As imagens saltaram diante dos meus olhos: Helena em uma praia paradisíaca, cercada pelas amigas, mas também com dois homens que eu não conhecia. Rindo, dançando, bebendo. Em uma das fotos, um deles a segurava pela cintura de uma forma íntima demais para ser apenas um desconhecido. O ar me faltou. Senti o estômago embrulhar, como se tivesse levado um soco.
— Droga… — murmurei, empurrando o celular de volta para ele. — Isso não pode ser real.
— É real, Chris. Eu queria estar enganado, mas não estou. Ela está lá se divertindo, enquanto você fica aqui acreditando que era só um tempo.
A raiva começou a me consumir, queimando por dentro como fogo descontrolado. Eu me levantei bruscamente, ignorando os olhares curiosos ao redor.
— Ela disse que precisava respirar. Disse que estava sufocada. Mas, pelo visto, o que ela queria mesmo era liberdade para fazer o que quisesse sem peso na consciência.
Ethan segurou meu braço antes que eu fosse embora.
— Escuta, eu sei que dói. Mas talvez seja a hora de você perceber que essa relação não era o que você acreditava. Você sempre foi fiel, sempre esteve presente, e ela… bem, ela fez a escolha dela.
Fechei os olhos, tentando conter a fúria e o amargor que se misturavam dentro de mim. Pela primeira vez, senti o gosto metálico da derrota em algo que não tinha nada a veR com negócios. No amor, eu não tinha controle, não tinha garantias, não tinha cláusulas que me protegessem. Quando saí do bar naquela noite, caminhando pelas ruas iluminadas da cidade, percebi que o “tempo” que Helena queria era, na verdade, a desculpa perfeita para viver outra vida enquanto ainda me mantinha preso na coleira da esperança. E, naquele instante, eu soube que algo em mim havia se partido de um jeito que nunca mais voltaria a ser o mesmo.
O trajeto do bar até minha cobertura foi mais longo do que deveria. Não porque houvesse trânsito, mas porque a revolta dentro de mim não me deixava enxergar a cidade da mesma maneira. As luzes, que sempre me pareceram um espetáculo de ordem e poder, agora se tornavam borrões irritantes que aumentavam a minha sensação de impotência. Eu dirigia com força, como se o motor pudesse acompanhar a fúria que me queimava por dentro. Cada lembrança daquelas fotos — o braço de um estranho em volta da cintura de Helena, o sorriso dela estampado sem remorso — era como sal em uma ferida aberta. Quando cheguei ao edifício, o porteiro me cumprimentou com a mesma formalidade de sempre, mas não consegui sequer responder. Atravessei o saguão e entrei no elevador como se estivesse em piloto automático. No espelho, meu reflexo denunciava o caos: olhos vermelhos, mandíbula rígida, a gravata desalinhada depois de horas de tensão.
Abri a porta da cobertura e fui recebido por um silêncio quase sufocante. Só quando caminhei até a sala percebi que não estava sozinho. Sentada no sofá, com uma xícara de chá entre as mãos, estava minha irmã mais nova, Claire.
— Você demorou — ela disse, erguendo os olhos do celular e analisando meu rosto. — E, pelo jeito, não foi uma boa noite.
Joguei as chaves sobre a mesa de centro e me afundei no sofá oposto ao dela. Respirei fundo, mas não havia ar suficiente para aliviar o peso no peito.
— Eu descobri o porquê de Helena ter pedido aquele maldito “tempo” — respondi, com a voz grave.
Ela arqueou as sobrancelhas, sem pressa de falar.
— Imagino que não foi nada bonito.
— Bonito? — soltei uma risada amarga. — Claire, ela está lá, em uma praia qualquer, cercada de amigos e… de homens. Vi fotos. Um deles a segurando pela cintura como se já a conhecesse intimamente. E eu aqui, feito um idiota, acreditando que era apenas uma fase.
Claire pousou a xícara na mesa e se inclinou para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos.
— Então ela usou a viagem como desculpa.
— Exato. — Passei a mão pelo rosto, tentando me conter. — Eu me sinto enganado, ridículo. Como não percebi antes? Como não enxerguei que ela estava escorregando pelos meus dedos há meses?
Ela me olhou com aquela calma que sempre me irritava e, ao mesmo tempo, me salvava.
— Porque você acreditava, Chris. Você queria acreditar. E não há nada de ridículo nisso. Só prova que você foi honesto, enquanto ela escolheu não ser.
— Honesto não paga a conta da dor que eu estou sentindo — retruquei, deixando escapar um suspiro pesado. — Eu sou um homem que controla impérios, Claire. Que negocia contratos milionários sem perder o sono. Mas bastou uma mulher para me fazer perder o chão.
Ela sorriu de leve, mas não havia ironia, apenas compreensão.
— Porque você pode ser um magnata, um estrategista, um homem poderoso… mas continua sendo humano. E o coração não funciona como seus contratos, não obedece cláusulas nem prazos.
Olhei para ela, tentando absorver suas palavras, mas o orgulho dentro de mim insistia em resistir.
— O que você quer que eu faça, então? Aceite calado? Esqueça tudo e siga em frente como se não tivesse sido traído?
— Não, Chris. — Ela balançou a cabeça. — Eu quero que você se lembre de quem você é. Que não deixe essa ferida te definir. Se Helena escolheu agir assim, isso fala mais sobre ela do que sobre você. A dor é inevitável, mas o que você faz com ela… isso sim depende de você.
— Fácil falar quando não é você quem foi exposto ao ridículo — respondi, a voz carregada de amargura. — Quando não é a sua vida que está estampada em fotos, em risos que deveriam ser meus.
Claire se levantou e veio até mim, colocando uma mão firme em meu ombro.
— Olhe para mim. Você não está no ridículo, Chris. Você está machucado. E não há vergonha em admitir isso. Mas não permita que essa mágoa destrua a sua visão de si mesmo. Você não é um homem enganado. Você é um homem livre agora. Livre para escolher algo real, para encontrar alguém que não precise de desculpas para estar ao seu lado.
Fiquei em silêncio, encarando o chão. Parte de mim queria acreditar no que ela dizia. Parte de mim queria se agarrar à fúria, porque era mais fácil lidar com a raiva do que com a vulnerabilidade. Por fim, murmurei:
— Não sei se consigo acreditar em alguém de novo.
Claire apertou meu ombro, firme.
— Você não precisa acreditar em alguém agora. Só precisa acreditar em você. O resto vem no tempo certo.
As palavras dela ecoaram em minha mente mesmo depois que ela se afastou. Pela primeira vez naquela noite, percebi que, talvez, o verdadeiro “tempo” não fosse o que Helena havia pedido. Talvez fosse o que eu precisasse para mim mesmo.
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Atualizado até capítulo 67
Comments
Tereza de Paula
começando ler hoje esse livro 8/9/025 vamos ver se e bom mesmo.
2025-09-09
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Gloria Souza
começando hoje 8/9/25 vamos nessa galera parece boa a história
2025-09-09
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Lenir Rodrigues
começando hoje 8/9/025
2025-09-09
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