A casa, era enorme e linda, com um jardim imenso, e silenciosa, parecia ainda mais fria diante da vulnerabilidade de Dara. Ele desceu do carro, pegou a mochila dela e a conduziu até a entrada, sem tocar em seu corpo, mas com um cuidado que não se via há muito tempo em seus gestos.
Enquanto Tomaso andava um pouco desnorteado sem jeito, procurando uma manta, Dara observava o ambiente com olhos cautelosos. Era a primeira vez em meses que se sentia minimamente segura, mesmo sem saber se podia confiar naquele homem.
Ela vinha de longe. De uma cidade grande, onde os prédios eram altos e as sombras mais ainda. Estava fugindo do ex-marido, um homem alcoólatra e violento, que transformava cada noite em um campo de batalha. As marcas em seu corpo já haviam desaparecido, mas as da alma ainda sangravam em silêncio.
Ela até tinha familiares, sua mãe, uma mulher amarga e distante, nunca quis ser mãe. Crescer sob sua indiferença ensinou Dara a sobreviver sozinha. Quando descobriu a gravidez, não teve apoio, nem abrigo. Apenas medo. E foi esse medo que a fez fugir, por meses, de cidade em cidade, escondendo o bebê do pai, buscando um lugar onde pudesse dar à luz em paz.
Agora, ali, diante de um estranho que parecia tão quebrado quanto ela, Dara se permitiu respirar. Ainda tremia, mas não era só pelo frio. Estava nervosa, apreensiva.
Tomaso, calado e pensativo, entrou em seu quarto, viu a pasta com os documentos, ainda estava sobre a cama, agora esquecida. Ele pegou uma manta e voltou para a sala, observou Dara sentada no sofá, ainda tremendo, com os olhos baixos e os braços em volta da barriga.
Ele se aproximou devagar, sentando-se na poltrona à frente.
— Toma, se aqueça.
— Qual é o seu nome? — perguntou, com a voz baixa, mas firme.
Ela hesitou por um instante, depois respondeu:
— Dara.
Ele se levantou curioso.
— Você não mora por aqui? Veio encontrar alguém?
Dara engoliu seco. Seus olhos se moveram rápido, como se procurassem uma resposta segura.
— Não... eu sou da cidade grande. Vim pra cá procurando trabalho. Fui roubada... levaram meu dinheiro, meu celular...
Tomaso não reagiu de imediato. Apenas a observava, como se tentasse decifrar o que havia por trás daquela história, que parecia mentira. Antes que pudesse dizer algo, Dara se curvou repentinamente, apertando os olhos e soltando um gemido contido.
— Está tudo bem? — ele se aproximou, preocupado.
Ela estendeu a mão instintivamente, e Tomaso segurou com firmeza. A contração passou, mas ela continuou nervosa, respirando rápido.
— São só... contrações de treinamento... eu acho... — disse, tentando se recompor.
— Eu... eu não sei ao certo. Eu abandonei o pré-natal há meses. Não sei quando o bebê vai nascer...
— Não fiz exames, mal sei, se ele ou ela, é saudável.
A voz dela falhou. As lágrimas vieram sem aviso, escorrendo silenciosas pelas bochechas.
— Eu não tenho ninguém... — confessou, aos prantos.
— Minha mãe nunca quis ser mãe. Nunca me ajudou. E o pai do bebê... eu estou fugindo dele. Ele é violento. Eu só queria um lugar seguro...
— Essa é a verdade moço, eu juro.
Tomaso sentiu um nó na garganta. A dor dela, tão crua e exposta, o atingiu como um soco. Ele se aproximou, parou diante dela, segurando sua mão.
— Ei... calma. Você está segura agora. — disse, com uma firmeza gentil.
— Eu vou te ajudar, Dara. Mas primeiro, você precisa se acalmar. E se cuidar.
— Está segura aqui.
Ela o olhou com olhos marejados, surpresa com a gentileza inesperada.
— Obrigada... — murmurou, constrangida.
— Eu não sou uma pessoa encostada, sempre trabalhei.
Ele apontou para as escadas:
— Vou te levar para o quarto de hóspedes. Lá tem um banheiro. Tome um banho quente, vai te fazer bem. Enquanto isso, eu preparo algo pra você comer.
— Eu sei, que estar grávida, não é fácil.
Dara assentiu, ainda tímida, e se levantou com cuidado. Tomaso a conduziu até o quarto, andando próximo sendo protetor, abriu a porta e acendeu a luz. O ambiente era rústico, mas acolhedor. Ela entrou devagar, olhando em volta como quem não acreditava estar ali. Tinha uma cama de casal, televisão, aparelho de som, janelas grandes que levavam a varanda. Ela colocou a mochila na cama.
— Se precisar de algo, me chame. Tomaso, meu nome, mas pode me chamar de Tomas. — disse ele, antes de fechar a porta.
Dara ficou parada por um momento, olhando para o espelho embaçado do guarda roupa. Tocou a barriga com carinho e medo.
— Você ainda, não pode nascer ok. Espere mais um pouco. Por favor.
O bebê estava quieto, ela foi para o banheiro, trancou a porta e tirou as roupas, ficou encantada com a banheira e se arriscou a tentar usar, entrou antes mesmo de encher, ficou se deliciando na água pelando.
O banho quente parecia um alívio distante, mas ela sabia que precisava aceitar a ajuda. Por ela. E pelo bebê.
Enquanto isso, Tomaso foi para a cozinha, pensativo. Algo dentro dele havia mudado. E ele sabia que aquele encontro não era por acaso. Ainda mais, ela estando grávida.
Na cozinha, Tomaso abriu os armários e a geladeira, encontrando apenas o essencial.
Fez arroz, fritou um pedaço de carne, com os temperos básicos. Era o que tinha. Cozinhou em silêncio, concentrado, como se aquele gesto simples fosse uma forma de organizar os próprios pensamentos. O cheiro do bife se espalhou pela casa, misturando-se ao cheiro de terra molhada.
Ele arrumou a bandeja com cuidado, arroz, bife, um copo de água, talheres limpos. Subiu as escadas e parou diante da porta do quarto de hóspedes. Bateu levemente.
— Dara... preparei algo pra você comer — disse, com a voz baixa, mas firme.
— Pode abrir? Por favor?
Dara estava deitada e usando um vestido amarelo de alças, simples, mas que iluminava sua pele negra, ainda úmida do banho. Os cabelos estavam umidos, soltos, e seus olhos, embora cansados, pareciam menos assustados.
Ela abriu a porta devagar.
Tomaso a observou por um instante, curioso. Havia algo nela que o desconcertava, uma mistura de fragilidade e força que ele não sabia como decifrar. Estar grávida, era o principal.
— Você gostaria de ir ao médico? Tem um hospital aqui. — perguntou, entrando no quarto e colocando a bandeja sobre a pequena mesa com duas cadeiras.
Dara se aproximou devagar, apreensiva. Sentou-se com cuidado, olhando para a comida como se não soubesse se podia aceitar.
— Não é necessário... — respondeu, evitando o olhar dele.
— Eu estou bem. Só preciso descansar. Vou dormir aqui hoje e... amanhã cedo eu vou embora.
— Não precisa se preocupar.
Tomaso franziu o cenho, mas não insistiu. Havia algo na forma como ela dizia aquilo, como se estivesse com medo, de tudo.
— Coma. Você precisa se alimentar, por dois. — disse, puxando a outra cadeira e sentando-se à frente dela.
Dara pegou o garfo com mãos trêmulas, agradecendo com um aceno tímido.
— Obrigada... por tudo isso. Eu não esperava... ninguém parar por mim.
— Isso é coisa de interior.
Tomaso não respondeu de imediato. Apenas sorriu e concordou, a observou, como se tentasse entender o que a vida havia feito com ela e por que, naquele dia, ela havia cruzado seu caminho. Justamente, quando ele ia desistir.
Dara começou a comer devagar, como se cada garfada exigisse esforço. O arroz estava simples, o bife bem passado, mas para ela, era mais do que comida, era conforto. Tomaso ficou olhando para as próprias mãos, os dedos entrelaçados, como se buscasse respostas nas linhas da pele.
O silêncio entre eles era desconfortável. Era como se ambos soubessem que havia coisas demais que não deviam ser ditas.
— O pai do bebê... — Tomaso disse, sem levantar os olhos.
— O que houve?
Dara parou de mastigar. Engoliu com dificuldade e pousou o garfo sobre a comida. Respirou fundo, como quem se prepara para abrir uma ferida.
— Eu fui casada por anos. — começou, com a voz baixa.
— Achei que ele mudaria. Que o amor podia consertar alguém. Mas ele só piorava. Bebia todos os dias. Me humilhava. Me machucava.
— Eu já perdi outro bebê, de tanto apanhar.
Tomaso ergueu os olhos, atento.
— Quando descobri que estava grávida... — ela continuou, com os olhos marejados
— Ele surtou. Disse que eu o estava prendendo, que não queria ser pai. Tentou me bater... Disse que se eu perdesse o bebê, seria melhor pra todo mundo.
Ela apertou os lábios, tentando conter o choro, mas não conseguiu. As lágrimas escorreram silenciosas, e ela as enxugou.
— Foi aí que eu fugi. Peguei o pouco que tinha e fui embora. Sem olhar pra trás. Eu só quero que meu filho nasça em paz. Longe dele. Longe de tudo.
— Vou trabalhar e dar um jeito.
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Atualizado até capítulo 34
Comments
Fafa
Coitada!!! Ninguém merece uma vida tão infeliz como essa que ela teve. Humilhada, apanhando, sem carinho e nem apoio da própria mãe, e ainda perdeu seu bebê, muito triste 😢. Agora um tem a chance de ser a salvação do outro.
2025-09-10
2
Mônica
Acalma teu coração Dara, o universo esta conspirando a seu favor.
Vc irá da a luz a seu filho, e mesmo sem saber irá devolver a vida ao Tomaso.
2025-09-09
4
MARIA RITA ARAUJO
quantos homens escrotos existem neste mundo igual ao marido dela!? quantas Daras existem neste mundo que não conseguem fugir e acabam morrendo pelos parceiros!?😔
2025-09-10
1