Capítulo – 3

Lilia

Enquanto sigo minha mais nova — e surpreendente — tia Verusa, que acabei de descobrir também ser a diretora desta academia, seguro minha pequena mochila contra o peito, apertando-a como se fosse um escudo.

Ela caminha à frente, firme, determinada, quase imponente. Já eu… sinto todos os olhares sobre mim. Olhares de seres que eu jamais pensei que existissem fora dos contos de fadas.

Olhares curiosos, desconfiados, alguns até hostis. Lobos, bruxos, híbridos… cada passo meu parece ecoar mais forte nesse corredor estranho, como se eu fosse uma peça deslocada no tabuleiro.

Não sei se rio de nervoso ou se choro de desespero. Tudo aconteceu tão rápido que ainda me sinto presa em um sonho maluco — um daqueles pesadelos que parecem nunca acabar.

E como se não bastasse, minha mente insiste em voltar para ele. O garoto do cabelo prateado. Kael. A intensidade do olhar dourado dele ainda me arrepia. Não sei explicar por quê, mas sinto que aquele esbarrão não foi só um acidente.

Minha tia para diante de uma porta robusta, imponente, e sua voz firme me arranca dos pensamentos:

— Esse será o seu quarto, Lilia. Pode descansar se quiser. No jantar, tudo será explicado a você: como funciona a academia, as regras, e… o que se espera de você aqui.

Assinto em silêncio, sem coragem de dizer nada. Verusa empurra as portas pesadas, e eu fico parada por alguns segundos, observando a escuridão calma do cômodo. Só depois respiro fundo e entro, fechando as portas atrás de mim.

O quarto é simples, mas acolhedor. Duas camas. Uma próxima à janela, já ocupada — lençóis desarrumados, um livro largado sobre o travesseiro. A outra cama, vazia, me espera do outro lado da parede.

Me encosto contra a porta fechada e, exausta, escorrego até me sentar no chão. A mochila cai ao lado. Aperto as pernas contra o peito e respiro fundo.

— Em que tipo de história louca fui cair… — murmuro, quase rindo, quase chorando.

Eu quero chorar. Meu corpo inteiro pede isso. Mas não consigo. Algo dentro de mim grita que não posso desmoronar, não agora. Se eu chorar, se eu me permitir ser fraca, não haverá ninguém para me estender a mão e me levantar.

Já deu para perceber que essa tal de tia Verusa não é nem um pouco sentimental.

— O que será de mim? — sussurro, sentindo os olhos arderem. Mas as lágrimas não caem.

Me forço a levantar e caminho até a janela. Lá fora, um enorme jardim se estende, com árvores antigas e flores que parecem pulsar com magia. É bonito. Assustadoramente bonito.

Olho novamente para a cama ao lado da minha e me pergunto: quem será minha companheira de quarto? Amiga? Inimiga? Outra criatura estranha que vai me olhar como todos os outros?

Talvez eu devesse estar surtando agora.

Porque, convenhamos, mal enterrar a minha mãe e descobrir que sou uma fada, que tenho uma tia diretora de uma academia secreta de magia e que, a partir de agora, minha vida nunca mais será normal… não é exatamente algo que adolescentes costumam enfrentar por aí.

Aperto os dedos contra o peitoril da janela, respirando fundo. Por mais que meu coração esteja em pedaços, preciso continuar de pé.

— De um jeito ou de outro… vou ter que sobreviver a este lugar.

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