Capítulo 4

Aproveitando o breve momento de silêncio na cozinha, Tomaso sorriu, perdido em uma lembrança agridoce. Olhou para Dara, que comia o arroz gelado com um apetite voraz, e pensou em Maria Clara. A gravidez dela havia sido um misto de anseios e alegrias contidas, um período em que a casa parecia transbordar de esperança e planos para o futuro. A memória de Maria comendo guloseimas inusitadas no meio da noite trouxe um calor nostálgico ao seu coração, um contraste com o frio que o consumia há tanto tempo.

— Você gosta de café? — ele perguntou, com sua voz suave.

— Também não pode passar vontade.

Dara parou de comer e sorriu timidamente, balançando a cabeça em negativa. Tomaso coou o café com calma, encheu uma xícara para si e comentou que não conseguia viver sem, dizendo que até dor de cabeça sentia se não tomasse.

Dara, então, confessou que sua bebida favorita era água, e ele prontamente encheu um copo para ela, elogiando a escolha.

Justo quando ela ia pegar o copo, um chamado do lado de fora interrompeu a quietude.

— Ooo Tomas! — uma voz masculina e grave ressoou do quintal.

Tomaso abriu a porta e, para a surpresa de Dara, entrou de volta na cozinha acompanhado por um senhor de cabelos grisalhos e rosto marcado pelo tempo. Era Jack, o jardineiro, um de seus funcionários mais antigos.

— Jack, esta é a Dara. — disse Tomaso, olhando para o homem com um semblante sério.

— Ela é filha de um amigo meu e vai ficar por aqui por algum tempo.

Dara se levantou, envergonhada, mas com um sorriso educado. Estendeu a mão para Jack, que a apertou com gentileza. Ela o cumprimentou de forma tão cordial e simpática que Tomaso não pôde deixar de admirar sua delicadeza. A presença de Dara parecia suavizar o ambiente, preenchendo o espaço antes solitário com uma energia nova e leve.

Jack olhou para a barriga dela com curiosidade e perguntou:

— É menino ou menina?

Dara, com a mesma calma, respondeu:

— Eu não sei. Quero descobrir só quando nascer.

— Boa sorte e muita saúde pra vocês — disse Jack, com um sorriso gentil, antes de ir para o quintal retomar seu trabalho.

Dara lavou a panela do arroz e os copos que usaram. Quando foi procurar os guardanapos para secar a louça, Tomaso a viu.

— Pode deixar a louça aí. — ele disse, com uma voz descontraída, pegando as chaves do carro.

— Quero te fazer um convite.

Dara o olhou, curiosa.

— Você me acompanha até o mercado? — ele continuou.

— Não levo jeito pra fazer compras. Minha vida se resume ao trabalho e a essa casa.

A preocupação transpareceu no rosto de Dara.

— As pessoas... não vão falar? Maldar de você, de mim? Não quero te trazer problemas.

Tomaso se aproximou dela, sério e gentil.

— Não se preocupe com isso. Garanto que ninguém vai falar nada. Você vai trabalhar aqui, ter o seu bebê em segurança. E se alguém perguntar, vamos dizer que você é filha de um amigo meu.

A resposta dele a tranquilizou. Dara assentiu, e um sorriso de alívio e gratidão surgiu em seu rosto, enquanto ela o acompanhava em direção à porta.

Eles seguiram para a sala, e Dara, sentindo-se um pouco mais à vontade, olhou em volta com curiosidade, reparando nas fotos. A casa era tão grande e silenciosa que ela sentiu vontade de xeretar. Ela disse que ia se trocar, se arrumar melhor.

Tomaso olhou para ela com ternura, com seus olhos fixos na barriga que se destacava sob o vestido solto.

— Não precisa se preocupar com isso, Dara. Essa roupa está ótima, e com essa barriga... — ele sorriu de canto, e um brilho suave e nostálgico passou por seus olhos.

— Você está linda.

Dara sorriu timidamente e foi para o quarto de hóspedes. Vestiu um cardigã cinza simples por cima do vestido, arrumou o cabelo em uma trança e calçou a sandália gasta. A ansiedade e a apreensão a consumiam enquanto ela se preparava para sair, mas a curiosidade de conhecer a cidade era maior.

Quando se preparava para descer as escadas, Tomaso apareceu na sala. Sua voz era gentil, mas o tom sério não se desfez.

— Segure no corrimão, menina. Tome cuidado.

Dara sorriu e obedeceu sutilmente, segurando o corrimão com delicadeza. A coragem de fazer perguntas veio à tona.

— Você fica aqui sozinho? Essa casa tem tantos quartos. E esse quintal, é grandão.

Tomaso se dirigiu à porta e a abriu para que ela passasse.

— Sim, eu venho passear. Às vezes. Gosto muito dessa casa e das lembranças.

Dara saiu e parou, um pouco desconcertada, esperando por ele.

— Faz tempo que... sua esposa, né? As flores, e você disse que ia ao cemitério.

Tomaso seguiu para a caminhonete, cabisbaixo e sério.

— Faz! — respondeu, com a voz embargada.

Ele abriu a porta para ela e estendeu a mão para ajudá-la a entrar. Dara aceitou a ajuda, apreensiva, mas a curiosidade foi mais forte. Quando Tomaso entrou e ligou o carro, ela perguntou:

— E você se casou de novo? Notei que usa aliança.

Ele a olhou por alguns instantes, com o olhar pesado, e ligou o carro.

— Não. — respondeu, apertando o volante, visivelmente incomodado. Ele suspirou, irritado, mas Dara não se intimidou e perguntou, desconfiada de tanta gentileza.

— Posso perguntar do que ela faleceu?

Tomaso apertou o volante e, sério, preferiu mentir.

— Acidente. — respondeu.

Dara permaneceu em silêncio. Ele parou o carro em uma agropecuária e, ao descer, disse que não demoraria. Voltou com dois sacos de terra, que colocou na caçamba da caminhonete. A camiseta estava com algumas manchas, e Dara notou o descaso de Tomaso consigo mesmo.

No mercado, ele parou o carro e, em silêncio, abriu a porta para ajudá-la a descer. Dara, constrangida e emotiva, se desculpou:

— Me perdoe por ter falado aquelas coisas. Eu sempre falo demais.

Ele sorriu sutilmente, percebendo que ela estava a ponto de chorar.

— Você não tinha como saber. Vamos às compras. Você sabe cozinhar?

Dara enxugou os olhos marejados e respondeu que adorava cozinhar. Ele pegou dois carrinhos, entregando um para ela.

— Você leva os produtos de limpeza e higiene, e eu pego o resto. Então, Dara, você trouxe alguma coisa para o bebê na mala?

Ela entrou no mercado, cabisbaixa.

— Não, quer dizer, sim... um macacão, e só. Eu ia até a igreja pedir doações.

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Comments

Fafa

Fafa

A pobre praticamente fugiu com a roupa do corpo, nem teve oportunidade de fazer o enxoval do bebê 😕

2025-09-12

2

Maria Fatima

Maria Fatima

acho que é pq ela está grávida, a esposa dele morreu de parto

2025-09-11

4

Marluce Machado

Marluce Machado

Espero que dê tudo certo pra Dara. Não vi necessidade do Tomas mentir pra Dara.

2025-09-11

3

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