Capítulo 2 - Ecos de Sangue e Cinzas.

O imperador Akirito regressava ao castelo, sorrindo com a satisfação de um caçador que havia tido sua presa. Seus passos ecoavam fortes pelo salão, o kimono marcado de cinzas e pólvora.

— Ah, foi maravilhoso… — disse, estalando os ombros como quem se renova. — Ver aqueles corpos tombarem, ouvir seus gritos… Mas eu não sabia que ainda existiam tantos. Vi alguns fugirem. — Ele arqueou os lábios em um sorriso frio. — Isso só torna as coisas mais interessantes. Adoro caçar.

Seu olhar endureceu por um instante, lembrando-se da jovem híbrida de olhos dourados que corria atrás de Shai. Uma visão que, contra sua vontade, o fascinara.

A voz doce e traiçoeira de Ruyna ecoou pelo salão:

— Meu amor já retornou? Como foi a caçada contra aqueles monstros?

O imperador voltou-se para ela. A concubina sorria, envolta em seda carmesim.

— Revigorante. — respondeu Akirito, com um brilho cruel no olhar. — Aquelas coisas não deveriam existir. Logo construiremos uma base naquela região.

Ruyna sorriu, satisfeita com o poder que o massacre representava.

— Sirvam-me saque. Quero beber esta noite. — ordenou o imperador, caminhando até seus aposentos.

Os servos se curvaram apressados. Akirito retirou parte do kimono e, diante do espelho, observou-se com um sorriso enviesado.

— Apesar de serem uma raça imunda… aquela híbrida era bela. — murmurou. — Muito bela…

E assim, em silêncio, começou a arquitetar um plano.

Enquanto isso, na escuridão da floresta, Aiyra guiava os sobreviventes. O vento frio levava consigo o cheiro de sangue, mas também o som da vida que ainda pulsava entre seu povo.

Shai havia deixado um local secreto preparado para emergências. Ao chegarem, Aiyra voltou-se para todos. Seus olhos estavam úmidos, mas sua voz ecoou firme:

— A partir de hoje, vocês são minha responsabilidade. Riyah lutou por nós, e eu farei o mesmo. Farei o que for preciso para que nosso povo fique seguro!

Os guerreiros se colocaram diante dela e, em uníssono, se curvaram:

— KORAH! (Obediência eterna.)

O povo seguiu o gesto, lágrimas escorrendo, mas com esperança em seus olhos.

Aiyra ergueu a lança espiritual, que agora lhe pertencia, e declarou:

— Oriah miryen. (A floresta guarda esperança.) — Viveremos aqui. Vamos nos estabilizar, reforçar nossas defesas. Não permitirei que eles nos toquem novamente!

Um coro de palmas e gritos de apoio ecoou. Mas logo o silêncio tomou conta quando Aiyra ergueu a mão.

— Agora, faremos o cântico pelos que se foram. Nossa tradição continuará.

Todos uniram as mãos. A chama de uma nova fogueira foi acesa, e Aiyra entoou a canção de despedida, sua voz quebrada pela dor.

“Sharu veyla,

Naiya toren,

Kitsu lioren,

Riyah serin…”

(Espírito celestial,

Sigam a luz,

A raposa eterna,

Guarda vocês.)

“Veyra lumé,

Ashie koren,

Mira suvah,

Oriah sharu…”

(A fúria apagou,

O sangue se foi,

Descansam na noite,

Na floresta do espírito.)

“Lumé, lumé…

Aylen torah…

Shai miryen…

Sharu, sharu…”

(Luz, luz…

Guie-os além…

Grande mãe, esperança…

Espírito, espírito…)

---

Dias haviam se passado desde o massacre. O silêncio da floresta ainda parecia carregado com o eco dos gritos e o cheiro de cinzas, mas ali, no coração verde, o povo Kitsune tentava sobreviver.

Aiyra liderava. Ia caçar sempre para trazer alimento, raramente descansando. Koda e Raoni nunca a deixavam sozinha, acompanhavam-na em todas as jornadas.

Naquela manhã, os três retornavam com caça. Aiyra carregava dois cervos pequenos, Raoni alguns coelhos, e Koda vigiava o perímetro, atento.

— Grande líder… — murmurou Koda, olhando de relance para Aiyra. — Deve reduzir suas transformações. Se insistir assim, pode não conseguir voltar à forma híbrida.

Aiyra desviou o olhar, sua voz firme, mas tingida de amargura:

— Caçar assim é mais fácil do que com arco e flecha. Além disso… o gosto do sangue me lembra porque devo continuar.

Koda a estudou em silêncio, percebendo o luto que ainda queimava dentro dela, como uma ferida aberta.

Raoni quebrou o peso da conversa, erguendo os coelhos que havia capturado.

— Isso deve ser suficiente para hoje.

Foi então que Aiyra ergueu a cabeça, as narinas dilatando. Seu olhar dourado brilhou como brasas.

— Humanos. — rosnou.

Koda imediatamente aguardou a ordem, sua mão já próxima das armas.

— Daqui não passarão. — disse Aiyra, sem hesitar. — Vamos acabar com eles.

Koda e Raoni acenaram, prontos.

As seis caudas negras surgiram atrás de Aiyra, sua transformação fluindo como um rio de sombras e poder. O corpo cresceu, tornando-se o da majestosa raposa de olhos flamejantes. Koda e Raoni também assumiram suas formas de combate, seguindo sua líder.

Silenciosa como a noite, Aiyra avançou pela mata até avistar os intrusos: oito cavaleiros do império, patrulhando.

Com um movimento sutil da cauda, deu o sinal.

O ataque foi brutal. Os guerreiros imperiais mal tiveram tempo de gritar. Presas, garras e dentes rasgaram o silêncio da floresta. Aiyra abatia cada inimigo sem piedade, mergulhando no sangue, o rosto manchado da violência de sua fúria.

Três cavaleiros conseguiram fugir, seus gritos ecoando enquanto os cavalos disparavam mata adentro.

O silêncio voltou, quebrado apenas pela respiração pesada dos três Kitsune. Koda retornou à forma híbrida, ofegante. Raoni e Aiyra o seguiram.

A jovem líder cuspia sangue humano no chão, o olhar frio.

— Até o gosto deles é ruim. — disse, cuspindo novamente, como se quisesse limpar a boca daquilo.

Koda aproximou-se, pegou seu próprio kimono e cobriu o corpo nu de Aiyra, desviando o olhar com respeito.

Ela não disse nada. Apenas caminhou, firme, na frente.

— Vamos.

E eles a seguiram, em silêncio, com o peso do sangue fresco ainda sobre si.

---

O portão do castelo se abriu bruscamente. Três cavaleiros entraram cambaleando, os olhos arregalados de terror. O sangue seco ainda manchava suas armaduras.

Ayumi, o general da guarda, os aguardava com olhar severo.

— O que houve? O que deu errado na patrulha? — sua voz ecoou como aço batido.

Um dos homens, quase sem fôlego, engasgou-se nas palavras:

— U-uma raposa, senhor… enorme… seis caudas… nos atacou. Só nós escapamos.

Ayumi franziu o cenho, os olhos se estreitando.

— Seis caudas? Mas… a líder não foi morta?

Outro cavaleiro se adiantou, trêmulo:

— Eu juro, senhor! Ela não estava sozinha… havia mais duas raposas negras lutando ao lado dela.

O silêncio pesou no ar. Então, Ayumi respirou fundo, como se compreendesse algo.

— Hm… então ela tinha uma filha.

O general fez um gesto brusco com a mão.

— Estão dispensados.

Os cavaleiros se curvaram apressados e saíram, como se desejassem apagar a lembrança do que haviam visto.

Ayumi, no entanto, girou nos calcanhares e caminhou firme pelos corredores até o grande salão imperial.

Lá dentro, o imperador estava reclinado em seu trono, a concubina Ruyna em seu colo, ambos rindo e trocando beijos. A cena parecia de puro deleite até Ayumi se ajoelhar diante dele.

— Perdoe a interrupção, meu senhor. Tenho notícias da patrulha enviada esta manhã.

O imperador afastou os lábios da concubina, olhando-o com um leve sorriso de tédio.

— Ah, sim… e o que houve?

Ayumi ergueu os olhos, sua voz firme:

— Foram aniquilados por uma raposa de seis caudas. Meu palpite é que se trata da filha de Shai. O clã Kitsune possui uma nova líder… e ela é forte.

Por um instante, o silêncio dominou a sala. Então, o imperador gargalhou, o som reverberando como trovão.

— Interessante… muito interessante.

Ele acariciou os cabelos de Ruyna, enquanto um brilho cruel surgia em seus olhos.

— Me tragam aquele inventor. Agora.

Ayumi baixou a cabeça em respeito.

— Claro, senhor.

E partiu, deixando para trás o eco da risada do imperador, que parecia já tecer planos sombrios.

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