O bar começava a esvaziar lentamente. As conversas se tornavam mais baixas, os passos ecoando no chão de madeira, e a música agora preenchia os espaços vazios de forma quase imperceptível. Eleonor continuava atrás do balcão, atendendo os últimos clientes com o mesmo sorriso tranquilo que havia me encantado desde o primeiro momento. Eu observava cada gesto, cada inclinar de cabeça, cada pequeno cuidado que ela tinha com os copos e os pratos, e sentia uma estranha mistura de fascínio e conforto.
— Você sempre trabalha tão tarde? — perguntei, tentando soar casual, embora minha atenção estivesse totalmente nela.
— Nem sempre — respondeu, secando um copo com um pano limpo. — Mas as noites de sexta são mais movimentadas, então eu acabo ficando até tarde. — Ela sorriu levemente, sem que houvesse nenhuma pressão para prolongar a conversa. — Você gosta de vir aqui?
— Sim — disse, tomando mais um gole do uísque. — É tranquilo, discreto. Gosto de lugares assim. Não sou muito de barulho.
Ela assentiu, e por um instante ficamos em silêncio, apenas observando o movimento ao redor. Era um silêncio confortável, daqueles que não pedem preenchimento, apenas aceitação.
— Parece que você está tentando se distrair de alguma coisa — comentou, inclinando-se um pouco sobre o balcão, o cabelo caindo de leve sobre os ombros. — Posso estar errada, mas… tem algo em você que não combina com estar relaxado apenas por estar aqui.
Eu ri, um pouco surpreso com a percepção dela.
— Você está certa. — Dei de ombros, tentando disfarçar a inquietação. — Houve uma semana complicada.
— Sinto muito — disse ela, simples, sem falsa compaixão. — Mas pelo menos você encontrou um bar e alguém para conversar, certo? — Ela riu, e o som era tão natural que me fez esquecer do resto do mundo por alguns segundos.
— Exatamente — respondi, sorrindo de volta. — E, honestamente, estou gostando da sua companhia. Mais do que deveria, talvez.
Ela ergueu as sobrancelhas, surpresa, mas não de forma provocativa, apenas genuinamente curiosa.
— Mais do que deveria? — repetiu, cruzando os braços sobre o balcão. — E por que seria “mais do que deveria”?
— Porque normalmente não paro em bares para conversar com estranhos — admiti, o tom leve, mas carregado de verdade. — Mas conversar com você… é fácil. Sem complicação, sem jogo. Apenas… natural.
Ela sorriu de novo, um sorriso que parecia iluminar o ambiente inteiro.
— Gosto de naturalidade — disse, entregando-me mais um drink que acabara de preparar. — A vida já tem complicações demais.
Conversa vai, conversa vem, percebemos que o bar estava praticamente vazio. Os últimos clientes foram embora, e o silêncio ganhou um peso diferente, mais íntimo. Eleonor começou a recolher os copos e talheres, e eu notei que não havia pressa alguma nela, mesmo sendo tarde.
— Eu posso te acompanhar até em casa? — perguntei de repente, antes de pensar demais. — Um gesto de cavalheirismo, digamos assim.
Ela hesitou por um instante, depois sorriu levemente.
— Está bem, se você quiser.
Paguei a conta, e eu caminhei ao lado dela até a saída. A noite estava fresca, o ar da cidade trazendo uma sensação de liberdade inesperada. Enquanto caminhávamos, percebi que não havia necessidade de palavras excessivas; cada passo ao lado dela parecia natural, fluido, confortável.
— Você mora perto daqui? — perguntei, tentando manter a conversa casual.
— Algumas quadras — respondeu, olhando para frente. — Nada que uma caminhada rápida não resolva.
Caminhamos por ruas quase desertas, iluminadas apenas pelos postes amarelos, e eu sentia cada gesto dela, cada inclinar de corpo ao caminhar, como se fosse impossível não notar a harmonia natural que emanava de cada movimento. Era bela sem esforço, atraente sem perceber. Eu não precisava flertar, não precisava pressionar; simplesmente estar ali, acompanhando-a, era o suficiente.
— Obrigada por me acompanhar — disse ela, quando chegamos à porta de seu prédio. — É gentil da sua parte.
— Não há de quê — respondi, segurando a maçaneta por um instante. — É apenas… bom estar com alguém que torna tudo mais simples.
Ela olhou para mim, e naquele instante, havia algo mais que palavras não conseguiam traduzir. Um reconhecimento silencioso de que, talvez, algo estivesse nascendo entre nós, sem pressa, sem promessas, apenas na simplicidade do momento.
— Quer entrar? — perguntou de repente, inclinando a cabeça e abrindo a porta do prédio com um gesto casual, mas que carregava uma intimidade inesperada.
Fiquei surpreso, mas não hesitei.
— Claro — respondi, com um sorriso que mal conseguia controlar.
O saguão era pequeno, mas aconchegante, iluminado por luzes suaves que criavam uma sensação de calor. Ela caminhava à minha frente com passos leves, e cada movimento continuava a me prender de um jeito que eu não entendia completamente. Não havia flertes, apenas uma proximidade natural que crescia a cada instante.
— Fique à vontade — disse, abrindo a porta do apartamento. Um cheiro sutil de flores preencheu o ar, fresco e delicado, que só intensificava a sensação de estar entrando em um espaço genuíno, pessoal, sem artifícios.
— Obrigado — murmurei, entrando. Meu olhar percorreu o ambiente de forma rápida: cada detalhe era simples, mas cuidadosamente pensado. Livros empilhados de forma organizada, fotos emolduradas discretamente nas prateleiras, plantas que traziam vida ao espaço. Ela não precisava de exageros para ser encantadora, e isso me deixava ainda mais fascinado.
— Quer beber algo? — perguntou, olhando para mim com naturalidade, sem qualquer constrangimento.
— Não, estou bem — respondi, segurando o uísque que ainda estava no bolso do casaco. — Só… obrigado por me deixar entrar.
Ela sorriu, e aquilo me fez sentir uma mistura de nervosismo e curiosidade que eu não sentia há muito tempo.
— Fique à vontade, então. Sente-se onde quiser.
Sentei-me no sofá, e ela se acomodou em uma poltrona próxima, não tão perto a ponto de invadir meu espaço, mas suficientemente perto para que eu sentisse sua presença de forma intensa. O ar parecia vibrar com uma energia silenciosa; cada gesto dela, cada inclinar de corpo, cada leve movimentar de mãos carregava uma naturalidade que se tornava hipnotizante.
— Então, você gosta de Nova York ou prefere lugares mais tranquilos? — perguntou, quebrando o silêncio de maneira leve, quase casual.
— Gosto daqui — respondi, observando-a enquanto falava. — Mas acho que às vezes é bom escapar do barulho, sabe? Encontrar momentos como este, onde tudo parece mais simples.
— Concordo — disse ela, sorrindo de forma suave. — É raro encontrar pessoas que apreciem essa simplicidade.
Houve um instante de silêncio confortável, e eu percebi que não queria que ele terminasse. Não havia pressa, não havia expectativa, apenas a sensação de que, ali, as coisas poderiam ser reais sem esforço.
— Eu gosto de conversar com você, Eleonor — admiti, e não havia flerte na minha voz, apenas honestidade. — Não é sobre tentar impressionar ou flertar, só… sobre estar aqui. Com você.
Ela olhou para mim, e naquele momento, algo mudou. Havia um brilho discreto nos olhos dela, um reconhecimento silencioso do que estávamos compartilhando.
— Eu também gosto — disse, simples, sem exageros. — E gosto de como tudo parece natural.
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Atualizado até capítulo 67
Comments
Tereza de Paula
ele não tem carro não um cará rico e andando apê sem segurança.
2025-09-10
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