Capítulo 02: Em breve você será nossa

...Bruna Lacerda...

Acordei com o sol raiando em meu rosto através da cortina, a luz invadindo o quarto com uma delicadeza quase cruel, lembrando-me que o dia já tinha começado. Demorei alguns instantes até me espreguiçar e sair da cama. Hoje não era um dia qualquer, era o meu aniversário de 18 anos.

Levantei-me e caminhei até o banheiro, deixando a água fria escorrer pelo corpo para espantar o calor. Fechei os olhos, tentando relaxar, e deixei a mente vagar. Era sempre assim: no meu aniversário eu me enchia de esperanças, como se o destino fosse capaz de me surpreender. E, de fato, ele estava prestes a fazer isso.

Depois do banho, enrolei-me na toalha e voltei para o quarto. Assim que abri a porta, uma surpresa me esperava. Em cima da penteadeira havia uma caixa delicadamente embrulhada em papel perolado, com um laço de cetim cor-de-rosa. Meu coração disparou na mesma hora. Aproximei-me, ainda com as mãos úmidas, e toquei a superfície lisa da caixa.

Senti um arrepio de emoção e, com cuidado, desfiz o laço. O papel deslizou com facilidade e, dentro dele, surgiu uma caixinha menor, de veludo branco. Respirei fundo antes de abri-la e, quando levantei a tampa, meus olhos brilharam.

Dentro repousava uma pulseira de prata clara, polida com tanto brilho que parecia captar a luz do sol e transformá-la em pequenos reflexos prateados. Era delicada, com elos finos e bem trabalhados, mas o que mais chamava atenção eram os três pingentes pendurados nela. Cada um era uma letra: C, P e L. Os pingentes tinham um acabamento suave, com bordas arredondadas, e estavam cravejados com pequenas pedrinhas de cristal transparente, que cintilavam a cada movimento.

Levei a mão à boca, surpresa. Era o tipo de presente que parecia carregar um segredo, uma mensagem oculta. Quem teria me dado aquilo? Quem colocaria tanto cuidado em preparar algo tão pessoal?

Passei os dedos pelos pingentes, como se pudesse adivinhar seus significados apenas pelo toque. “C, P e L...” murmurei para mim mesma. Eram apenas letras, mas ecoavam como um enigma no fundo da minha mente.

Foi então que percebi um pequeno envelope branco. Minhas mãos tremeram levemente ao pegá-lo. O coração batia tão rápido que parecia querer saltar para fora do peito. Abri com cuidado, desdobrando o papel dentro. As palavras escritas em letra firme e inclinada me fizeram prender a respiração:

FELIZ ANIVERSÁRIO, COELHINHA.

EM BREVE VOCÊ SERÁ NOSSA.

NOSSA PARA PERTENCER.

NOSSA PARA AMAR.

Senti meu corpo inteiro estremecer. O apelido me pegou de surpresa: coelhinha. Ninguém me chamava assim, exceto três pessoas, Caio, Patrick e Luan. Meus vizinhos.

Segurei o bilhete com força, como se apertá-lo fosse me dar alguma resposta imediata. Meu coração oscilava entre a curiosidade e o medo. Ser deles? Como assim? O que exatamente eles queriam dizer com isso?

Vesti-me depressa, escolhendo um vestido rosa de tecido leve, que caía suavemente pelo corpo e contrastava com o brilho prateado da pulseira em meu braço. O reflexo no espelho mostrava uma jovem tentando sorrir, mas os olhos denunciavam a confusão dentro de mim.

Antes que pudesse me perder em mais pensamentos, uma batida seca soou na porta.

— Bruna? — era a voz firme e conhecida da minha tia.

— Já vou! — respondi apressada, escondendo o bilhete dentro da gaveta da penteadeira.

A porta se abriu devagar, revelando minha tia acompanhada de tio Miguel, seu marido. Ele sempre trazia consigo aquela postura rígida, o olhar severo e a voz grave de quem carregava valores inabaláveis. Chamava-o de tio Miguel, e ele sempre me tratava de forma correta, embora com uma seriedade que muitas vezes me deixava sem ar.

— Feliz aniversário, querida — disse minha tia, abrindo um sorriso caloroso e estendendo os braços para me abraçar. Retribuí o gesto com carinho, sentindo o perfume doce dela envolver-me por um instante.

Quando me afastei, tio Miguel me olhava fixamente. Não havia dureza em seu semblante naquele momento, apenas uma curiosidade que parecia sondar cada detalhe meu. Seus olhos se detiveram na pulseira em meu braço.

— Quem lhe deu isso? — perguntou, com a voz grave, quase como uma ordem.

Olhei para a pulseira e depois para ele, engolindo em seco.

— Eu... eu não sei, tio Miguel. Quando saí do banho, encontrei a caixa em cima da penteadeira.

— Não sabe? — ele arqueou as sobrancelhas, estreitando o olhar. — Nada aparece do nada, Bruna.

Minha tia tentou intervir, tocando o braço do marido.

— Miguel, não assuste a menina. Hoje é o aniversário dela.

Ele suspirou, mas não desviou os olhos de mim.

— Não é questão de assustar, mas de cuidado. Presentes assim não vêm sem intenção.

Fiquei sem palavras, segurando a pulseira com a mão. A lembrança das letras gravadas nos pingentes pesava mais agora.

— É apenas uma pulseira, tio — murmurei.

Ele inclinou a cabeça para o lado, pensativo, mas não insistiu.

— Que assim seja — disse enfim, em tom seco. — Mas não esqueça: o mundo não é tão inocente quanto você pensa.

Minha tia segurou minhas mãos e sorriu para mim, tentando quebrar a tensão.

— Não se preocupe com isso agora, querida. É o seu dia. Temos um bolo esperando lá embaixo.

Assenti, com o coração apertado.

Depois que eles saíram, sentei-me à beira da cama, o vestido rosa ajustando-se ao meu corpo, e deixei que os pensamentos me invadissem. Voltei a encarar a pulseira. Coloquei-a no pulso, observando como reluzia contra a pele. As letras se acomodaram de forma natural, como se sempre tivessem pertencido a mim. Toquei cada uma delas novamente, sentindo uma estranha mistura de medo e encantamento.

Finalmente respirei fundo e desci as escadas. O cheiro de bolo recém-preparado tomou conta da cozinha. Minha tia me esperava com um sorriso doce, enquanto tio Miguel permanecia sentado, sério, mas em silêncio.

Na mesa, um bolo simples de frutas, acompanhado de um copo de água, aguardava por mim.

— Parabéns pra você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida! — cantaram minha tia e tio Miguel, ele com uma voz mais contida, mas presente. — Feliz aniversário, querida. — disse minha tia.

Sorri, sentindo um calor genuíno no peito. Por um momento, tudo parecia normal e acolhedor.

— Obrigada — murmurei, tocando a pulseira.

— Faça um pedido, querida — disse ela, aproximando a vela acesa.

Fechei os olhos por um instante. Senti o calor da chama e o peso do desejo que me sufocava. “Liberdade”, pensei em silêncio. Então soprei, e a chama se apagou, deixando um fio de fumaça subir devagar.

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Comments

Lucy

Lucy

Não veio a hora

2025-09-23

0

Lucy

Lucy

É deles com certeza

2025-09-23

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Julia

Julia

Chato

2025-09-23

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