Capítulo 2 - A Missão do Amor (Superficial)

O amargor do chocolate ainda era uma presença agradável em seu paladar quando Yaruan se virou de volta para a multidão. O reflexo no vidro se desfez, e com ele a breve introspecção. Aquele sentimento de vazio, de ser um monarca em um reino de ecos, era um veneno familiar. E ele, como sempre, tinha o antídoto: sua missão. A ideia soava grandiosa, quase messiânica, quando ele a formulava em sua mente. Espalhar o amor. Ele acreditava, de uma forma distorcida e egoísta, que estava prestando um serviço. O amor, para ele, era a emoção mais potente do universo, uma energia pura. Mantê-la contida era um desperdício. Portanto, sua tarefa era liberá-la, compartilhá-la, criar momentos de intensidade inesquecível. Momentos. Essa era a palavra-chave. Ele não era um construtor de relacionamentos; era um arquiteto de instantes perfeitos.

Seus olhos, agora totalmente focados, varreram o salão com um novo propósito. Não mais em busca de ameaças ou oportunidades de negócio, mas em busca de um recipiente para sua filosofia. Ele passou por rostos conhecidos, mulheres que já haviam sido parte de seus "momentos" e que agora lhe lançavam olhares que variavam da nostalgia à amargura. Ele os reconhecia com um leve aceno, um fantasma de sorriso, e continuava em frente. O passado era irrelevante.

Então ele a encontrou. Ela estava perto de uma maquete arquitetônica do novo complexo hospitalar que o leilão estava financiando. Diferente de Fernanda Prado, que usava sua presença como uma arma, esta mulher parecia quase fundir-se com o ambiente. Tinha cabelos escuros presos em um coque elegante e despretensioso, e usava um vestido de seda verde-esmeralda que abraçava suas curvas com uma sofisticação discreta. Ela não estava tentando ser o centro das atenções; estava genuinamente interessada no projeto, analisando os detalhes da maquete com a concentração de uma profissional. Yaruan sentiu a centelha do desafio. Ela não era como as outras.

Ele se aproximou sem pressa, parando ao lado dela como se seu interesse também fosse a maquete. Por um longo momento, ele não disse nada, apenas observou os pequenos detalhes do modelo em miniatura.

— O balanço dos vãos livres é ambicioso — ele comentou, a voz baixa, quase um murmúrio para si mesmo. — Maximiza a luz natural, mas pode ser um pesadelo estrutural se o cálculo da carga de vento não for perfeito.

Ela se virou, surpresa. Seus olhos eram de um castanho inteligente, e não havia neles o brilho imediato de reconhecimento que ele estava acostumado a ver. Havia curiosidade.

— A maioria das pessoas só vê os prédios bonitinhos — ela respondeu, um sorriso sutil tocando seus lábios. — Você é engenheiro?

— Não formalmente. Apenas um entusiasta da arte de desafiar a gravidade. Yaruan Montfleur.

Ele estendeu a mão. Ao contrário do beijo no ar que deu em Fernanda, seu aperto de mão foi firme, envolvendo os dedos dela por um instante.

— Liana. E sou a arquiteta que calculou essa carga de vento.

Yaruan sorriu, um sorriso genuíno desta vez. Perfeito.

— Então estou falando com a artista. Meus parabéns. É um design que respira. Há uma filosofia humanista nele, algo raro hoje em dia.

Ele a via processar suas palavras. Ele não a elogiou com um "você está linda", a mais batida e inútil das abordagens. Ele elogiou seu trabalho, sua mente. Ele a viu, não apenas seu exterior. Era o primeiro passo de sua dança. Liana, por sua vez, sentiu-se relaxar. Aquele não era apenas mais um ricaço tentando impressionar.

— Essa sempre foi a intenção. Um hospital não deveria ser uma prisão para doentes, mas um espaço de cura. A luz, o ar... eles são parte do tratamento.

— Eu concordo plenamente. É a mesma lógica que aplico em minha vida.

Ela franziu a testa, intrigada.

— E como se aplica?

Ele se inclinou um pouco, diminuindo o espaço entre eles, criando uma bolha de intimidade em meio ao zumbido do salão.

— Acredito que as emoções, especialmente o amor, são como a luz e o ar. Não podem ser aprisionadas. Perdem sua potência quando contidas. A verdadeira beleza está em compartilhá-las, em permitir que fluam e iluminem os espaços que tocam, mesmo que seja por um breve momento.

Era sua tese, sua grande verdade. Dita com a convicção de um profeta, soava profunda, sedutora. Ele via nos olhos dela a resistência inicial se dissolvendo, substituída por um fascínio. Ele não estava falando de sexo ou de relacionamentos; estava falando de filosofia, de uma forma de ver o mundo. Ele estava vendendo um conceito, e Liana estava começando a comprar.

Ele continuou, contando histórias cuidadosamente selecionadas, pequenas vulnerabilidades fabricadas sobre a pressão de seu sobrenome, sobre como ele buscava momentos de autenticidade em um mundo de plástico. Cada palavra era uma peça de quebra-cabeça, projetada para se encaixar perfeitamente nas fechaduras da psique dela. Ele escutava com atenção quando ela falava sobre suas próprias paixões, seus sonhos de construir espaços que mudassem a vida das pessoas. Ele fazia as perguntas certas, aquelas que a faziam se sentir a pessoa mais interessante do mundo.

Ele viu seus irmãos de relance. Gael ainda o fuzilava com os olhos. Sérgio estava agora conversando com um banqueiro suíço, provavelmente tramando algo em seu tabuleiro mental. O olhar de Sérgio cruzou com o dele por uma fração de segundo. Havia um desprezo divertido nos olhos de seu irmão, como se ele dissesse: lá vai você de novo, com seu teatrinho barato. Yaruan ignorou. A opinião deles não importava. Aquele ritual todo, a festa, as conversas de negócios, era tudo monótonice. Sua missão, no entanto, parecia-lhe a única coisa honesta que fazia.

— Este lugar... — disse Yaruan, finalmente, fazendo um gesto vago para o salão barulhento. — É um belo exemplo de arquitetura, mas uma péssima incubadora de momentos autênticos.

Ele olhou diretamente nos olhos de Liana, a intensidade de seu foco fazendo o resto do mundo desaparecer para ela.

— Conheço um pequeno bar de jazz, a uns dez minutos daqui. A música é honesta, a bebida é boa e a conversa não precisa competir com o som de egos sendo inflados. Gostaria de continuar essa discussão filosófica em um ambiente mais inspirador?

O convite estava feito. Não era um convite para sua cama, não explicitamente. Era um convite para continuar a conexão, para explorar a ideia que ele havia plantado. Era irrecusável.

— Eu adoraria — ela disse, sua voz um pouco mais baixa que antes.

Enquanto a acompanhava para fora do salão, sentindo o calor sutil da mão dela em seu braço, Yaruan sentiu a familiar onda de triunfo. O antídoto estava funcionando. O vazio recuava, preenchido pela adrenalina do sucesso da missão. Ele criaria para Liana uma noite inesquecível, um "momento" perfeito de conexão e paixão. E amanhã, ele a deixaria ir, livre, como sua filosofia pregava. Ele era um colecionador de corações, mas apenas os alugava por uma noite. Ele não os guardava. Era mais seguro assim. E, acima de tudo, era mais fácil.

...***...

Se está gostando não deixe de curtir pra mim saber e me segue no coraçãozinho, bjs.

❤⃛ヾ(๑❛ ▿ ◠๑ )

Capítulos
1 Capítulo 1 - O Monarca Escarlate da Montfleur
2 Capítulo 2 - A Missão do Amor (Superficial)
3 Capítulo 3 - O Império de Silício e Aço
4 Capítulo 4 - A Semente da Inveja – Gael
5 Capítulo 5 - A Astúcia Oculta – Sérgio
6 Capítulo 6 - O Primeiro "Acidente"
7 Capítulo 7 - A Armadilha Financeira
8 Capítulo 8 - O Jogo de Xadrez Corporativo
9 Capítulo 9 - O Santuário Pessoal de Yaruan
10 Capítulo 10 - O Presentimento
11 Capítulo 11 - A Noite Chuvosa na Galeria
12 Capítulo 12 - Clara e o Azul Profundo
13 Capítulo 13 - A Conversa Inesperada
14 Capítulo 14 - Uma Conexão Genuína
15 Capítulo 15 - O Amanhecer e o Vazio
16 Capítulo 16 - O Vazio Doloroso
17 Capítulo 17 - O Detetive do Coração
18 Capítulo 18 - A Intensificação da Guerra
19 Capítulo 19 - A Armadilha de Sérgio
20 Capítulo 20 - A Contratramo de Yaruan
21 Capítulo 21 - A Queda de Sérgio
22 Capítulo 22 - Uma Pista Fragrante
23 Capítulo 23 - O Reencontro na Floricultura
24 Capítulo 24 - A Confissão de Clara
25 Capítulo 25 - O Protetor Apaixonado
26 Capítulo 26 - A Fúria de Gael
27 Capítulo 27 - O Plano Diabólico de Gael
28 Capítulo 28 - A Intuição de Yaruan
29 Capítulo 29 - A Descoberta da Sabotagem
30 Capítulo 30 - O Confronto Final
31 Capítulo 31 - A Reunião Patriarcal
32 Capítulo 32 - O Veredito de Arthur
33 Capítulo 33 - A Distorção do Amor Familiar
34 Capítulo 34 - A Rejeição e o Banimento
35 Capítulo 35 - O Adeus Amargo
36 Capítulo 36 - A Luz no Fim do Túnel
37 Capítulo 37 - O Santuário do Amor Verdadeiro
38 Capítulo 38 - O Fim de Uma Era
39 Capítulo 39 - O Novo Horizonte
40 Capítulo 40 - A Promessa
41 Capítulo 41 - O Recomeço Humilde
42 Capítulo 42 - Aura: O Nome da Nova Empresa
43 Capítulo 43 - O Primeiro Grande Contrato
44 Capítulo 44 - A Inovação Contínua
45 Capítulo 45 - O Reflexo do Passado
46 Capítulo 46 - A Construção de Um Lar
47 Capítulo 47 - O Vermelho e Seu Novo Significado
48 Capítulo 48 - O Legado de Yaruan
49 Epílogo
Capítulos

Atualizado até capítulo 49

1
Capítulo 1 - O Monarca Escarlate da Montfleur
2
Capítulo 2 - A Missão do Amor (Superficial)
3
Capítulo 3 - O Império de Silício e Aço
4
Capítulo 4 - A Semente da Inveja – Gael
5
Capítulo 5 - A Astúcia Oculta – Sérgio
6
Capítulo 6 - O Primeiro "Acidente"
7
Capítulo 7 - A Armadilha Financeira
8
Capítulo 8 - O Jogo de Xadrez Corporativo
9
Capítulo 9 - O Santuário Pessoal de Yaruan
10
Capítulo 10 - O Presentimento
11
Capítulo 11 - A Noite Chuvosa na Galeria
12
Capítulo 12 - Clara e o Azul Profundo
13
Capítulo 13 - A Conversa Inesperada
14
Capítulo 14 - Uma Conexão Genuína
15
Capítulo 15 - O Amanhecer e o Vazio
16
Capítulo 16 - O Vazio Doloroso
17
Capítulo 17 - O Detetive do Coração
18
Capítulo 18 - A Intensificação da Guerra
19
Capítulo 19 - A Armadilha de Sérgio
20
Capítulo 20 - A Contratramo de Yaruan
21
Capítulo 21 - A Queda de Sérgio
22
Capítulo 22 - Uma Pista Fragrante
23
Capítulo 23 - O Reencontro na Floricultura
24
Capítulo 24 - A Confissão de Clara
25
Capítulo 25 - O Protetor Apaixonado
26
Capítulo 26 - A Fúria de Gael
27
Capítulo 27 - O Plano Diabólico de Gael
28
Capítulo 28 - A Intuição de Yaruan
29
Capítulo 29 - A Descoberta da Sabotagem
30
Capítulo 30 - O Confronto Final
31
Capítulo 31 - A Reunião Patriarcal
32
Capítulo 32 - O Veredito de Arthur
33
Capítulo 33 - A Distorção do Amor Familiar
34
Capítulo 34 - A Rejeição e o Banimento
35
Capítulo 35 - O Adeus Amargo
36
Capítulo 36 - A Luz no Fim do Túnel
37
Capítulo 37 - O Santuário do Amor Verdadeiro
38
Capítulo 38 - O Fim de Uma Era
39
Capítulo 39 - O Novo Horizonte
40
Capítulo 40 - A Promessa
41
Capítulo 41 - O Recomeço Humilde
42
Capítulo 42 - Aura: O Nome da Nova Empresa
43
Capítulo 43 - O Primeiro Grande Contrato
44
Capítulo 44 - A Inovação Contínua
45
Capítulo 45 - O Reflexo do Passado
46
Capítulo 46 - A Construção de Um Lar
47
Capítulo 47 - O Vermelho e Seu Novo Significado
48
Capítulo 48 - O Legado de Yaruan
49
Epílogo

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