O CEO Escarlate
[Nota da Autora: Este trabalho é fictício. As pessoas, grupos, lugares, nomes de países e etc... que aparecem nesta obra não tem relação com a vida real.ヾ(^Д^*)/]
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O vermelho não era apenas uma cor para Yaruan Montfleur; era um presságio. Era a primeira e a última coisa que as pessoas notavam. Naquela noite, em meio ao oceano de smokings pretos e vestidos que cintilavam como joias derramadas, ele era uma anomalia calculada, um ponto de interrogação rubro no topo do mundo. O evento, um leilão de caridade para alguma causa nobre que ele mal se dera ao trabalho de memorizar, acontecia na cobertura do Edifício Apex, um monólito de vidro e aço que perfurava o céu noturno de São Paulo. De lá, a cidade se estendia como um tapete de diamantes quebrados, um reino de concreto e luz que Yaruan via não com admiração, mas com o olhar analítico de um general sobre seu mapa de batalha.
Ele não usava um terno vermelho. Seria óbvio demais, um grito onde um sussurro bastava. Seu traje era de um profundo azul-noite, cortado com uma precisão cirúrgica que parecia moldado em seu corpo alto e atlético. A audácia estava nos detalhes, sempre nos detalhes. Quando ele gesticulava, um movimento fluido e contido, o forro de seu paletó revelava um lampejo de seda carmesim, um segredo sangrento costurado no interior. Suas abotoaduras, dois rubis quadrados e intensos, capturavam a luz artificial do salão e a devolviam com um brilho malévolo. Eram como olhos em seus pulsos, observando, registrando.
Yaruan movia-se pela multidão com uma graça predatória. As pessoas abriam caminho instintivamente, como se sentissem a gravidade de sua presença antes mesmo de o verem. Ele era o filho mais novo, mas inegavelmente o mais brilhante da geração Montfleur, e essa reputação o precedia como uma onda de choque. Ele trocava acenos de cabeça, sorrisos que não alcançavam seus olhos e apertos de mão firmes que duravam exatamente o tempo necessário. Cada interação era uma transação, uma coleta de dados. Ele notava o suor na testa de um CEO cuja empresa estava à beira do colapso, a forma como uma herdeira segurava sua taça de champanhe com os dedos trêmulos, a aliança de casamento que um magnata girava nervosamente no dedo.
— Yaruan, querido! Que bom te ver por aqui.
A voz era de Fernanda Prado, uma socialite cujo rosto era uma máscara de porcelana esticada por procedimentos estéticos. Ela usava um vestido roxo, uma tentativa ousada de se destacar que, ao lado dele, parecia desbotada. O tom de lavanda doentio do tecido o fez pensar brevemente em campos de flores, um pensamento estranhamente suave que ele descartou no mesmo instante.
— Fernanda. Você está deslumbrante como sempre — ele respondeu, sua voz um barítono suave e controlado. Ele roçou os lábios no ar, perto da bochecha dela, sem fazer contato. Um gesto de intimidade oca.
— Ah, pare com isso. Ouvi dizer que seu projeto de energia solar na África superou todas as projeções. Papai não para de falar sobre como você é um gênio.
Papai não para de falar sobre como eu sou uma ameaça, ele pensou, mas o sorriso em seus lábios não vacilou.
— Tivemos sorte. O mercado estava receptivo.
Ele a observava. Os olhos dela famintos por mais atenção, por um fragmento de seu tempo que a validasse perante os outros convidados. Era um jogo que ele conhecia bem. Ele permitiu que seu olhar se demorasse no dela por um segundo a mais, uma pequena dose de validação que a fez corar. Era fácil, quase entediante. Ele era um criador de tendências, não apenas na moda, mas nas emoções alheias. Ele sabia exatamente quais cordas puxar para fazer a melodia que desejava.
Seu olhar varreu o salão novamente, passando por cima do ombro de Fernanda. E então ele os viu. Do outro lado do vasto espaço, perto do bar, estavam seus irmãos. Gael, o mais velho, era uma versão mais bruta e menos refinada do pai. Sua presença era pesada, seu terno parecia sempre um pouco apertado demais nos ombros largos. Ele segurava seu copo de uísque como se quisesse esmagá-lo, e seus olhos, pequenos e escuros, estavam fixos em Yaruan com uma intensidade que era pura inveja não diluída. Ao lado dele, Sérgio, o irmão do meio, era o oposto. Esguio, pálido, com um sorriso fino permanentemente gravado no rosto. Ele era a serpente na grama. Enquanto a hostilidade de Gael era um incêndio florestal, a de Sérgio era um veneno de ação lenta.
Eles não o confrontariam ali. Eram mestres em manter as aparências. Mas Yaruan sentiu o peso de seus olhares. Era uma pressão física, uma promessa de conflito. Eles o odiavam por sua facilidade, por seu brilho, por ter nascido com o instinto para os negócios que eles tentavam desesperadamente imitar com brutalidade e subterfúgios. Um político local, com um terno mal ajustado, tentava puxar conversa com eles, se achando o maioral por estar na presença dos Montfleur. Yaruan quase riu da cena patética.
— Se me der licença, Fernanda. Preciso pegar uma bebida.
Ele se afastou antes que ela pudesse protestar, deixando-a no vácuo de sua partida. Ele não foi em direção ao bar, onde seus irmãos estavam. Em vez disso, caminhou para a parede de vidro que oferecia uma vista de tirar o fôlego da metrópole. As luzes dos carros formavam rios de ouro e rubi nas avenidas lá embaixo. Era uma visão de poder, de movimento incessante, de ambição. Ele se sentia em casa naquele topo, destacado da confusão, observando as engrenagens do mundo girarem.
Aquele mundo era dele para conquistar, mas a vitória parecia cada vez mais vazia. Ele era o Monarca Escarlate, como uma revista de negócios o apelidara uma vez, um título que ele achava tanto lisonjeiro quanto ridículo. Um rei em um castelo de vidro, cercado por súditos bajuladores e traidores da própria família.
Ele se afastou da janela e se aproximou de uma mesa de sobremesas que quase ninguém tocava, peças de arte de açúcar e chocolate. Seus dedos ágeis pegaram um pequeno quadrado de chocolate amargo, setenta por cento cacau, com um único floco de sal marinho no topo. Ele o colocou na boca, deixando o sabor complexo e amargo derreter em sua língua. Era um prazer simples, real, em meio a um mar de falsidade.
Enquanto o chocolate se dissolvia, seus olhos pararam em seu próprio reflexo no vidro escuro da janela. Um homem negro, imponente, vestido para a guerra em um traje de festa. O brilho vermelho de suas abotoaduras parecia pulsar suavemente, em sincronia com seu coração. O presságio. Vermelho era a cor da paixão, do poder, da vida. Mas também do perigo, do sangue e do sacrifício. E Yaruan Montfleur, naquela noite, sentia que estava dançando na linha tênue entre todos esses significados. E, por enquanto, ele estava no controle da dança.
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Se está gostando não deixe de curtir pra mim saber e me segue no coraçãozinho, bjs.
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Atualizado até capítulo 49
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