu tempo — disse, áspero. — Venha, ele está te esperando. E não é generoso com atrasos.
— Quem é “ele”? — murmurou, perplexa.
— Venha e descobrirá.
Uma provocação. Uma cobra usando curiosidade para atraí-la.
— Boa tentativa.
— Senhorita — ele continuou, irritado — não me faça usar uma espada e carregá-la à força.
Só então Anastasia percebeu o brilho da lâmina ao lado dele. Ótimo, claro que seu cérebro criaria homens medievais com espadas.
— Isso é grosseiro da sua parte. Tenho pernas.
— Então use-as.
Ela hesitou, olhando ao redor por qualquer objeto que desse vantagem. Uma moldura antiga chamou sua atenção — pesada, possivelmente capaz de nocautear alguém. Mas o homem percebeu seu olhar e deu um passo à frente, a mão na espada, disparando alarmes em sua cabeça.
Merda. Sem chances.
Quando ela alcançou a grade, viu a areia abaixo. Ele queria que pulasse? Hesitando, o homem simplesmente a agarrou pela cintura, colocando-a em seu ombro.
— Ei! Você disse que não me agarraria! — Anastasia esperneou, chutando e socando.
— Quieta — murmurou ele, ranzinza. — Por que aquele bastardo continua me metendo em situações assim? Idiota arrogante, venha e cuide do problema você mesmo.
Anastasia mordeu a língua para não xingar. O problema ali eram eles — sequestrando-a contra sua vontade.
Quando o garoto pulou na água rasa, aterrissando em pé como um gato, a raiva subiu novamente. Ela planejou inúmeras formas de assassiná-lo mentalmente enquanto ele caminhava tranquilo com Anastasia ainda em suas costas.
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Atualizado até capítulo 24
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